Trump arrasa solução de May para o "Brexit" e elogia Boris Johnson

Além de criticar a orientação política de May em relação ao "Brexit", o Presidente dos EUA elogia Boris Johnson - daria "um grande primeiro-ministro". Deputados criticam Trump: "A mãe dele não lhe ensinou nada?"

Estados Unidos
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Donald Trump e Theresa May esta sexta-feira em Chequers Reuters/KEVIN LAMARQUE
Vertebrado, Big Ben, Palácio de Westminster
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Protestos nesta sexta-feira em frente ao Parlamento britânico, em Londres EPA/ANDY RAIN
Antes do jantar de gala da última quinta-feira, com empresários britânicos
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Antes do jantar de gala da última quinta-feira, com empresários britânicos EPA/ANDY RAIN

Foi uma semana conturbada para Theresa May, que perdeu dois ministros quando apresentou ao Governo os planos para um “soft Brexit”. Agora, as críticas chegam de Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, que está de visita ao Reino Unido. Trump disse que May ignorou os seus conselhos e que os resultados foram “muito infelizes”. Numa entrevista ao jornal The Sun, Trump elogia um dos ministros que se demitiram, Boris Johnson, ex-responsável dos Negócios Estrangeiros, eurocéptico e adepto do "hard Brexit'". "Seria um grande primeiro-ministro", disse o Presidente americano horas antes de jantar com Theresa May.

Na entrevista, Donald Trump põe em causa o plano de May para a saída do país da União Europeia, que implica um “'Brexit' pragmático”, isto é, uma saída da União Europeia em que o Reino Unido continuará integrado na zona de comércio livre (mercado único) e com regras aduaneiras comuns. De acordo com o documento, seriam celebrados acordos com Bruxelas – uma solução que criaria uma zona de comércio livre com a União Europeia para bens industriais e agrícolas, dando ao Parlamento britânico a palavra final sobre que regras europeias são incorporadas na lei britânica.

Para Trump, esse acordo pode pôr em causa as relações comerciais entre britânicos e norte-americanos: “Se fizerem isso, então o acordo com os Estados Unidos provavelmente não se vai realizar”, disse ao Sun. Vai “definitivamente afectar as trocas comerciais com os Estados Unidos, infelizmente, de forma negativa”, insiste. “Estamos a atacar a União Europeia porque não trataram os Estados Unidos de forma justa no comércio”, acrescentou.

“Se apoiarem um acordo como aquele, iremos trabalhar com a União Europeia e não com o Reino Unido, o que provavelmente irá acabar com o nosso acordo”, prossegue, considerando que May está a defraudar as expectativas dos britânicos que votaram pela saída do Reino Unido da União Europeia, no referendo de 2016: “O acordo que ela está a apresentar é muito diferente daquele no qual as pessoas votaram”, atira. “Não é o acordo do referendo. Tenho ouvido isto nos últimos três dias. Houve muitas demissões. Portanto uma grande parte das pessoas não gosta dele.”

A semana política ficou marcada pela demissão de David Davis, ministro com a pasta do "Brexit", e Boris Johnson. Para Davis e Johnson, dois apoiantes do "hard Brexit", a primeira-ministra faz concessões a Bruxelas que são inaceitáveis.

"Ele não disse nada de mal"

Questionado pela Reuters sobre os comentários, o porta-voz de May disse que a primeira-ministra espera reunir com Trump e explicar-lhe em que ponto estão as negociações.

Do outro lado do Atlântico, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, citada pela Reuters, salientou a parte da entrevista em que Trump diz que May é “muito boa pessoa”: “Ele não disse nada de mal sobre ela”.

Uma desculpa que não foi aceite pelos deputados britânicos, de todos os partidos, que criticaram Trump. 

A porta-voz dos trabalhistas, Emily Thornberry, disse que o Presidente dos EUA “foi extraordinariamente grosseiro” com a anfitriã. “A mãe dele não lhe ensinou nada? Isto não é maneira de se comportar”, disse no programa Good  Morning da estação de televisão ITV. Thornberry disse que Theresa May devia responder a Trump de forma directa e que “está a desiludir o Reino Unido ao não reagir”.

No Twitter, vários deputados demonstraram solidariedade para com Theresa May referindo-se aos ataques, nomeadamente as referências de Trump ao presidente da Câmara de Londres, o trabalhista Sadiq Khan, de origem paquistanesa, que Trump acusou de estar a fazer “um mau trabalho” em questões de terrorismo.

A conservadora Sarah Wallaston escreveu que a entrevista de Trump ao Sun provoca “repulsa”, acrescentando que o chefe de Estado norte-americano “está empenhado em insultar May". “Se este é o preço a pagar por um acordo com os Estados Unidos, então não vale a pena”, escreveu Wallaston.

A trabalhista Anna Turley disse que Trump é "um racista e que não tem respeito” pelo Reino Unido e questiona a realização do encontro, marcado para esta sexta-feira, com a rainha Isabel II, “a maior honra da diplomacia” britânica.

A visita de trabalho de Donald Trump ao Reino Unido decorre assim debaixo de grande polémica. May (a primeira dirigente estrangeira a ser recebida por Trump depois de este tomar posse em Janeiro de 2017) tentou garantir que o visitante era bem recebido, mas até o jantar de quinta-feira, com 150 empresários, criou problemas, com alguns convidados a expressarem dúvidas em participar, como confidenciaram ao Financial Times

Em Londres, decorre uma manifestação contra a presença do Presidente dos EUA em frente ao parlamento.

 

 

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