Taliban recusam prolongamento do cessar-fogo proposto por Cabul

Foram dias “extraordinários”, mas o grupo radical que já controlou grande parte do Afeganistão não está pronto a baixar as armas.

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Fotografia de taliban e forças afegãs antes do ataque de sábado GHULAMULLAH HABIBI/EPA

Os taliban afegãos dizem que o cessar-fogo acordado durante o Eid al-Fitr, os três dias de festa que assinalam o fim do mês do jejum muçulmano, o Ramadão, provaram que o seu movimento está unido e conta com “apoio nacional generalizado”. O Presidente afegão, Ashraf Ghani, anunciou que vai manter a trégua por mais dez dias, mas os taliban não estão dispostos a fazer o mesmo.

Entre sexta-feira e domingo viram-se imagens inauditas, com centenas de taliban a deixarem as suas posições em zonas inóspitas e a entrarem nas cidades afegãs em viaturas com a bandeira do movimento, interagindo descontraidamente com o resto da população. Muitos terão reencontrado familiares, amigos, ou apenas voltado a ver os seus lugares de origem.

“Aquilo que testemunhámos nos últimos dias foi uma resposta esmagadoramente positiva de todos os afegãos à paz”, comentou o tenente-coronel Martin O’Donnel, porta-voz da força de apoio dos Estados Unidos às tropas afegãs. “Nem sequer o ataque à paz em Nangarhar realizado pelos inimigos do país abrandou o momento que se viveu a nível nacional ou fez diminuir as celebrações de uma há muito desejada cessação das hostilidades e uma oportunidade para uma paz duradoura.”

Sábado, um atentado com um carro armadilhado reivindicado pelo Daesh, que opera em algumas zonas do país, matou 36 pessoas num encontro entre taliban e soldados afegãos. O movimento chegou a apelar aos seus combatentes para não se misturarem com o resto da população, para não colocarem ninguém em perigo. Domingo, outro ataque matou 18 pessoas e deixou dezenas de feridos na mesma região do Leste, na província de Jalalabad.

Coragem ou erro?

Um diplomata ocidental ouvido pela agência Reuters na capital afegã, descreveu a proposta do presidente Ghani como “um passo corajoso”, questionando o que será feito se os taliban não alargarem o período de tréguas. E se não o fazendo, alguns permanecerem no interior dos centros urbanos? Para o ex-chefe da Direcção de Segurança Nacional, Amarullah Saleh, o chefe de Estado cometeu “um erro grave”, mesmo porque “não há mecanismos para mitigar as consequências de uma violação do cessar-fogo por parte dos taliban”.

A liderança do grupo divulgou um comunicado onde se pede aos “mujahedin [combatentes] por todo o país para continuarem as suas operações contra os invasores estrangeiros e as suas marionetas internas, como antes”. A trégua inicialmente negociada terminou às 19h30 (em Portugal continental), meia-noite no Afeganistão.

Quando já tinha passado quase uma hora do fim do prazo não havia notícias de confrontos e ninguém sabia ao certo quantos taliban poderiam ter-se deixado ficar, escondidos em zonas civis. As embaixadas em Cabul avisaram os cidadãos dos seus países para não viajarem entre cidades.

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