Na Rússia, o Ramadão não será uma limitação

Período terminou na noite de quinta-feira, dia inaugural da competição. Domingos Paciência confirma que jejum tem influência na prestação dos atletas.

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Jogadores muçulmanos não terão de jejuar durante o Mundial Reuters/LEE SMITH

“Acredito que [o jejum] possa ter impacto. Os atletas têm a necessidade de ingerir alimentos ricos em proteína. Estarem impedidos de ingerir alimentos durante um longo período de tempo é difícil e é natural que o corpo sinta carências”. Domingos Paciência, que já treinou atletas muçulmanos que cumpriram o jejum do Ramadão, não tem dúvidas sobre o impacto que a tradição religiosa tem no desempenho dos atletas. Felizmente para a maioria das equipas que participam no Mundial 2018, na Rússia, o período do Ramadão terminou no pôr-do-sol de quinta-feira (14 de Junho), antes do arranque da competição. A tarefa agora é recuperar, num curto período de tempo, os atletas que cumpriram um dos rituais mais importantes da religião muçulmana.

Em Maio, o guardião tunisino Mouez Hassen foi notícia quando, em dois jogos de preparação — um deles contra Portugal — “fingiu” lesões no momento em que o sol se punha no horizonte, permitindo aos seus companheiros quebrarem o jejum no banco de suplentes. No Mundial da Rússia, tal expediente não será necessário, visto que o período de jejum terminou na noite de quinta-feira, dia em que a competição de selecções teve início. Apenas a Arábia Saudita teve de jogar sem qualquer alimento ou bebida ingeridos, saindo derrotada frente ao país anfitrião, por 5-0, no jogo inaugural.

Mo Salah, estrela egípcia e jogador do Liverpool, fez manchetes quando quebrou o jejum antes da final da Liga dos Campeões, frente ao Real Madrid. Ruben Pos, fisioterapeuta da equipa inglesa, revelou à rádio espanhola Onda Cero que o jogador traçou um plano com um nutricionista, de modo a estar na máxima força para a final. Na preparação da selecção egípcia, não se olhou a custos na conjugação entre a religião e a competição: “Planeamos esta situação desde o início de 2018. Temos um programa nutricional feito por um inglês que contratámos. Ele trouxe grande valor à nossa equipa, a começar em Zurique (no nosso centro de treinos em Março) e continuará até ao final do Mundial”, disse ao Arab News, o director da selecção do Egipto, Ehab Leheta.

Na altura da competição, os jogadores têm a hipótese de “trocar” dias de jejum, adiando-os para outro período no calendário muçulmano, de modo a estarem na máxima força para as partidas. Apesar dessa opção, muitos atletas cumprem o jejum do Ramadão nas datas estipuladas, não bebendo ou ingerindo qualquer alimento desde o nascer-do-sol até à noite.  Na selecção senegalesa, Aliou Cissé — também ele muçulmano — deixou bem clara a sua opinião: “Toda a gente sabe que o futebol ao mais alto nível não é compatível com o Ramadão. Sou responsável pela saúde destes jogadores”, disse o técnico aos órgãos de comunicação locais.

Marrocos, adversário de Portugal na fase de grupos, foi a equipa muçulmana mais reservada. Nenhum membro da federação marroquina relevou o regime de recuperação dos jogadores ou, até, se esse mesmo período de abstinência foi cumprido. Ao contrário do Mundial de 2014 — disputado sob temperaturas extremas —, o Ramadão chegou ao fim antes do início da competição para seis das sete equipas provenientes de países cuja população é maioritariamente muçulmana.

Texto editado por Nuno Sousa

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