A autoridade dos cardeais é servir as pessoas concretas

No cenário grandioso e muito cuidado da Basílica de São Pedro, o Papa formalizou a nomeação de 14 novos membros do Colégio Cardinalício, entre os quais o bispo de Leiria.

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O bispo de Leiria a ser confirmado pelo Papa como um dos novos 14 cardeais EPA/CLAUDIO PERI
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Bispo Auxiliar, Arquidiácono
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Decoração de Natal
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Basílica de São Pedro
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Às 15h35 portuguesas desta quinta-feira (16h35 em Roma), o bispo de Leiria-Fátima, António Augusto dos Santos Marto, de 71 anos, foi confirmado pelo Papa como um dos 14 novos cardeais. Minutos antes, os novos e antigos membros do Colégio Cardinalício presentes na Basílica de São Pedro ouviram Francisco dizer que este não é um lugar de autoridade: “A única autoridade crível é a que nasce de se colocar aos pés dos outros para servir a Cristo.” E servi-lo, acrescentou, “no faminto, no esquecido, no recluso, no doente, no toxicodependente, no abandonado, em pessoas concretas com as suas histórias e esperanças, com os seus anseios e decepções, com os seus sofrimentos e feridas”.

Já diversas vezes Francisco falou nestes termos. Em anteriores consistórios de nomeação de novos cardeais, em homilias ou outras ocasiões, não se tem poupado a criticar o que considera autênticas pragas na Igreja e em parte da sua hierarquia, como sejam o clericalismo, o carreirismo, o autoritarismo...

Nesta quinta-feira, no cenário grandioso e muito cuidado da Basílica de São Pedro, como sempre acontece nos momentos mais festivos, Francisco também não poupou nas palavras, manifestando-se contra as “intrigas asfixiantes” e estéreis, a “busca dos primeiros lugares, ciúmes, invejas” e ajustes de contas. A reforma da Igreja deve ser feita “em chave missionária”, pressupondo que não se deve “olhar e cuidar dos interesses próprios”, mas de Deus: “Quando perdemos de vista o rosto concreto dos irmãos, a nossa vida fecha-se na busca dos próprios interesses e seguranças.” E acrescentou: a Igreja e os seus responsáveis são chamados a crescer na “capacidade de promover a dignidade do outro, ungir o outro, para curar as suas feridas e a sua esperança, tantas vezes ofendida”.

Evitar a “tragédia humanitária”

De manhã, o novo cardeal português, que se vê como “apoiante da reforma que o Papa” quer para a Igreja, já fizera afirmações semelhantes, em conversa com jornalistas. A Igreja deve estar empenhada na “construção de pontes” que levem à paz, afirmou, de um modo especial em relação aos refugiados e migrantes. Só assim se poderá inverter e evitar a “tragédia humanitária” que já se vive em relação aos refugiados que procuram a Europa.

Apesar de surpreendido com a escolha para este cargo de conselheiro de Francisco, o bispo de Leiria-Fátima disse que ela se deverá também a alguma dose de “aprovação” do trabalho que tem feito em Fátima e ao facto de ele próprio se posicionar como “apoiante do Papa”. E explicitou: “Uma Igreja mais evangélica, menos burocrática, mais próxima das pessoas, mais acolhedora, de não exclusão, mais misericordiosa para com as situações de fragilidade, vulnerabilidade, mais atenta aos desfavorecidos, aos pobres, mais construtora de pontes.”

Também em linha com o que tem defendido, o novo cardeal acrescentou que as pessoas não devem ter “muitas expectativas” em relação ao seu novo cargo, pelo menos no que respeita a Portugal: “Faço parte de uma conferência episcopal em que cada bispo tem a sua voz, sou um bispo como os outros.”

Com a nomeação de António Marto — o único português entre os 14 que ficaram nesta quinta-feira cardeais —, passará a haver dois portugueses entre os 125 eleitores de um novo Papa num eventual futuro conclave. Os outros dois portugueses — José Saraiva Martins e Manuel Monteiro de Castro — já têm mais de 80 anos e estão, por isso, excluídos da faculdade de participar na eleição.

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