Protejam o bitoque

Um bitoque tem de ser delicioso. Tem de ser exagerado. Tem de deixar a consciência pesada.

Estou a olhar para a carta de um restaurante português. A secção DA TERRA...(as reticências abrem sempre o apetite) começa com BITOQUE. Quem é que não gosta de bitoques? É caro: 35 euros. É por não ser um bitoque. Um bitoque por 35 euros não é um bitoque.

Como é descrito? "Medalhão de Black Angus, batata fondant, alho fermentado, alface grelhada, picle de tomate, ovo e molho de vinho tinto". Sejamos generosos. Isto não é um bitoque. É um bife da casa ou à minha maneira.

Também não é o bife à portuguesa. Esse, na versão clássica, é o mesmo bife que o do bitoque só que muito maior. Vem com mais batatas e mais arroz mas é frito em banha, alho e louro. Noutras versões a carne é mais tenra e mais cara. Por exemplo: a carne do bitoque é do pojadouro e a dos bifes é do acém.

Um bitoque é a versão económica de um bife. Poupa-se no mais caro (a carne) e compensa-se com o mais barato: batatas, molho, ovo, uma chávena de arroz, azeitonas pretas, picles rascas. Simplesmente não há lugar para luxos como alfaces grelhadas ou alhos fermentados.

Um bitoque serve-se num prato mais pequeno, muito cheio, para parecer maior. Os olhos também comem e por isso também têm de ser enganados.

Um bitoque não pode ser saudável. É uma vingança pela pobreza: é tudo frito, com muito molho e não é preciso escolher arroz ou batatas fritas.

Um bitoque não pode ser grelhado e servido com bróculos. Isso não é um bitoque. Um bitoque tem de ser delicioso. Tem de ser exagerado. Tem de deixar a consciência pesada.

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