Mats Wilander: "João Sousa vai voltar mais forte”

O antigo campeão sossega os fãs portugueses e pede apenas paciência até o vimaranense voltar a ganhar encontros.

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A menos de uma semana do início do Open dos EUA, Mats Wilander analisou a lista de favoritos à conquista da última prova do Grand Slam de 2018. Na entrevista telefónica com o Público em exclusivo para Portugal, o antigo número um do mundo e actual comentador do Eurosport – canal que irá transmitir o torneio – afirmou não ter dúvidas que João Sousa vai pôr fim à série de sete derrotas consecutivas e até vê alguns benefícios no facto de estar mais tempo a treinar-se do que a competir.

“É muito difícil lidar mentalmente com as derrotas sucessivas, mas fisicamente não. Se tiver um bom treinador, uma boa equipa, bons amigos, família à sua volta ele vai estar mais forte, vai bater melhor na bola, porque vai treinar mais. Não se pode comparar os treinos com a competição, pois são as vitórias que dão confiança, mas no treino, um jogador bate milhares de vezes na bola no mesmo espaço de tempo em que, num encontro, se bate umas centenas. Enquanto os jogadores competem durante uma hora e ele está a treinar 10 horas. O problema é que tem de ganhar um encontro e depois um segundo. É apenas uma questão de paciência e apoio de fora, nada mais do que isso”, afirmou WIlander, antes de recordar: “Nunca houve nenhum jogador que tenha perdido sete, oito, dez ou 15 encontros consecutivamente e tenha desistido do ténis. Os fãs portugueses que não se preocupem”

No seu currículo, Wilander conta com sete títulos do Grand Slam, o último dos quais em 1977, no Open dos EUA, um torneio diferente dos demais, sempre com muito ruído como banda sonora do evento, o que dificulta a concentração. “É muto exigente em termos mentais, por se viver em Manhattan durante duas semanas, estar-se a jogar durante um mês e meio em hardcourts, é o final da época dos Grand Slams, todos dão o que ainda têm no ‘depósito’, mas talvez seja o mais neutral em termos de piso”, resumiu.

Quantos aos candidatos ao título, o campeão sueco reduz a lista a Rafael Nadal, Novak Djokovic e, talvez, Roger Federer. “Rafa e Novak são os grandes favoritos e não sei se poderemos juntar Roger, mas serão estes três a centrar o favoritismo. Mas espero que novos jogadores possam vencer estes três, mas depois de Wimbledon verificámos que dificilmente isso irá acontecer. Zverev não parece de momento ser capaz disso. Talvez Tsitsipas ou Shapovalov possam chegar às meias-finais... Khachanov e Rublev não têm o mesmo nível de ténis, mas são mais consistentes, têm mais maturidade e podem chegar aos quartos ou meias”, adiantou.

Djokovic, que no domingo, ao triunfar em Cincinnati, se tornou no primeiro tenista a conquistar os nove torneios Masters 1000, surpreendeu Wilander ao aproximar-se do nível há dois anos. “Quando Novak está a um nível alto, focado, pode ganhar três majors por ano. Fez isso em 2011 e 2015/2016 e está de volta, perto do seu melhor de sempre. Nessa altura, todos diziam que ele ia apanhar os 20 títulos do Grand Slam de Federer. Se houvesse um recorde do mundo no ténis, Novak teria o obtido em 2016, quando ganhou a todos em todos os pisos – nem Federer fez isso quando dominou o circuito. Quando ele vence, parece fácil, eficiente, confiante; não faz winners, ases, não comete erros, não se consegue empurrá-lo para fora do court e neste preciso momento, parece imbatível”, frisou Wilander.

No entanto, o campeão sueco viu em Cincinnati, um Djokovic emocionalmente diferente: “Está mais preocupado mais com outras coisas que antes. Ele é pai, marido e jogador de ténis e ninguém é suposto ser o melhor em três coisas. É natural que seja o ténis a sofrer porque é o menos importante das três. Não é de esperar que chegue a casa e parta os brinquedos dos filhos; é mais natural partir raquetas no court. Quando tinha 18, 19 anos era assim, depois aprendeu a ser outra pessoa, a acalmar-se, a conter mais as emoções e agora voltou a jogar ténis. De um atleta que quer dominar o mundo, esperamos um ténis perfeito, não um comportamento perfeito. Detesto um comportamento perfeito!”

No entanto, o triunfo de Nadal no outro Masters 1000 de Agosto, mostrou que o espanhol também está em boa forma. “Nadal venceu no Canadá e sabe o que o corpo precisa para vencer em Nova Iorque. Não competir em Cincinnati significa que já atingiu o nível que queria. Penso que só poderá perder com o Novak ou com um Roger ‘on fire’”, disse Wilander.

Quanto ao torneio feminino, o comentador do Eurosport nomeou Simona Halep, Angelique Kerber e Serena Williams como favoritas. “Halep é a melhor do mundo neste momento, foi a que progrediu mais. Kerber venceu Wimbledon e sabe ganhar majors. Serena, agora mãe, vai regressar em forma. Todas respiram melhor porque Serena não está no seu melhor, não em termos de motivação, mas fisicamente. Só que as mais novas parecem não ter ainda fome de conquistar títulos”, acusou.

Entre as “mais novas”, conta-se Kiki Bertens, vencedora no domingo em Cincinnati, em cuja final derrotou Halep – a sua quarta vitória sobre uma top 10 nesse torneio. “Tem estado a jogar bem há algum tempo. É perigosa, possui um bom ténis e é muito completa. Na final de Cincinnati, teve sorte porque Halep estava muito cansada, mas num Grand Slam tem de vencer três ‘Haleps’; é essa a grande diferença de um major. Colocá-la-ia num segundo grupo de favoritas, um pouco atrás de Stephens, Keys, Kvitova, Wozniacki…”, explicou Wilander.

Ainda sobre o Open dos EUA, o campeão sueco comentou a introdução do “shot clock”, o relógio colocado no court que contabiliza os 25 segundos que os tenistas dispõem antes de servir no próximo ponto. “Penso que é mais uma mensagem aos jogadores, tipo ‘despachem-se’. Infelizmente, vai fazer com que alguns jogadores comecem a levar mais tempo, como Zverev ou Kyrgios, que são muito rápidos entre pontos; eles vão pensar que têm mais tempo antes de servir. Penso que no fim de contas, em média, vai ter o efeito secundário de abrandar o jogo”, afirmou Wilander.

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