Extrema-direita sueca ameaça establishment e sonha com vitória nas legislativas

Democratas Suecos acenam ao eleitorado com discurso anti-imigração e eurocéptico. Estão bem colocados nas sondagens para a votação do dia 9.

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Jimmie Akesson tem procurado normalizar o discurso dos Democratas Suecos Johan Nilsson/REUTERS

O domínio centenário do Partido Social-Democrata na arena política da Suécia está seriamente ameaçado nas eleições legislativas agendadas para o próximo domingo. Os outrora ostracizados Democratas Suecos – cujas origens remontam ao movimento neonazi sueco da segunda metade do século passado – surgem nas sondagens como principais concorrentes do partido de centro-esquerda e podem mesmo vir a ser a força mais representada no Riksdag (Parlamento).

Defensores de um programa anti-imigração e anti-União Europeia, prometem baralhar as contas na formação do Governo e na definição da agenda política para os próximos anos.

De acordo com o site sueco Val.digital, que faz uma média actualizada das sondagens realizadas pelas principais empresas do sector, os nacionalistas agregam 20,2% das intenções de voto, pouco abaixo dos sociais-democratas, no topo com 24,3%, e acima do Partido Moderado (centro-direita), que recebe 19,5% dos apoios. 

Alguns dos estudos tidos em conta no cálculo do Val.digital dão aos Democratas Suecos o primeiro lugar e com percentagens superiores a 25%, como foi o caso do da YouGov. Números que põem a força populista à beira de duplicar a sua representação no Riksdag, depois dos 12,9% obtidos nas eleições de 2014.

O caminho percorrido pelos Democratas Suecos nos últimos anos é um caso de manual na política europeia recente. Ou, pelo menos, no que versa sobre a estratégia de “desdiabolização” posta em prática por muitos movimentos de extrema-direita do continente, como a Frente Nacional (França), a AfD (Alemanha) ou o FPÖ (Áustria).

Herança nazi

Fundado em 1988 por antigos membros do Reino Nórdico, um partido neonazi nascido nos anos de 1950, e patrocinado pelo movimento nacionalista Bevara Sverige Svenskt (Manter a Suécia Sueca), o partido de extrema-direita foi durante largos anos marginalizado pelas restantes forças políticas, devido ao seu programa xenófobo e supremacista. 

A partir de 2005, porém, os Democratas Suecos iniciaram um processo de moderação, sob a liderança de Jimmie Akesson (39 anos). Sem abdicar do nacionalismo, da reprovação da imigração e do desdém pela União Europeia, o partido suavizou as suas posições mais extremistas, começou a focar-se nos problemas que afligem os pensionistas e os desempregados, e levou a cabo uma verdadeira purga interna, expulsando militantes abertamente racistas, anti-semitas e xenófobos – incluindo figuras de topo. 

A estratégia tem funcionado. Os Democratas Suecos chegam a cada vez mais eleitores e estão a crescer a olhos vistos nas intenções de voto. Mas para os analistas não há grande diferença entre o passado e o presente do partido, quando o seu líder defende, por exemplo, que o crescimento da comunidade muçulmana na Suécia é a “maior ameaça estrangeira desde a II Guerra Mundial”.

“A mentalidade das pessoas mais activas dentro dos Democratas Suecos é a de que os imigrantes e as minorias estão no centro de tudo o que está errado com a sociedade. E por isso continuamos a ler, nas notícias, escândalos sobre políticos seus que dizem coisas como ‘a Suécia é um lugar onde os brancos pertencem e os não brancos não’”, explica ao Observer Jonathan Leman, investigador na revista sueca Expo, especializada no estudo de nacionalismos e extremismos.

“Imigração é cara”

Apesar de a economia estar a crescer, de o Estado social sueco ser um dos mais generosos do mundo e de o país apresentar elevados índices de satisfação e qualidade de vida, o eleitorado do partido de extrema-direita preocupa-se com o crescimento da população nascida fora da Suécia – 18% de 10 milhões de habitantes –, o seu impacto no acesso aos benefícios sociais, e o aumento da criminalidade e da violência urbana.

Inquietações que os Democratas Suecos têm sabido explorarem, abordando-as muitas vezes como um único problema. E com redobrado vigor nos últimos seis anos, depois de a Suécia ter acolhido mais de 420 mil refugiados.

Ao mesmo tempo que argumentam que todos os imigrantes que aprendam sueco e abracem a cultura do país são bem-vindos, os populistas querem reduzir o número de licenças de trabalho para cidadãos estrangeiros e confinar a aceitação de pedidos de asilo político a pessoas de nacionalidade dinamarquesa, finlandesa e norueguesa. 

“A imigração é cara: retira recursos aos professores, aos médicos e aos assistentes sociais. E afecta tudo o resto. Não podemos fechar os olhos”, justifica ao Financial Times Patrick Jonsson, dirigente regional do partido.

Excluindo o debate sobre a Europa – a proposta de um referendo sobre a saída da Suécia da UE ainda não granjeou muitos adeptos –, a verdade é que os Democratas Suecos foram bem-sucedidos a trazer os temas da imigração e dos desafios da globalização para a campanha. Obrigaram os partidos do establishment a adaptar os seus programas e, dessa forma, a contribuir para a legitimação de um partido que ainda vêem como pária e com quem ninguém quer conversar.

Paula Bieler, deputada dos Democratas Suecos, vê como inevitável a entrada do seu partido no diálogo político mais alargado e acredita que quanto mais forem ostracizados, mais apoios receberão no futuro: “De uma forma ou de outra, o próximo Governo terá de falar com todos os partidos. Se recusarem falar connosco, sofrerão as consequências em 2022”.

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