Bombeiros arguidos "não podem ser bodes expiatórios", afirma Jerónimo de Sousa

O secretário-geral do PCP fala em "pouca acção (...) em torno da questão da coordenação e do papel da Protecção Civil".

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Jerónimo de Sousa no quartel dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande. LUSA/Paulo Cunha

O secretário-geral do PCP defendeu este domingo que os bombeiros constituídos arguidos não podem ser "bodes expiatórios" do incêndio de Pedrógão Grande, afirmando existirem outros factores para a tragédia, como as políticas que provocaram a desertificação do interior.

"Não queria pronunciar-me em relação ao processo [judicial, sobre os acontecimentos de Junho de 2017] em si, mas o alerta que eu faço é que não tornem as coisas simples, particularmente aquelas que são demasiado complexas. Não se encontre bodes expiatórios em relação a um factor, até a uma responsabilidade, esquecendo as responsabilidades maiores de políticas durante décadas que levaram o nosso interior à situação em que se encontra", afirmou Jerónimo de Sousa.

Em declarações aos jornalistas no final de uma visita aos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, frisou que o comandante da corporação, Augusto Arnaut – um dos primeiros a serem constituídos arguidos no âmbito da investigação do Ministério Público – está "naturalmente preocupado" e "com um sentimento de injustiçado".

Jerónimo de Sousa adiantou que o conjunto de factores se prende, em Pedrógão Grande, com a realidade do concelho do interior do distrito de Leiria, realidade económica e social "que conduziu a este drama".

"Para além da particularidade de um fenómeno excepcional, brutal que aqui aconteceu há um ano", acrescentou.

O líder comunista disse ainda que o comandante Augusto Arnaut "com todas as preocupações, quer continuar" em funções "a dar o seu contributo e a sua demanda contra os fogos".

Jerónimo de Sousa considerou que um ano após a tragédia "mudou pouco" em Pedrógão Grande, exemplificando com o espaço do quartel de bombeiros, alvo de melhoramentos, mas onde o investimento que foi feito "resultou de fundos de solidariedade que muitos e muitos portugueses tiveram com estas populações devastadas pelos incêndios", observou.

"Alguma melhoria em relação às instalações, alguma evolução positiva particularmente na formação de bombeiros, mas há aqui um obstáculo que continua a bloquear as soluções que é o processo de desertificação e despovoamento", frisou Jerónimo de Sousa, alegando que "muito e muitos" eventuais jovens candidatos não têm disponibilidade para abraçar o voluntariado nos bombeiros por não estarem a trabalhar e a residir no concelho.

"Há aqui um retrocesso, uma dificuldade, em relação a meios humanos disponíveis para responder a este problema", acrescentou.

O secretário-geral do PCP apontou ainda a "pouca acção, e pouca é uma palavra optimista, em torno da questão da coordenação e do papel da Protecção Civil".

"Têm decorrido umas reuniões normais, que acontecem, mas muita indefinição em relação a quem é quem e faz o quê, nomeadamente num quadro integrado, em que, do nosso ponto de vista, continuam a existir grandes atrasos e dificuldades de implementação de um verdadeiro serviço de Protecção Civil", declarou.

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