A fractura exposta do PSD é um bálsamo para o PS

O PSD deixou campo aberto para que movimentos como a Iniciativa Liberal ou personalidades como Santana Lopes procurem uma alternativa

A aparição de novos partidos pode muito bem ser vista como um sinal de dinamismo do sistema político ou do empenhamento e da mobilização da sociedade em torno de projectos para o país. Mas pode igualmente ser um sintoma de fragilidade do sistema partidário existente ou a expressão de meros projectos pessoais de chegada ao poder. Em Portugal, o que está a acontecer mostra que há uma possível combinação destes dois cenários. Se é impossível não encontrar em alguns dos líderes dos novos partidos uma ânsia de protagonismo tão legítima como supérflua para o interesse do país, também é inegável que os novos partidos surgem na sequência de um vazio no espaço do centro direita. Ou, por outras palavras, no espaço do PSD – e, em parte, no do CDS.

Durante anos, o PSD fez da sua indefinição programática um implacável trunfo eleitoral. Tanto podia reivindicar uma herança social-democrata nas políticas públicas como uma propensão mais liberal sempre que em causa estavam os interesses da economia privada. Na sua génese e tradição, Sá Carneiro sempre conviveu com Mota Pinto e Santana Lopes com José Silva Peneda porque havia uma cola pragmática que limava as clivagens políticas e focava as atenções na conquista do poder. Depois de Passos Coelho, o PSD perdeu essa flexibilidade para o PS. Enquanto António Costa foi capaz de construir um pacto com os partidos que o PS sempre combateu, o PSD afundou-se na procura de uma pureza ideológica que nunca existiu.

É por isso que ao querer ressuscitar o legado social-democrata da sua fundação, deixando de lado a sua matriz liberal que atraía o sector privado, os pequenos negócios ou os quadros das universidades, o PSD deixou campo aberto para que movimentos como a Iniciativa Liberal ou personalidades como Santana Lopes procurem uma alternativa fora de portas. A “fragmentação” da direita que o Presidente temia está em curso. Com o PS forçado a uma permanente negociação à sua esquerda, o PSD teria por estes dias uma maior possibilidade de ser fazer ouvir colocando na agenda os interesses do país que existem fora da órbita da função pública. Não o fazendo, ou insistindo em fazer de morto, fica à mercê do dissídio e torna-se um aliado involuntário da estratégia do PS para cimentar o seu poder.

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