Mendes Bota falta à festa do PSD: “O Pontal morreu. Isto é outra coisa”

O impulsionador da Festa do Pontal vai faltar este ano pela primeira vez em quase 40 anos.

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Virgilio Rodrigues

O antigo líder do PSD/Algarve e impulsionador da Festa do Pontal José Mendes Bota assume que o formato da rentrée deste ano “não tem nada a ver” com a dimensão que a iniciativa teve nos últimos anos. Como era esperado após a decisão de cortar nos custos, as distritais não estão a mobilizar militantes para a festa do próximo sábado. Cinco líderes distritais confirmaram ao PÚBLICO a presença na festa. Outros não podem comparecer por motivos pessoais ou até partidários.

“O Pontal neste formato morreu. Isto é outra coisa. Vamos ver se corre bem, oxalá que sim”, disse ao PÚBLICO Mendes Bota que, nos últimos anos, tem estado retirado da política activa. Como consultor político e primeiro conselheiro na delegação da União Europeia junto do Conselho da Europa, Mendes Bota já regressou ao trabalho em Estrasburgo, onde reside, e por isso não pode estar presente na edição do Pontal deste ano, o que acontece pela primeira vez desde 1980.

“Nunca falhei e este ano vou falhar, mas não é por culpa minha”, afirma. A data mudou – deixou de ser em meados de Agosto e passou para 1 de Setembro – e o formato também. Perdeu a dimensão nacional dos últimos anos por decisão da direcção de Rui Rio que alegou contenção de despesa. Mendes Bota diz recordar-se de “outros líderes que tudo fizeram para matar o Pontal” e assume que precisou de reabilitar a festa por três vezes quando percebia que estava a perder força.

Enquanto organizador da festa, o antigo dirigente algarvio chegou a levar o ex-primeiro-ministro Cavaco Silva ao local original (um pinhal) mas percebeu que as pessoas “já não queriam estar num local cheio de pó”. A festa transferiu-se, então, para a baixa de Faro, num modelo que depois também se esgotou. Mendes Bota levou então a festa para o calçadão da Quarteira. “A data [14] não foi escolhida por acaso. Fecha a quinzena forte de férias no Algarve”, recorda o antigo deputado, que não esconde algum desencanto com o modelo deste ano: “Não sei se o Pontal terá uma próxima oportunidade para ser ressuscitado”.

O convívio dos sociais-democratas voltou, este ano, ao formato original dos anos 1980. É um almoço de estilo popular num parque de merendas em Querença, concelho de Loulé, a terra natal de Mendes Bota. “Conheço muito bem o espaço. Fiz lá muitas festinhas paroquiais”, recorda o antigo líder do PSD/Algarve. O parque, situado em Fonte Filipe, poderá acolher perto de 500 pessoas no máximo, muito longe das 1500 que, nos últimos anos, jantavam no calçadão da Quarteira antes de ouvir Passos Coelho.

Mendes Bota considera que a Festa do Pontal "é um património imaterial do PSD" e uma "marca consolidada no mercado político" português. "É um património imaterial do PSD. Uma marca leva décadas a construir-se, mas pode ser destruída num ápice", desabafa o histórico dirigente algarvio. 

Quem vai e quem não vai

O actual PSD/Algarve já enviou convites para deputados e distritais, mas não estão a ser organizadas viagens para participar na festa. Cinco líderes de distritais – Lisboa, Coimbra, Viseu, Guarda e Leiria – confirmaram ao PÚBLICO a sua presença na festa. O líder da distrital de Santarém, João Moura, não pode comparecer por motivos pessoais. De Braga, José Manuel Fernandes, que é eurodeputado, ainda não sabe se consegue estar no Algarve no próximo sábado. A alteração da data do Pontal para dia 1 de Setembro também vai implicar a ausência do líder do PSD/Setúbal. Bruno Vitorino já tinha a rentrée do distrito marcada para o mesmo dia, numa festa regional que já se realiza há mais de 10 anos. Uma outra iniciativa partidária que acontece no mesmo dia – a universidade de verão da JSD/Açores – também vai impedir a líder da JSD, Margarida Balseiro Lopes, de estar no Pontal.

Críticas a Rio

Com Santana Lopes à espreita, a Festa do Pontal acontece depois de um mês de ausência de Rui Rio da agenda política, o que está a gerar mal-estar no partido. Esse incómodo tornou-se visível não só por críticas públicas como as do ex-dirigente nacional Carlos Carreiras como também pelos comentários a um texto publicado pelo líder parlamentar, Fernando Negrão, na rede social Facebook em que atacou o Governo.

"O país, neste Verão, foi mais uma vez vítima de uma governação negligente, desatenta, incompetente e sem rumo”, lê-se no post do líder da bancada que, em jeito de balanço, abordou não só o incêndio de Monchique como os problemas na CP. O texto foi recebido com agrado por ser uma voz do PSD que critica o Governo.

Elementos da direcção nacional têm justificado o silêncio de Rui Rio com o gozo pleno de férias. O líder do PSD regressa, no sábado de manhã, com um momento de descontracção ao participar num minitorneio de futebol. Carlos Carreiras pede que Rio “deixe de dar pontapés nos companheiros de partido”; outros pedem, em jeito de graça, que dê pontapés ao Governo. 

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