Acesso ao ensino superior: um quarto em Lisboa custa mais do dobro do que em Braga

Alojamento é o custo mais pesado para os estudantes. Tendência dos preços da habitação é de subida em todo o país.

Foto
Joana Goncalves

Entrou no ensino superior? Consulte aqui

O alojamento é o custo mais pesado para os estudantes que entram no ensino superior. E é também aquele em que as diferenças de preços entre as principais cidades universitárias são mais evidentes. Se uma refeição, na cantina ou num restaurante nas imediações do campus, não varia muito de lugar para lugar, o preço de um quarto em Lisboa é o triplo do que é cobrado em Vila Real ou na Covilhã, por exemplo.

Arrendar um quarto individual numa casa particular na capital custa, em média 450 euros – mais do dobro do que custa em Braga (200 euros). No Porto, o preço está nos 275 euros mensais. Este valor tem crescido a uma velocidade “elevada” nas duas principais cidades do país. “Há quatro anos, o mesmo quarto custava menos 100 euros”, garante o presidente da Federação Académica do Porto (FAP), João Pedro Videira. Foi também essa a variação dos custos com o alojamento vivida na capital, segundo informa a Federação Académica de Lisboa (FAL).

Tantos os dados recolhidos pela FAL como os da FAP reportam a Dezembro do ano passado. A percepção dos dirigentes de ambas as estruturas é de que, entretanto, os preços voltaram a subir. “Pelos exemplo que vou tendo neste início de ano lectivo, já há alunos a pagar quartos a 550 ou 600 euros”, conta João Rodrigues, presidente da FAL.

PÚBLICO -
Aumentar

O ajustamento do mercado de arrendamento à nova lei e ao “boom do turismo” em Lisboa são apontados como os principais responsáveis. Por outro lado, o número de camas disponíveis nas residências universitárias é reduzido (ver texto à parte) e não sofre alterações há mais de 20 anos. O resultado desta “combinação explosiva”, como lhe chama Rodrigues, é que muitos estudantes não chegam sequer a tentar concorrer ao ensino superior em Lisboa. “Quantos e quais ficam de fora?”, pergunta o presidente da FAL.

A resposta chega do Porto, pela voz do presidente da FAP: “Só vem estudar para o Porto os filhos das famílias que têm mais posses ou as que estão dispostas a um esforço financeiro, que até pode passar pelo crédito, para que possam ter os filhos na instituição de ensino que querem”.

Se em Lisboa e Porto o impacto do custo da habitação na factura da frequência do ensino superior é mais evidente, nas restantes cidades universitárias sobre as quais o PÚBLICO se debruçou para este trabalho – Braga, Vila Real, Coimbra e Covilhã – o alojamento também tem sofrido aumentos sucessivos nos últimos anos.

Em Braga, um quarto numa casa privada custa em média 200 euros por mês, mais 50 euros do que há quatro anos. Os números são da Associação Académica da Universidade do Minho, que esta segunda-feira apresenta um estudo sobre esta matéria.

Em Vila Real, a média do custo de um quarto apurada pelo PÚBLICO – junto dos serviços de Acção Social da Universidade – fixa-se em 160 euros. Este valor foi calculado já no início do novo ano lectivo e é 30 euros mais elevado do que o praticado no ano passado. “Os senhorios, no momento da renovação dos contratos, têm sempre aumentado entre 50 e 100 euros por casa”, conta o presidente da Associação Académica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, António Vasconcelos.

A habitação é a parcela mais importante – e variável – dos custos com a educação superior. Essa era também a conclusão de um estudo realizado por investigadores do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e publicado no ano passado, segundo o qual os estudantes que estão fora de casa gastam, em média, mais 781 euros por ano dos que os colegas que continuam a viver junto do agregado familiar.

De acordo com a mesma investigação, estudar no ensino superior custa, em média, 6445 euros anuais por estudante às famílias. Para este cálculo são contabilizadas as propinas e outros custos com educação (taxas, livros, equipamentos e material) e também os custos de vida, como alojamento alimentação e transportes.

Sugerir correcção
Ler 22 comentários