Trump ameaçou tirar EUA da NATO para forçar aliados a pagar mais

Trump explicou que foi "mais duro" do que o habitual para os EUA serem "tratados de forma justa". Diz que agora a Aliança Atlântica é "uma máquina bem oleada". Mas o objectivo dos 2% não mudou.

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Declarações de Trump na cimeira da NATO geraram tumulto entre os países aliados REUTERS/Yves Herman

A reunião dos 29 chefes de Estado e de governo da NATO acaba de assumir carácter de emergência, depois de o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter ameaçado retirar o seu país da Aliança Atlântica.

Numa conferência de imprensa na manhã desta quinta-feira em Bruxelas (que ainda decorre), Trump disse que foi "mais duro do que habitual" para conseguir uma maior contribuição dos países-membros, que se comprometeram com um gasto extra de 33 mil milhões de dólares – ou seja, a estratégia funcionou. Eu disse que não estava contente com a situação e tudo se compôs", disse. Porém, a afirmação não corresponde à verdade e os países não se comprometeram com mais do que os estabelecidos 2%.

Mas a ameaça provocou um tumulto na sede da organização. Fontes diplomáticas confirmaram a convocatória de uma reunião de emergência pelo secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, depois de Donald Trump ter dito que a aliança não tinha legitimidade por causa da desigualdade entre os vários parceiros na partilha de custos.

O Presidente dos EUA disse aos restantes parceiros que se não se comprometessem imediatamente com o aumento das contribuições financeiras para a defesa comum, o país abandonaria a organização — para conduzir a política de segurança e defesa unilateralmente.

Em modo de “controlo de danos”, elementos da equipa de comunicações da Casa Branca disseram na sala de imprensa da NATO que o Presidente apenas usou uma linguagem mais dura, avisando os aliados das “graves consequências” de não decidirem, já nesta cimeira, elevar o investimento em despesas militares para a meta dos 2% do Produto Interno Bruto (PIB) ainda este ano.

No entanto, segundo fontes diplomáticas, os líderes na sala interpretaram o discurso de Trump como uma clara ameaça à integridade da Aliança.

Antes de entrar no quartel-general da NATO para o segundo dia de trabalhos da cimeira, o Presidente dos Estados Unidos voltou ao Twitter para revelar descontentamento com a questão da partilha de custos e responsabilidades entre os aliados — e também para confirmar a recente obsessão com o gasoduto da Rússia até à Alemanha, que na véspera o levara a dirigir duras críticas à chanceler Angela Merkel.

“Os presidentes têm tentado durante anos, sem sucesso, que a Alemanha e e outras nações ricas da NATO paguem mais pela protecção da Rússia. Só pagam uma fracção do custo. Os Estados Unidos pagam dezenas de biliões de dólares a mais para subsidiar a Europa, e depois perdem à grande no comércio”, insistiu Trump, de volta ao Twitter logo pela manhã. “E ainda por cima, a Alemanha começou a pagar à Rússia, que é o país de que têm de se proteger, biliões de dólares pela energia que vem do novo pipeline da Rússia. Inaceitável! Todos os países da NATO têm de cumprir o seu compromisso de 2%, e este tem de ser aumentado para 4%”, prosseguiu — um patamar que nem os EUA atingem.

Ladeado por John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional, e Mike Pompeo, secretário de Estado, Trump disse na conferência de imprensa que só cinco países dos 29 cumprem a meta dos 2%. "O nosso compromisso com a NATO é muito forte", disse.

Questionado pelos jornalistas, Trump disse que tem sido "muito duro" com os países e que na quarta-feira teve que ser "um bocado mais duro". "As pessoas estão finalmente a pagar o que não pagavam ontem e os EUA estão a ser melhor tratados e a NATO é uma máquina bem afinada".

Os EUA têm alguma vantagem em estar na NATO, perguntaram-lhe. "A NATO vai ser muito eficaz", foi a resposta em que também disse ser "muito amigo" do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg.

Falou também no encontro com o Presidente russo, Vladimir Putin, na segunda-feira: "Espero que nos venhamos a dar bem com a Rússia." 

Numa primeira reacção, o Presidente francês, Emmanuel Macron, disse que o seu país só chegará à meta dos 2% acordada na cimeira de 2014 em 2024 e frisou que só pode haver "coesão" na Aliança se o fardo for repartido por todos. Só o Reino Unido, a Polónia, a Grécia e a Estónia cumprem os 2% do PIB em gastos de defesa, sendo que os EUA gasta 3,5%. A França gasta 1,8%.

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