Deitas lentes de contacto na sanita? O ambiente é que sofre

Investigação mostrou que muitas pessoas não deitam as lentes no lixo indiferenciado, como é desejável. E isso significa mais microplástico a poluir o ambiente.

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Brian Snyder/ Reuters

Usou lentes de contacto boa parte da sua vida e um dia uma dúvida começou a bailar na sua cabeça. O que aconteceria às pequenas lentes de plástico que todos os dias milhares de pessoas como ele deitavam fora? Rolf Halden, investigador na Universidade Estadual do Arizona, tinha há muito o alerta plástico accionado, com vários trabalhos na área da poluição por este material publicados, mas não conhecia nada sobre o impacto das lentes de contacto descartáveis no ambiente. Por isso pôs-se a investigar.

Este domingo, 19 de Agosto, o resultado foi apresentado num encontro na Sociedade Americana de Química, em Boston, e tornou-se um alerta para milhões de utilizadores de lentes. Se têm como hábito deitá-las na sanita ou no lavatório, fiquem a saber que estão a contribuir para a poluição do planeta. Apesar da pequena dimensão — e de parte da sua constituição ser água —, as lentes não se dissolvem completamente e as estações de tratamento de águas residuais não têm capacidade de as eliminar.

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Pedaços de lentes recuperados de um esgoto Charles Rolsky/ DR

Segundo dados recolhidos pelos investigadores, 15 a 20% dos 400 participantes no estudo deitam as lentes na sanita ou lavatório em vez de as depositarem no lixo. E se olharmos para a estimativa do número de utilizadores de lentes descartáveis a dimensão do problema torna-se significativa: são 45 milhões só nos EUA.

O caminho percorrido pelas pequenas lentes, já sabemos, é uma espécie de ciclo e volta sempre ao ponto de partida. Depois de estarem nas estações de tratamento de águas, as lentes, que não são biodegradáveis, são apenas parcialmente destruídas. Depois, juntam-se a outros microplásticos que frequentemente são ingeridos por animais aquáticos. E é aí que voltam muitas vezes a nós. À hora da refeição.

Rolf Halden, Varun Kelkar e Charles Rolsky, estudante de pós-graduação e principal autor do estudo, entrevistaram trabalhadores de estações de tratamento e confirmaram a existência de lentes no lixo. Por outro lado, ao fazerem a vistoria a resíduos tratados, os investigadores encontraram fragmentos de lentes de contacto, percebendo que em dois quilos de lama de águas residuais havia, em média, um par de lentes. Esta lama é frequentemente aplicada na terra, o que abre caminho à introdução de plásticos também nos ecossistemas terrestres.

“Quando o plástico da lente perde parte da sua força estrutural, ele rompe-se fisicamente. Isso leva a partículas de plástico menores, o que acabará por formar microplásticos”, explica Kelkar num artigo publicado no site da Universidade Estadual do Arizona.

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Charles Rolsky é um dos autores do estudo Todd Macmillan

“Isto são materiais médicos, não era expectável que fossem super biodegradáveis”, aponta Rolf Halden, sublinhando que tal característica é boa para o utilizador mas pouco interessante para o ambiente.

A pesquisa inédita quer chegar à indústria das lentes e alterar comportamentos. “Um primeiro passo simples seria que os fabricantes fornecessem na embalagem do produto informações sobre como descartar adequadamente as lentes de contacto, simplesmente colocando-as no lixo com outros resíduos sólidos”, explica Halden, deixando um desejo em forma de desafio para o futuro: a criação de lentes que sejam biodegradáveis.

Enquanto isso não é possível, deitem as vossas lentes no lixo indiferenciado. E jamais na sanita ou lavatório.

Artigo corrigido às 19h40. 

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