Conflitos no Sudão do Sul e Síria matam mais trabalhadores humanitários

Houve 313 ataques contra trabalhadores humanitários em 22 países, resultando em 139 mortes, 102 feridos e 76 raptos.

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Trabalhadores humanitários dos próprios países podem estar mais em risco Reuters/BASSAM KHABIEH

Quase 140 trabalhadores humanitários foram mortos no ano passado, uma subida de 23% face a 2016, de acordo com os dados publicados nesta segunda-feira. O Sudão do Sul continua a ser um dos países mais perigosos para oferecer ajuda humanitária, pelo terceiro ano consecutivo.

Os números revelam um aumento drástico nos raptos de trabalhadores, tiroteios fatais no Sudão do Sul – o mais jovem país do mundo –, e o triplicar dos ataques na Republica Centro-Africana.

Sudão do Sul, Síria, Afeganistão e Republica Centro-Africana foram palco de dois terços dos 158 grandes incidentes contra operações humanitárias registados no ano passado, de acordo com o relatório anual sobre a segurança dos trabalhadores humanitários, compilado por um grupo de investigação independente chamado Humanitarian Outcomes.

Foram reportados 313 ataques, perpetrados contra trabalhadores humanitários em 22 países, resultando em 139 mortes, 102 feridos e 76 raptos – de entre os quais quatro resultaram em morte. Este é o segundo número de vítimas mais elevado de sempre. 

A maioria dos ataques foram levados a cabo em situações onde as organizações humanitárias internacionais têm acesso restrito, lê-se no relatório. Nove em dez vítimas eram locais, um reflexo do aumento da dependência de trabalhadores nacionais e não de agências internacionais.

A co-autora do relatório, Abby Stoddard, disse à Reuters que, ainda que o número de ataques tenha sido mais ou menos o mesmo do que em 2016, houve um aumento marcado no número de vítimas que trabalhavam para agências nacionais, em vez de agências internacionais. “Os grupos locais enfrentam maiores riscos nestes conflitos”, disse.

Os números também apontam para um aumento acentuado de raptos de trabalhadores humanitários no Sudão do Sul, com 36 pessoas raptadas desde o início de 2018. Em 2015, foram raptadas duas pessoas.

Stoddard disse que os raptos se tornaram tácticas para o controlo da ajuda humanitária no Sudão do Sul. Ao contrário do que acontece noutros conflitos, não são usados para gerar rendimentos. “Não é anormal que [os raptos] tenham aumentado tão rapidamente”, disse. “O que nos preocupa é que se torne num meio de ataque comum, como tem sido no Afeganistão.”

O conselho norueguês de refugiados disse que 100 trabalhadores humanitários morreram no Sudão do Sul desde que o conflito estalou, em 2013. O secretário-geral da organização, Jan Egeland, afirmou que quem está por detrás dos ataques deve ser presente a tribunal. “Os trabalhadores humanitários estão protegidos pela lei internacional e não devem ser usados como peões no conflito do Sudão do Sul. A violência contra trabalhadores humanitários paralisa o nosso trabalho de salvamento”, escreveu num comunicado.

A agência de ajuda humanitária disse estar “cuidadosamente optimista" sobre o acordo de paz assinado este mês pelo Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, e o líder dos rebeldes, Riek Machar, e acrescentou que isso deveria conduzir a melhor acesso humanitário. O organismo disse que alguns especialistas em alimentos "apontaram para a possibilidade de fome" se o acesso a pessoas à beira da subnutrição não melhorasse.

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