Farmácias enviam 4500 pessoas com risco de diabetes a médicos

Rastreio e referenciação de diabéticos envolou quase quatro centenas de farmácias de 64 municípios. Foram diagnosticados 190 diabéticos.

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Rui Gaudencio

Mais de 4500 portugueses com risco moderado e muito alto de diabetes foram reencaminhados pelas farmácias para o seu médico de família, no âmbito de uma acção de rastreio nacional que envolveu cerca de 8100 utentes, foi esta quarta-feira anunciado.

A referenciação dos utentes decorreu no âmbito do Desafio Gulbenkian "Não à Diabetes!", levado a cabo entre 14 de Novembro de 2017 e 1 de Maio deste ano, com o objectivo de informar e prevenir o desenvolvimento da diabetes tipo 2, "uma doença com custos importantes para o Serviço Nacional de Saúde", explica a Associação Nacional das Farmácias (ANF) em comunicado.

A acção de rastreio envolveu 383 farmácias de 64 municípios, e foi avaliado um total de 8112 utentes, adianta a ANF, que acrescenta que a referenciação de mais de metade dos portugueses examinados deu origem a cerca de duas mil consultas médicas. Segundo a associação, foram diagnosticados 190 doentes que desconheciam ser diabéticos, cerca de 9,5% dos utentes.

O método utilizado pelos farmacêuticos foi a avaliação de risco (Findrisk), com suporte tecnológico e a comunicação entre o sistema da farmácia e a Plataforma de Dados em Saúde, do Ministério da Saúde, tendo os casos de risco mais elevado sido encaminhados para consulta médica nos cuidados de saúde primários.

Para o director do Programa Gulbenkian Inovar em Saúde, da Fundação Gulbenkian, Jorge Soares, dois factores-chave contribuíram "para o sucesso desta intervenção". "O primeiro foi a eficácia do recrutamento e identificação das pessoas com risco de diabetes, através da colaboração excepcional das farmácias para identificar os utentes, fazer-lhes o teste e encaminhá-los para os centros de saúde. O segundo factor foi a educação das pessoas para o futuro, com foco nos centros de saúde", explicita.

O sucesso deste desafio "só foi possível graças ao alinhamento de vários parceiros: as autarquias, as farmácias como porta de entrada e os centros de saúde", afirma ainda Jorge Soares no comunicado.

O rastreio através da avaliação do risco de desenvolver a doença, tendo em conta factores como a obesidade, tabagismo ou antecedentes familiares, é fundamental, porque a diabetes é assintomática no início, mas pode provocar lesões em diversos órgãos, como os rins, olhos e sistema vascular.

"Uma diabetes não diagnosticada, não controlada, com um nível metabólico desregulado e elevados níveis de glicose no sangue, tem um maior risco de complicações e pode conduzir à morte", explica Adelaide Figueiredo, médica no Centro de Diabetologia do Hospital Distrital de Santarém.

O diagnóstico precoce da diabetes é importante para prevenir lesões e complicações associadas, como o enfarte do miocárdio, os acidentes vasculares cerebrais ou o pé diabético.

Em Portugal a diabetes afecta mais de um milhão de pessoas e é diagnosticada a cerca de 200 novos doentes por dia. A este número juntam-se mais de dois milhões de pessoas com pré-diabetes.

Estima-se que cerca de 44% das pessoas com diabetes estejam por diagnosticar, sendo, por isso, o diag­nóstico precoce uma das prioridades do Programa Nacional para a Diabetes.

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