Bolsonaro já falou após esfaqueamento: "Nunca fiz mal a ninguém"

Candidato já falou sobre o ataque num vídeo gravado a partir do hospital. Cirurgia foi bem-sucedida mas estado do candidato presidencial "continua a ser delicado".

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EPA/RAYSA LEITE

O candidato de extrema-direita à presidência do Brasil, Jair  Bolsonaro, está internado em estado grave, mas estável, depois de ter sido submetido a uma cirurgia de urgência “bem-sucedida”.

Bolsonaro foi esfaqueado durante um comício esta quinta-feira, na cidade de Juiz de Fora, estado brasileiro de Minas Gerais.

Bolsonaro em vídeo: "Nunca fiz mal a ninguém"

A partir da cama de hospital e num vídeo pelo senador Magno Malta (do Partido da República–Espírito Santo) o candidato recordou o ataque e agradeceu o trabalho da equipa médica que o tratou. No momento sentiu "apenas uma pancada", como num jogo de futebol. Só depois se apercebeu do que tinha acontecido. "A dor era insuportável." "Eu me preparava para um momento como esse, porque você corre riscos", disse o candidato, que falava ainda com dificuldade.

"Como é que o ser humano é tão mau assim? Eu nunca fiz mal a ninguém", ouve-se na mensagem.

Alta vai demorar entre sete a dez dias

“Ele fez a cirurgia, que foi bem-sucedida e está a reagir bem”, disse à Reuters por telefone o general Hamilton Mourão, candidato à vice-presidência da República junto com Bolsonaro. “Mas o seu estado continua a ser delicado.”

De acordo com médico da Santa Casa de Juiz de Fora, Luiz Henrique Borsato, o candidato presidencial deverá ter de ficar internado durante pelo menos uma semana.

"Antes de uma semana ou dez dias, ele não vai receber alta", afirmou o médico em declarações à Globo, ressalvando que o prazo é uma estimativa e que tudo dependerá de como evoluir a recuperação.

De acordo com um dos filhos do candidato, Flavio Bolsonaro, que antes tinha avançado que o corte era superficial, o ataque "foi mais grave do que esperávamos". "A perfuração atingiu parte do fígado, do pulmão e da alça do intestino. Perdeu muito sangue, chegou no hospital com pressão de 10/3, quase morto... Seu estado agora parece estabilizado", escreveu num tweet.

O candidato era levado em ombros por apoiantes, em clima de festa, quando foi esfaqueado na zona do abdómen. Foi imediatamente retirado do local e levado para um hospital próximo.

A Santa Casa de Juiz de Fora, unidade de saúde que recebeu Bolsonaro, informou, em comunicado, que "o paciente Jair Messias Bolsonaro deu entrada no hospital por volta das 15h40 com uma lesão por material perfuro cortante na região do abdómen".

"O que houve foi um sangramento na veia abdominal, que logo foi estancado, e lesões nos intestinos grosso e delgado. Foi retirada a parte lesada do intestino grosso, e o intestino delgado foi costurado", descreveu o médico Borsato.

Dois suspeitos detidos

O primeiro suspeito do ataque foi detido quase imediatamente pelas autoridades. Trata-se de Adélio Bispo de Oliveira, 40 anos, que terá sido militante do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) entre 2007 e 2014. De acordo com as autoridades, citadas pela edição brasileira do El País, "o agressor foi preso em flagrante e conduzido para a Delegacia da PF [Polícia Federal] naquele município".

De acordo com o presidente da Federação dos Agentes da Polícia Federal (Fenapef), Luis Boundens, o suspeito terá dito estar a cumprir "uma ordem de Deus". Horas depois, um segundo homem foi detido, mas a sua identidade não foi revelada. Há uma investigação em curso para apurar as circunstâncias do ataque. 

Candidatos repudiam violência

Fernando Haddad, que é o candidato mais provável do Partido Trabalhista, disse que o incidente era “uma vergonha”. “Repudio totalmente qualquer acto de violência e desejo pronto restabelecimento a Jair Bolsonaro”, escreveu no Twitter.

“Repudio a violência como linguagem política, solidarizo-me com meu opositor e exijo que as autoridades identifiquem e punam o ou os responsáveis por esta barbárie”, escreveu no Twitter Ciro Gomes, outro rival nas presidenciais.

"Se Deus quiser, o candidato Bolsonaro ficará bem, temos a certeza de que não haverá nada mais grave, esperamos que não haja nada mais grave", afirmou o Presidente brasileiro, Michel Temer.

“É intolerável que as pessoas falseiem dados durante a campanha eleitoral, é intolerável que nós vivamos num estado democrático de direito em que não haja possibilidade de uma campanha tranquila, de uma campanha em que as pessoas vão e apresentem os seus projectos”, declarou Temer durante uma cerimónia no Palácio do Planalto.

"A violência contra o candidato Jair Bolsonaro é inadmissível e configura um duplo atentado: contra sua integridade física e contra a democracia", declarou a candidata Marina Silva (Rede). "Neste momento difícil que atravessa o nosso país, é preciso zelar com rigor pela defesa da vida humana e pela defesa da vida democrática e institucional do nosso país. Este atentado deve ser investigado e punido com todo rigor", escreveu no seu Twitter. "A sociedade deve refutar energicamente qualquer uso da violência como manifestação política."

Também a ex-Presidente brasileira Dilma Rousseff considerou o ataque "lamentável". Porém, sublinhou que "incentivar o ódio cria esse tipo de atitude". "Você não pode falar que vai matar ninguém. Não pode falar isso. Principalmente um candidato à Presidência."

Citada pela Globo, a antiga Presidente do Brasil defendeu que o autor do ataque deve ser responsabilizado. "Quem fez isso não pode ficar impune. Por que não pode ficar impune? Porque tem de servir de exemplo para ninguém fazer isso com nenhum candidato. Isso não pode acontecer num país democrático que se respeita, que quer ser civilizado. Não pode admitir que se esfaqueie qualquer candidato à Presidência da República. Não interessa quem seja. Não se admite isso. E nós não podemos flexibilizar certas coisas. Porque se a gente começa a flexibilizar, nós vamos ter consequências danosas", vincou. "Não é só para os candidatos, mas para as crianças, para os jovens, para os homens e mulheres desse país."

A visita de Bolsonaro a Juiz de Fora já tinha chamado a atenção porque um grupo de extrema-direita da cidade fez um cordão de isolamento, durante a visita do candidato a um hospital oncológico. Vestidos de preto, disseram ser polícias a fazer “segurança voluntária” ao candidato e impediram que alguns doentes, que tinham as suas sessões de quimioterapia marcadas, entrassem nas instalações.

Nas últimas sondagens, Bolsonaro está à frente na primeira volta, mas perderia numa segunda volta contra todos os candidatos, excepto o do PT.

No Twitter, um dos filhos do candidato, Flavio Bolsonaro, partilhou uma fotografia onde o candidato presidencial surge a sorrir e pronto para ganhar na primeira ronda de votos, lê-se na legenda.

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