Discordar em quase tudo, concordar em Aretha Franklin

O funeral da Rainha da Soul começou esta sexta-feira às 15h de Portugal, juntou políticos, músicos e outras pessoas que não concordam em quase nada, a não ser na icónica cantora.

Fotogaleria
Bill Clinton Reuters/MIKE SEGAR
Fotogaleria
Reuters/LEAH MILLIS
Fotogaleria
Ariana Grande cantou (You Make Me Feel Like) A Natural Woman LUSA/TANNEN MAURY
Fotogaleria
Reuters/REBECCA COOK

É complicado imaginar uma ocasião em que, na mesma sala e pela mesma causa, Louis Farrakhan, o líder da Nation of Islam, os pastores e líderes dos direitos civis Al Sharpton e Jesse Jackson, e o ex-Presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, tivessem estado juntos, muito menos lado a lado. O funeral de Aretha Franklin, que começou esta sexta-feira às 10h locais (15h de Portugal), no templo Greater Grace, em Detroit, a cidade do Michigan em que a Rainha da Soul se estreou a cantar em público e acabou por morrer, conseguiu essa proeza.

O discurso de Al Sharpton focou isso mesmo: as pessoas escolhidas para a homenagear podiam não concordar em tudo, mas concordavam em Aretha. Republicanos, democratas, brancos, negros, muçulmanos, cristãos e baptistas, políticos – o mayor de Detroit, Mike Duggan, aproveitou para dizer que o nome do Chene Park, um local de concertos da zona, iria mudar de nome para Aretha Franklin Park – e músicos, todos debaixo do mesmo tecto para honrar a cantora que morreu a 16 de Agosto

A cerimónia, uma celebração intensa, não era pública mas foi transmitida ao vivo através da Internet e na televisão. Começou com bastante atraso, a dar tempo para a família da cantora chegar. Podia ver-se, na transmissão, o jovem casal da cantora Ariana Grande — que cantaria mais tarde (You Make Me Feel Like) A Natural Woman — e do cómico Pete Davidson a cumprimentar Hillary Clinton, ou Tyler Perry, cómico, realizador e criador de The Haves  and  the  Have  Nots, que seria, segundo um discurso, a série favorita de Aretha, a falar com Whoopi Goldberg, a cómica e actriz.

Um coro começou a cantar I  Say a Little  Prayer, o clássico de Burt Bacharach e Hal David que foi escrito para Dionne Warwick, mas eternizado por Aretha Franklin. E aí deu para se notar um defeito com o qual os próprios intervenientes poderiam concordar: uma homenagem a Aretha sem recurso à voz da própria é algo muito complicado de se fazer.

É um legado que não se podia celebrar "num par de horas", como foi dito durante a cerimónia, entre actuações de nomes que vão de estrelas country como Faith Hill, que começou a solo – houve muita cantoria em grupo, e muitas vezes puxou-se por todo o público – com What a Friend  we  Have  in Jesus, às icónicas cantoras de gospel Clark Sisters, passando por Edward Franklin, filho de Aretha, a cantar Mercy  Mercy Me, de Marvin Gaye, com Smokey Robinson, que era amigo de infância da Rainha da Soul, a aproveitar o seu discurso para cantar também.

Durante a cerimónia, ouviu-se ainda Al Sharpton dizer que Donald Trump precisa de aprender o que significa "respeito" — uma referência a Respect, a canção icónica de Aretha. Nas horas que se seguiram à morte da cantora, o Presidente dos Estados Unidos foi muito criticado por lembrar Aretha assim: "Ela trabalhou para mim em muitas ocasiões." Sharpton aproveitou a cerimónia desta sexta-feira para contrapor: “Não, ela não não actuava para si. Ela trabalhava para nós." 

Ao longo do resto da cerimónia, ainda é suposto haver actuações de nomes como Stevie Wonder ou Jennifer Hudson.

Sugerir correcção
Comentar