"França ama Simone Veil" e ela já está no Panteão

Intelectual, sobrevivente do Holocausto, política que introduziu a legalização do aborto, Veil é recordada com admiração.

Panteão, Edifício
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Guarda Republicana frente ao Panteão, rendendo homenagem a Simone Veil Christophe Petit Tesson/REUTERS
Panthéon, Simone Veil
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Simone Veil e Antoine Veil, seu marido, igualmente no Panteão Ludovic Marin/Reuters
Protesto
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Multidão perto do Panteão, com um retrato de Simone Veil jovem Pascal Rossignol/REUTERS

Um ano após a sua morte, aos 89 anos, França homenageou Simone Veil, uma intelectual e política francesa, sobrevivente do Holocausto, que é a quarta mulher francesa a entrar para o Panteão, em Paris.

Muitos recordam-na como quem legalizou o aborto em França, em 1974, quando era ministra da Saúde. Mas enquanto sobrevivente do campo de concentração de Ravensbruck (exclusivamente para mulheres), tinha o número de prisioneiro 78651 tatuado no braço.

Simone Veil nasceu em 1927, a mais nova de quatro filhos de uma família judia burguesa – o pai um arquitecto premiado, a mãe forçada pelas regras da sociedade a abandonar os estudos de Química para cuidar da família. A infância foi brutalmente interrompida pela II Guerra e a invasão nazi de França. A família foi presa e deportada em Março de 1944, o pai e o irmão num comboio com destino à Lituânia, onde morreram em circunstâncias nunca apuradas; ela, a mãe e uma das irmãs foram enviadas para o campo de Auschwitz-Birkenau.

Sobreviveu aos trabalhos forçados – contou que foi protegida por uma guarda prisional que lhe disse que “era demasiado bonita para morrer ali” – aos quilómetros da marcha forçada através da neve que terminou no campo de Bergen-Belsen, onde a mãe, doente com tifo, morreria dias antes da libertação.

Lutou pela igualdade entre homens e mulheres, embora recusasse a etiqueta de feminista, e foi uma entusiasta pela ideia de Europa. Foi ter vivido na pele a experiência do Holocausto que a tornou numa europeísta convicta. “A Europa arrastou por duas vezes o mundo inteiro para a guerra. Ela deve encarnar agora a paz”, era uma das frases suas favoritas, recordou o Libération há um ano, quando morreu, a 30 de Junho de 2017. Foi a primeira presidente do Parlamento Europeu directamente eleita pelos pares, em 1979.

Retirou-se da vida pública em 2007, quando abandonou o cargo que tinha no Conselho Constitucional, a mais alta instância judicial francesa, onde passou a última década da sua vida activa.

Altamente respeitada em França, em todo o espectro político, continua a ser uma das figuras políticas mais admiradas. A decisão de a fazer entrar no Panteão foi fácil de tomar, sobretudo num contexto de aumento de antissemitismo em França.

"A França ama Simone Veil", disse o Presidente Emmanuel Macron este domingo, durante a cerimónia. O seu corpo ficará ao lado do do marido, Antoine Veil, que está também no Panteão, por decisão de Macron.

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