Como fazer uma “gingerinha” com ginger beer feita em casa por dá-cá-aquela-palha

É facílimo e baratíssimo fazer ginger beer. Sabe mesmo a gengibre e a combinação com sumo de limão (ou de lima) é celeste. Há muitas instruções na Internet.

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Foi no Brasil que se começou a destilar rum com o que restava da produção de açúcar. É estranhíssimo que em Portugal seja fácil comprar centenas de whiskies e gins mas que não se consiga obter mais do que duas ou três cachaças. Não conheço um único bar português onde, para fazer caipirinhas de luxo, haja uma carta de cachaças para se poder experimentar e escolher.

Passa-se o mesmo com os vinhos do Porto, os vinhos da Madeira e as aguardentes velhas. É como se estivéssemos de costas viradas para nós próprios.

Nos runs continuamos muito atrás dos espanhóis, franceses, italianos e britânicos. A Espanha especializa-se em runs cubanos e outros runs “de língua espanhola”, a França em runs agrícolas, “de língua francesa”, o Reino Unido em runs “de língua inglesa” e os italianos em runs de todo o mundo.

Em Portugal, atendendo à nossa história e à nossa língua, deveríamos ser embaixadores da cachaça na Europa. O mundo das cachaças é interessantíssimo e complexo, envolvendo muitas madeiras diferentes e únicas. As cachaças deveriam estar ao lado das nossas excelentes aguardentes vínicas.

A combinação primordial do rum é rum, lima e açúcar. Vem dos tempos do escorbuto e da marinha. Pode ser Ti Punch, daiquiri, caipirinha ou qualquer outra combinação. Tanto pode levar gelo como não.

Um acrescento moderno que vale a pena propagar é o do gengibre. A versão original é a do rum Gosling que até registou uma patente para não ser usada com outros runs. Chamou à criação Dark n’ Stormy e faz, de facto, um delicioso highball.

As proporções devem ser ajustadas conforme se quer um long drink ou um short. Segundo a concepção clássica, a quantidade de rum deve ser igual (ou ligeiramente superior) à quantidade de ginger beer e sumo de lima.

Eu cá gosto da bebida num copo old-fashioned em jeito de caipirinha: neste caso uma “gingerinha”.

É facílimo e baratíssimo fazer ginger beer. Há muitas instruções na Internet. É preciso cuidado com as explosões: é melhor usar plástico em vez de vidro. O gás carbónico que se desenvolve é muito poderoso.

O ginger beer tem um sabor magnífico que nada tem a ver com a ginger ale engarrafada. Sabe mesmo a gengibre e a combinação com sumo de limão (ou de lima) é celeste.

Numa só sessão de meia hora pode-se fazer cinco ou dez litros de ginger beer. Basta engarrafar e esperar pela magia da fermentação. Pode-se usar fermento de padeiro ou fazer de raiz um ginger bug. A quantidade de açúcar que se usa determinará o grau alcóolico. É mais sensato fazer a versão sem álcool, até para equilibrar a “gingerinha” final.

Não vale a pena fazer com ginger ale. O ginger ale da Fever Tree não é mau mas não tem nada a ver. O da Schweppes é refrescante e não muito açucarado, mas também não tem o sabor forte a gengibre que se quer para um bom Dark ‘n’Stormy.

O mais importante da bebida é o rum ou a cachaça. Em vez de escolher um para fazer a “gingerinha”, é melhor experimentar vários. Experimente-se um rum leve e seco cubano, como o Santiago de Cuba añejo. Depois com um rum pesado e aromático jamaicano. Compare-se como fica com uma cachaça envelhecida ou uma nova. Ou com um rum agrícola da Madeira ou de Martinique.

A variedade de runs é muito maior que a dos whiskies porque há muitíssimos produtores de muitíssimos países trabalhando de maneiras diferentes. Os runs mais novos e baratos são feitos para misturar — é outra maneira de dizer que são rudes de mais para beber sozinhos. Mas os runs mais velhos que são bons sozinhos também são bons para misturar.

Só na cabeça mais quadrada é que há runs para misturar e runs para degustar (“sipping rums”). No entanto, conforme o cocktail, há certos runs que funcionam melhor do que outros. É uma questão de experimentar. Os runs são excitantes porque nunca há maneira de adivinhar quais vão ser os resultados.

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