Khan celebra vitória em eleições sangrentas e com acusações de irregularidades

De acordo com os resultados não-oficiais avançados pelos media paquistaneses, o TPI de Imran Khan deverá conquistar a maioria necessária para formar Governo sozinho.

Imran Khan depois de votar
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Imran Khan depois de votar LUSA/T. MUGHAL
Explosão na cidade de Quetta fez pelo menos 31 mortos
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Explosão na cidade de Quetta fez pelo menos 31 mortos LUSA/JAMAL TARAQAI
Shehbaz Sharif
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Shehbaz Sharif LUSA/RAHAT DAR
Eleitores preparam-se para exercer o seu direito de voto
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Eleitores preparam-se para exercer o seu direito de voto LUSA/SHAHZAIB AKBER

Numas eleições sangrentas e marcadas por acusações de irregularidades, o antigo herói do críquete paquistanês e há muito figura da oposição política, Imran Khan, já festeja vitória. Ainda sem resultados oficiais, o seu partido, o Movimento pela Justiça do Paquistão (TPI), começou a celebrar à medida que os media locais avançavam com resultados preliminares que lhe davam uma larga margem em relação à Liga Muçulmana do Paquistão (PMLN), da família Sharif que dominou a política paquistanesa nos últimos anos.

O dia da votação, tal como as últimas semanas, ficou marcado pela violência com um bombista suicida a fazer-se explodir perto de uma mesa de voto na cidade de Quetta, capital do Baluchistão, matando pelo menos 31 pessoas. Este ataque, numa das regiões mais instáveis do país, foi reivindicado pelo grupo jihadista Daesh.

Devido a este clima de terror, foram mobilizados cerca de 800 mil membros da polícia e Exército para garantir a segurança dos cerca de 85 mil centros de voto por todo o país. Mesmo assim não foi possível evitar focos de violência. Outro ataque com uma granada, também numa vila no Baluchistão, deixou um polícia morto e três pessoas feridas. Houve relatos de confrontos entre apoiantes dos partidos rivais.

De acordo com os dados da Comissão Eleitoral paquistanesa, mais de 100 milhões de eleitores escolheram entre mais de 3000 candidatos aos 272 lugares no Parlamento nacional e entre mais de oito mil candidatos para as assembleias provinciais.

Para conquistar a maioria no parlamento é necessário garantir pelo menos 137 lugares.

Os media paquistaneses avançaram, ainda antes da divulgação dos resultados oficiais, uma larga vantagem do TPI sugerindo que o partido iria atingir a maioria necessária para formar governo sozinho. O que fez com que o partido fosse proclamando vitória e os apoiantes de Khan começassem a sair à rua para fazer a festa.

“Abençoado seja o Paquistão. O TPI prepara-se para formar o seu próprio Governo no Paquistão! Os analistas prevêem uma maioria clara de mais de 136 assentos para o Movimento pela Justiça do Paquistão. Se Deus quiser”, escreveu o partido no Twitter.

A confirmar-se, a vitória de Imran Khan põe fim à governação do PMLN e da família Sharif. O anterior primeiro-ministro, Nawaz Sharif, foi deposto do cargo ao ser acusado de corrupção num caso que lhe valeu uma condenação de dez anos de prisão. No início deste mês, ao regressar ao Paquistão (estava em Londres quando foi julgado) foi preso juntamente com a sua filha e herdeira política, Maryam Nawaz.

Na sequência da queda de Nawaz, saltou para a liderança do PMLN o  irmão, Shehbaz.

Khan foi chamado a prestar declarações perante a Comissão Eleitoral por ter sido filmado a votar, o que pode violar a lei que obriga ao secretismo do voto. A confirmar-se, a única consequência seria a anulação do seu próprio voto.

A comissão revelou também que recebeu mais de 600 queixas de irregularidades ao longo do dia.

Todos os partidos à excepção do TPI falam em irregularidades na votação – há queixas sobre a impossibilidade dos representantes entrarem nos centros de voto em alguns locais.

“O processo de escrutínio foi feito à porta fechada” em alguns círculos eleitorais, acusou Marriyum Aurangzeb, porta-voz do PMLN. A Comissão Eleitoral desmentiu esta acusações e afirmou que os responsáveis políticos devem ter a responsabilidade de não fazer “alegações infundadas sem provas substanciais”.

No centro de toda a campanha estiveram acusações de que as poderosas Forças Armadas, que dominaram o país na maioria dos seus 71 anos de independência, interferiram no processo eleitoral de forma a beneficiar Khan em detrimento de Sharif.

Esta foi apenas a segunda transição democrática entre civis do país, o que levou Khan a afirmar, ao início do dia, que seriam “as eleições mais importantes do Paquistão”.

Já Sharif, depois de exercer o seu direito de voto, prometeu “mudar o destino do Paquistão” caso fosse eleito. “Vamos pôr um ponto final no desemprego, erradicar a pobreza e promover a educação”.

Khan fundou o seu partido em 1996 e desde então iniciou uma acérrima luta contra a corrupção endémica do país. O seu programa político assenta no lema “Novo Paquistão” e num discurso considerado populistas, com promessas de uma profunda reforma nos principais sectores do país.

Mesmo assim o discurso de Khan foi sendo cada vez mais bem recebido entre o eleitorado, principalmente na franja mais jovem. Por aqui se poderá explicar muito do sucesso da antiga estrela do críquete, visto que dos mais de 100 milhões de paquistaneses habilitados a votar, 46 milhões têm menos de 35 anos.

O próximo primeiro-ministro não terá uma lista de encargos leve. A economia paquistanesa, uma das maiores do Sul da Ásia, vive momentos negros aproximando-se mais uma intervenção do Fundo Monetário Internacional, a segunda desde 2013.

Além disso, Islamabad perdeu uma das suas maiores fontes de rendimento e de apoio com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, que congelou a assistência militar e financeiro dos Estados Unidos. Isto levou a um afastamento em relação a Washington e a uma aproximação à Rússia e à China, país que tem aumentado exponencialmente os seus investimentos em território paquistanês.

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