ONU pede a Moscovo e Damasco para evitarem “banho de sangue” em Idlib

A província onde se concentram os rebeldes que se opõem ao regime e todos os civis que recusaram ficar a viver em zonas controladas por Assad deverá ser em breve alvo de uma operação conjunta das forças sírias e russas.

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Em Idlib já há muita gente a viver em tendas, depois de terem fugido de zonas reconquistadas por Assad Reuters/Khalil Ashawi
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Capacetes Brancos da unidade de desminagem reúnem bombas que não explodiram depois de largadas pelos russos numa zona rural de Idlib Reuters/KHALIL ASHAWI

Pela primeira vez em três semanas ataques aéreos visaram diferentes áreas da província síria de Idlib, matando vários civis e reforçando os receios de que a esperada ofensiva de grande escala esteja prestes a começar.

Idlib é a única região da Síria onde a oposição armada resiste – e foi para lá que se dirigiram as populações que viviam em zonas entretanto reconquistadas pelo regime e que escolheram não permanecer sob a autoridade de Bashar al-Assad.

Os aviões russos recomeçaram os raides na província do Noroeste sírio na terça-feira, depois de 22 dias de interrupção. Segundo informações divulgadas pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos (organização ligada à oposição), morreram 17 pessoas. Já os Capacetes Brancos (um grupo de resgate e salvamento a operar nas áreas fora do controlo de Assad) falam em dez civis mortos e 20 feridos.

Entre os mortos estão cinco crianças dos cinco aos 11 anos, todas da mesma família, disse à Al-Jazira um responsável deste grupo de voluntários, Ahmed Yarji.

Os novos bombardeamentos coincidiram com o apelo das Nações Unidas à Rússia e ao regime sírio que Moscovo apoia para tentarem evitar um “banho de sangue”; o apelo estendeu-se à Turquia, que apoia alguns grupos rebeldes presentes em Idlib.

Capacetes Brancos e várias ONG internacionais têm avisado que uma ofensiva em grande escala, idêntica às que permitiram reconquistar cidades como Homs, Alepo ou Deraa, será devastadora em Idlib. Estima-se que estejam a viver ali quase três milhões de pessoas e a densidade populacional é grande, pelo que cresce a probabilidade de os bombardeamentos atingirem muitos civis.

A ONU calcula que uma operação alargada pode obrigar 800 mil pessoas a fugir das suas casas e provocar uma “catástrofe humanitária”.

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou esta quarta-feira que uma ofensiva contra Idlib será “um massacre”. No início da semana, o chefe de Estado americano, Donald Trump, alertou para os riscos de “um grande erro humanitário”, ao que o porta-voz do Kremlin respondeu que “a situação em Idlib continua a ser objecto de preocupação especial para Moscovo, Damasco, Ancara e Teerão”.

Resolver o problema

Para além do Irão, o outro grande aliado do regime, a Rússia tem tentado juntar às negociações sobre a Síria a Turquia, país que mais exigiu o afastamento de Assad. Isto nos primeiros anos da crise desencadeada em 2011 pela brutal repressão com que o Governo respondeu a uma vaga de protestos pacíficos – antes da guerra civil e da vinda de jihadistas e de combatentes de dezenas de países, antes das centenas de milhares de mortos e dos mais de seis milhões de refugiados.

Erdogan deverá encontrar-se na sexta-feira com os seus homólogos russo, Vladimir Putin, e iraniano, Hassan Rouhani. O líder turco espera que esta cimeira permita evitar um massacre, escreve o jornal Hurriyet. Já Assad parece apenas aguardar os resultados desde encontro para lançar uma ofensiva terrestre, apoiada, como as anteriores, por intensos raides da aviação russa.

Pouco antes dos bombardeamentos mais recentes contra a cidade, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskok, descreveu Idlib como “uma bolsa de terrorismo”, defendendo que é a presença de grupos rebeldes na cidade e província com o mesmo nome que impede actualmente a possibilidade de uma solução política para a guerra. Sem adiantar outros dados, Peskov acrescentou em seguida: “Sabemos que as Forças Armadas da Síria se preparam para resolver o problema”.

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