Risco extremo de incêndio no Algarve nos próximos dias

Há 23% de probabilidade de ocorrer um grande incêndio na região. Perigo estender-se-á a todo o país. Governo decreta Situação de Alerta. Funcionários públicos que são bombeiros têm dispensa.

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Foi em Tavira, em 2012, que o último incêndio de grandes dimensões deflagrou no distrito Rui Gaudencio

O risco de incêndio no território algarvio estará, a partir de quinta-feira, em valores considerados excepcionais. As condições meteorológicas previstas para os próximos dias — temperaturas altas, baixa humidade relativa e vento — são, em parte, responsáveis pelo aumento do risco de incêndio.

A juntar à meteorologia, o facto de ter chovido “bastante menos” a sul e “não haver cicatrizes de grandes fogos” (o último grande incêndio no distrito aconteceu em Tavira em 2012) nos últimos anos completam este cenário preocupante, explica ao PÚBLICO Paulo Fernandes, responsável pelo Laboratório de Fogos Florestais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Em termos de características do fogo, pode vir a ser "mais rápido e intenso", por causa da secura e da temperatura elevada. O que também não vem ajudar é a instabilidade atmosférica, que pode originar "aquele tipo de fogo mais poderoso em altitude e que faz com que seja mais imprevisível e difícil de dominar".

As projecções mais recentes colocam o FWI (sigla para Fire Weather Index, ou índice de risco de incêndio) do distrito de Faro acima de 63 — valor a partir do qual se entra na categoria de risco máximo. Para alguns locais, em alguns períodos, as previsões apontam para valores de FWI acima de 100.

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A probabilidade de ocorrência de um grande incêndio é de 23%, explica Paulo Fernandes. Para chegar a este número, os especialistas do Laboratório de Fogos Florestais calcularam o número de dias, nos últimos anos, em que o FWI foi superior a 63 e, ao mesmo tempo, se verificou um incêndio que dizimou mais de 100 hectares. Resultado: em cada quatro dias com um valor acima de 63 há um incêndio com essa dimensão.

Dados do IPMA sobre o risco de incêndio mostram que praticamente todo o distrito de Faro estará nesta quinta-feira em alerta máximo. Exceptuam-se seis concelhos: Vila do Bispo (risco muito elevado), Lagoa, Albufeira, Faro, Olhão e Vila Real de Santo António (risco elevado).

Situação alastra ao resto do país

A baixa humidade do ar que se vai registar nos próximos dias é particularmente preocupante, explica, Paulo Fernandes. "Em Portugal temos muito o problema dos reacendimentos e dos fogos que passam de um dia para o outro." Sem formação de orvalho durante a noite, “as oportunidades vão ser mais limitadas” no que diz respeito ao combate a potenciais incêndios.

Uma vez que as condições meteorológicas “vão evoluir de Sul para Norte, o Algarve vai ser o primeiro a ser atingido”. Por isso, nos próximos dias, o quadro de risco elevado de incêndio deve estender-se ao resto do país.

Quais as zonas mais vulneráveis? “Todo o interior e progressivamente quase todo o país.” Abre-se uma excepção para o Alto Minho, a Norte. “Creio que aí as condições são relativamente mais fáceis”, detalha Paulo Fernandes. Isto porque, apesar das temperaturas elevadas, “a humidade do ar não vai descer assim tanto nessas zonas”.

Ainda assim, Paulo Fernandes sublinha a importância de “evitar o alarmismo”. Até porque “há muita água nos matos e em toda a vegetação viva”. Por outro lado, “ardeu muito no ano passado, pelo que a probabilidade de ter incêndios com aquela dimensão e escala é bastante reduzida”.

Um país em alerta

Nesta quarta-feira ao fim do dia, o ministro da Administração Interna assinou o despacho que determina a Declaração da Situação de Alerta para o período compreendido entre esta quinta e segunda-feira, “para a globalidade do território continental”, algo que está previsto na Lei de Bases de Protecção Civil. São várias as medidas de carácter excepcional. Por exemplo, a “elevação do grau de prontidão e resposta operacional por parte da GNR e da PSP, com reforço de meios para operações de vigilância, fiscalização, patrulhamentos dissuasores de comportamentos e de apoio geral às operações de protecção e socorro que possam vir a ser desencadeadas, considerando-se para o efeito autorizada a interrupção da licença de férias e/ou suspensão de folgas e períodos de descanso”.

Mais: não será possível usar fogo de artifício e está vedado “o acesso, circulação e permanência no interior dos espaços florestais previamente definidos nos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios, bem como nos caminhos florestais, caminhos rurais e outras vias que os atravessem”. Dispensados do serviço público estão os trabalhadores da Administração Pública que desempenhem cumulativamente as funções de bombeiro voluntário bem como “os trabalhadores do privado que desempenhem cumulativamente as funções de bombeiro voluntário, nos distritos para os quais tenha sido Declarado o Estado de Alerta Especial de Nível Vermelho”.

Durante a tarde, Eduardo Cabrita tinha feito um apelo à população para evitar comportamentos de risco. Entre Janeiro e Julho, houve 6500 incêndios em Portugal, o terceiro menor número de fogos nos últimos dez anos durante o mesmo período. "A boa notícia é que não foram notícia. Pela intervenção de todos, foram extintos sem riscos de maior. Mas, desses 6500 incêndios, 70% deveram-se a uso inadequado do fogo, a queimadas ou outras formas de uso inadequado", acrescentou o governante, considerando esse número "um dado preocupante".

"Estamos a fazer tudo em matéria de sensibilização, mas a orientação dada às forças de segurança é que, na sua actividade fiscalizadora, a tolerância será zero relativamente a comportamentos de risco", assegurou.

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