Uma crise com ganhos no curto prazo para quem importa da Turquia

Carros, metais e têxteis são os produtos que Portugal mais compra ao mercado turco; papel e cartão, os que mais vende.

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Os têxteis são o terceiro tipo de produtos que Portugal mais compra à Turquia Umit Bektas/Reuters

No puzzle do comércio global, as perdas de uns são os ganhos de outros e, no prato da balança, a queda abrupta da lira turca parece significar para as empresas portuguesas que importam da Turquia uma oportunidade, porque conseguem comprar produtos a preços mais vantajosos – pelo menos no curto prazo.

Até Maio, Portugal importou bens a empresas instaladas na Turquia no valor de 347 milhões de euros e exportou 163 milhões, o que representa um défice comercial de 184 milhões. Mas o mercado turco não tem, para Portugal, a dimensão de outras geografias: é o 14.º fornecedor da economia portuguesa e tem sido nos últimos anos o 17.º cliente em termos de exportações.

São três os grandes grupos de produtos importados: veículos automóveis e material de transporte (28% das compras nos cinco primeiros meses do ano), metais comuns (24%) e têxteis (17%). Os três representaram mais de dois terços das compras até Maio, quando a descida da lira já se fazia sentir, mas não com a voragem dos últimos dias. As importações de veículos e metais cresceram na ordem dos 20% nestes cinco primeiros meses do ano, mas a tendência não está a ser a mesma nos têxteis, onde se assiste a um recuo homólogo próximo de 2%, contrário ao crescimento do ano passado.

Para o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Turquia, Rui Paias Couto, a crise financeira não vai afectar as empresas associadas, já que, diz, são “muito poucas as que exportam” (em 2017, houve 785 companhias portuguesas a fazê-lo para a Turquia, segundo dados compilados pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal).

A câmara do comércio, com representações em Ancara, Istambul e Izmir, tem mais de 600 empresas associadas. São sobretudo pequenas e médias empresas (PME). Cerca de 95% importa e, com a descida da lira turca que agora se acentuou, o resultado neste momento “é bom para as compras feitas” naquele mercado.

Na Turquia, mais de 60% da economia deve-se aos serviços, 32% à indústria e cerca de 7% à agricultura, sector que emprega 20% da população trabalhadora. A Alemanha, o Reino Unido, os Emirados Árabes Unidos, o Iraque e os Estados Unidos são os seus principais mercados de exportação; a China, a Alemanha, a Rússia, os Estados Unidos e a Itália, os principais fornecedores.

Portugal ocupa um lugar lateral para um país que exporta bens e serviços num total de 208 mil milhões de dólares. De lá – onde a indústria automóvel e de produção de componentes tem ganho importância e onde estão instaladas por exemplo as fábricas da Toyota, Hyundai, Ford e Fiat Chrysler –, Portugal importou no ano passado veículos e material de transporte no valor de 180 milhões de euros.

Ao olhar para o reflexo na lira da “desestabilização feita por esta política americana de seguir em frente com a criação de taxas alfandegárias”, o secretário-Geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), Helder Barata Pedro, antecipa efeitos distintos entre o que se passa agora e o médio-longo prazo. “Numa primeira fase há uma vantagem para a indústria automóvel europeia, mas a situação poderá ser revertida com as medidas do Governo turco” anunciadas ontem para conter a descida da divisa, acredita.

Os têxteis, a electrónica, o aço, a construção, a transformação de alimentos, a madeira e o papel são outras áreas-chave da indústria turca. Não por acaso alguns dos produtos que Portugal mais exporta para aquele país estejam relacionados com esses sectores. O que Portugal mais forneceu à Turquia em 2017 foi papel e cartão (no valor de 67,5 milhões de euros, cerca de 17% das exportações para aquele país). As pastas químicas representaram 12% das vendas (47,6 milhões) e em terceiro lugar aparecem os fios para usos eléctricos e cabos de fibras ópticas (9%, 33 milhões).

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