Kofi Annan, o "aristocrata afável" que "redefiniu a ONU" com manchas na reputação

Imprensa internacional destaca o legado do antigo secretário-geral das Nações Unidas, sem esquecer episódios negros como as acusações de desfalque que envolveram o seu filho.

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Kofi Annan, aqui numa imagem na Moncloa, em Espanha Susana Vera/Reuters

A morte de Kofi Annan, este sábado, na Suíça, aos 80 anos, chocou alguns dos seus colaboradores mais próximos e motivou uma reflexão na imprensa mundial sobre a sua vida, liderança e obra humanitária do diplomata ganês que chegou à liderança das Nações Unidas.

Se no título do seu obituário o Washington Post  se cinge às questões-chave da sua carreira — antigo secretário-geral da ONU e Prémio Nobel da Paz —, no texto o diário norte-americano reflecte como "o seu legado mais importante como secretário-geral foi a sua rejeição da ideia duradoura de que a ONU não podia interferir nos assuntos internos de um país membro".

É algo que ecoa no título do New York Times: "o diplomata que redefiniu a ONU". O diário nova-iorquino resume tudo assim: "um diplomata aristocrata e afável do Gana que se tornou no sétimo secretário-geral das Nações Unidas, projectando-se e à sua organização como a consciência e árbitro moral do mundo apesar de erros sangrentos que deixaram manchas indeléveis no seu currículo como guardião da paz". 

Na imprensa francesa, o diário Libération não esquece que "o seu balanço de dez anos à cabeça da ONU foi contrastado", por um lado com reformas, por outro "foi uma voz inaudível contra a guerra do Iraque e as acusações de desfalque contra o seu filho Kojo num programa da ONU", o que o "enfraqueceu".

O espanhol El Mundo recupera uma história de criança que faz parte da sua lenda: Annan, "o filho do governador da província de Ashanti, benjamim da estirpe de aristocratas da tribo Fante, organizou com êxito uma greve de fome de grande adesão no seu colégio para exigir melhorias na ementa da cantina". 

Na BBC, recorda-se que apesar das críticas de que sempre foi alvo no que toca ao seu trabalho humanitário, Annan se tornou "ainda assim um dos mais longevos e reconhecidos diplomatas da história moderna". Atravessou, recorda o órgão de informação público britânico, "crises que moldaram o mundo, da pandemia da sida/VIH à guerra do Iraque e, mais tarde, as alterações climáticas".

Na Argentina, o diário Clarín destaca a "personalidade carismática" do ex-secretário-geral da ONU e sublinha que o seu maior fracasso talvez tenha sido a tentativa de mediar a guerra na Síria. Era "a consciência moral do mundo", diz o alemão Die Zeit, que volta a recordar como Annan criticou a invasão do Iraque pelos EUA em 2003. 

A Folha de São Paulo resgata do passado uma outra história de Annan, lembrando que nas suas memórias ele dizia que as iniciais do cargo "secretário-geral", ou seja S e G, significavam também "bode expiatório" - "scape goat", em inglês.

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