Theresa May defende o seu plano para o "Brexit", apesar da chuva de críticas

O negociador chefe da UE arrasou o plano de May para a relação futura do Reino Unido com Bruxelas, mas mostra flexibilidade nos prazos para o acordo. Primeira-ministra recusa novo referendo.

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Theresa May tem críticos dentro e fora do partido ao seu plano Chequers DAI KUROKAWA / EPA

Rodeada de cada vez mais críticos, a primeira-ministra britânica Theresa May garantiu que não irá ser “empurrada” para mudanças ao seu plano de saída da União Europeia que ponham em causa o “interesse nacional” britânico e afastou o cenário de marcação de um novo referendo.

May utilizou um artigo de opinião publicado no Sunday Telegraph para lançar recados em várias direcções, tantas quantas as que representam ameaças à sua visão do “Brexit”. Desde logo para Bruxelas, ao indicar que se irá manter fiel ao plano traçado no início do Verão para nortear as relações futuras entre o Reino Unido e a União Europeia.

“Não serei empurrada para aceitar compromissos que não sejam a favor do interesse nacional”, escreveu May, referindo-se ao chamado “plano Chequers”, em referência à residência de férias oficial da primeira-ministra, onde o programa foi redigido. O plano prevê que o Reino Unido se mantenha numa zona de comércio livre com a UE após a saída, que inclua o comércio de bens e produtos agrícolas.

O negociador chefe da Comissão Europeia para o “Brexit”, Michel Barnier, lançou, numa entrevista ao diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, duras críticas ao plano de May, identificando vários obstáculos que o tornam impraticável e “ilegal”.

“Não podemos abdicar de controlo sobre as nossas fronteiras externas e sobre o lucro para um país terceiro, isso não é legal”, afirmou Barnier, referindo-se à proposta britânica sobre a aplicação de tarifas aduaneiras diferenciadas para produtos destinados para o Reino Unido ou que apenas passem pelo país tendo como destino a UE. “A proposta britânica”, disse Barnier, “seria um convite à fraude se posta em prática”.

Até Novembro

O líder das negociações do lado europeu admitiu, porém, conceder mais tempo para que o acordo de saída seja finalizado “em meados de Novembro” e não a tempo da cimeira de 18 e 19 de Outubro, como inicialmente previsto. Barnier deixou, contudo, o aviso de que o problema não é o tempo: “Do que precisamos é de decisões políticas.”

A pressão sobre May vem também da indústria. Desta vez foi do director-geral da BDI, a federação industrial da Alemanha, Joachim Lang, que disse ao Financial Times que se chegou a “uma fase crítica”. “Se não houver um acordo até meados de Novembro, as empresas alemãs vão começar a pôr em prática os planos de emergência para um cenário de ‘Brexit’ sem acordo”, afirmou.

Mas ao manifestar apoio inabalável ao plano Chequers, May está sobretudo a falar para dentro. A apresentação desta proposta de regulação das relações comerciais futuras com a UE foi recebida com várias críticas que culminaram com as demissões quase simultâneas do ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, e do ministro para o “Brexit”, David Davis, apoiantes do chamado “hard Brexit”, ou seja, uma saída em ruptura total com Bruxelas.

Os críticos do plano governamental consideram que a relação futura proposta mantém, na prática, o Reino Unido submetido às regras de Bruxelas, com a agravante de dificultar novos acordos comerciais que Londres queira fechar com outros países. Numa entrevista à BBC, Davis disse que o plano Chequers é “quase pior” que a continuação no Reino Unido.

Este mês, o Parlamento regressa aos trabalhos e o Governo enfrenta uma dura batalha para fazer aprovar a sua proposta, entre os críticos na bancada tory e a oposição trabalhista.

May garantiu ainda que está fora de questão o agendamento de um novo referendo sobre a saída britânica, ainda que haja indícios de que a opinião do eleitorado seja agora favorável à manutenção na UE. “Fazer de novo a pergunta seria uma grave traição à nossa democracia e uma quebra de confiança”, declarou a primeira-ministra.

Os grandes apoiantes de um novo referendo são os Liberais, tradicionalmente muito favoráveis à integração europeia. Mas também entre os conservadores há quem queira reverter o “Brexit”. Um dos principais financiadores do Partido Conservador, Simon Roberts, ex-presidente da Rolls Royce, disse estar “profundamente deprimido” com o debate em torno do “Brexit” e manifestou-se a favor de uma nova chamada às urnas.

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