Conferência sobre o clima no Porto sem protestos e sem perguntas

A conferência de cientistas que negam a interferência das actividades do ser humano nas alterações climáticas começou esta quinta-feira sem protestos. “Têm de começar a aproveitar a vossa vida e a não se preocuparem com as emissões de CO2”, pediu um dos oradores.

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Cristopher Essex, professor catedrático de matemática aplicada. "O recente clima extremo da Europa é normal: já vimos isto tudo antes" Nelson Garrido

Sem protestos – pelo menos audíveis ou visíveis –, sem perguntas. A conferência sobre alterações climáticas que, esta semana despertou muita atenção mediática e forte oposição entre a comunidade científica, arrancou sem os “alarmistas climáticos” que a organização esperava na audiência. Sentados no anfiteatro da Faculdade de Letras do Porto, praticamente cheio, estavam alguns alunos de mestrado, alguns docentes e, em grande maioria, os cientistas que esta sexta-feira e no sábado vão apresentar as investigações e teorias científicas que publicaram e que os levam a discordar do consenso científico sobre o papel das emissões de dióxido de carbono (e, consequentemente, das actividades do ser humano) no aquecimento global. 

Maria Assunção Araújo, a professora catedrática e uma das principais responsáveis pela organização do evento, voltou a dizer ao PÚBLICO que convidou “muita gente” e que “veio quem quis vir”. “Há quem pense que já sabe tudo e por isso não precisa de aprender nada”, acrescentou a geógrafa de formação que lecciona, entre outras, Geografia da Europa e Quaternário e Mudanças Globais. “Uma coisa lhe digo: em relação ao clima, nós só sabemos que nada sabemos. Ou melhor, sabemos muito pouquinho.”

No discurso de abertura, Maria Assunção Araújo dirigiu-se aos jornalistas na sala para dizer que, ali, estavam “todos fartos do mainstream” – conforme já havia dito em entrevista ao PÚBLICO – e que ansiavam por “ideias frescas”, diferentes das “que vemos nos jornais e na televisão”.

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Maria da Assunção Araújo, professora catedrática de Geografia e uma das organizadores da conferência que decorre de 7 a 8 de Setembro Nelson Garrido

Esta mesma ideia foi reiterada por Cristopher Essex e Piers Corbyn, os dois primeiros oradores, apelidados de “negacionistas” que figuravam no extenso programa da Basic Science  of  Climate  Change: How Processes in  the Sun, Atmosphere  and  Ocean  affect  Weather  and  Climate (em português, algo como Ciência Básica de um Clima em Mudança: como processos no Sol, atmosfera e oceano afectam a meteorologia e o clima). O professor de Matemática Aplicada canadiano e o meteorologista e físico inglês felicitaram o autodenominado Independent Comittee on Geoethics por apoiar o “florescimento de novas ideias e teorias originais”.

“A teoria do CO2 está morta, em termos de investigação”, proclamou Corbyn, dizendo que “não há qualquer prova que o dióxido de carbono direccione a temperatura. “É má ciência e má política”, defende, alegando que a “história do CO2” não só é um erro de juízos de importância de factores (como a maior parte das teoria que falhou) como uma “violação de leis da física básicas”. “A ciência mostra que aquecimento global provocado pelo ser humano (devido às emissões de CO2) é um disparate” e “uma conspiração louca”.

Durante a apresentação de 20 minutos, que começou às 11h, o meteorologista (e irmão mais velho do líder do Partido Trabalhista), Jeremy Corbyn, mostrou que “não há nada de anormal” com as variações de temperatura e com os fenómenos meteorológicos mais recentes. Com um globo de plástico ao lado, o investigador inglês defendeu que a temperatura do planeta vai descer “nos próximos 20 a 30 anos”, levando a Terra a entrar naquilo a que chamou “uma mini-idade de gelo”. Já segundo as Nações Unidas, se nada for feito em contrário, a temperatura média da superfície do mundo provavelmente ultrapassará três graus centígrados neste século. Corbyn, no entanto, defende que “não há nada de especial sobre os últimos dez mil anos, a não ser que são mais frios que os nove mil anteriores.”

"Agentes da loucura"

Sarcástico, descansou a sala dizendo que “a ciência nunca avançou com o consenso” e que está ciente que os cientistas presentes naquela sala, onde ele se inclui, são vistos como “agentes da loucura” pela maioria da comunidade científica e pelo “lóbi verde”. 

“O que tem de se seguir é uma guerra contra o que está instituído na academia”, lia-se, a vermelho, num dos diapositivos que serviram de apoio à apresentação. “Uma nova academia independente que avance com provas credíveis é precisa.”

A conclusão? “Têm de começar a aproveitar a vossa vida e a não se preocuparem com as emissões de CO2”, resumiu, provocando uma onde de risos (consensuais?) na plateia. Já de saída, não deixamos de notar que o café foi servido em chávenas e os sumos em copos de vidro, ao contrário de uma outra cimeira do clima que, há dois meses, foi muito criticada por servir as refeições dos congressistas embaladas em grandes quantidades de plástico descartável. À porta, dois cartazes colados à entrada da faculdade divulgavam a Marcha Mundial pelo Clima, que se realiza no Porto, em Lisboa e em Faro, em simultâneo à conferência, no sábado, às 17h. 

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