Doentes criticam demoras no Algarve. No Centro há "grandes perturbações"

Muitos doentes manifestam o seu desagrado com o protesto desta sexta-feira. "Os serviços de saúde já não funcionam bem nos dias normais..."

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Rui Gaudêncio

Utentes do Hospital de Portimão e de unidades de saúde de Vila Real de Santo António, no Algarve, criticaram nesta sexta-feira o tempo de espera para atendimento e para marcação de consultas, motivado pela greve dos trabalhadores da saúde. O cenário repete-se noutros pontos do país.

No Hospital de Portimão, várias dezenas de pessoas aguardavam, pelas 10h, para serem atendidas nas consultas externas, enquanto nos serviços de urgência o atendimento decorria com normalidade, com pouca afluência, não se fazendo notar os efeitos da paralisação.

Nas consultas externas daquela unidade de Portimão, apenas duas funcionárias asseguravam o atendimento, motivando várias críticas. "Isto não é admissível, o atendimento para as consultas e exames está muito demorado. Os funcionários deviam respeitar mais os doentes, pois, por vezes, não têm condições para suportar a demora", disse à Lusa um dos utentes das consultas externas daquela unidade de saúde.

José de Freitas lamentou o facto de as "greves apenas penalizarem quem tem necessidade de recorrer aos serviços de saúde", sublinhando que quem ali se desloca "não o faz por prazer". O descontentamento pelo elevado tempo de espera era o sentimento comum dos vários utentes ouvidos pela Lusa, que partilhavam também as críticas aos funcionários "por ser marcada a greve para uma sexta-feira".

"Os serviços de saúde já não funcionam bem nos dias normais em que não há greve e os funcionários escolhem precisamente uma sexta-feira para a greve. Isto só demonstra que não estão preocupados com os serviços, mas apenas com o seu bem-estar pessoal", indicou Carlos Pacheco, enquanto aguardava para ser atendido.

Além do atendimento, a paralisação está a ter também efeitos ao nível dos auxiliares, com poucos profissionais nos serviços, conforme constatou a Lusa no local.

Vila Real de Santo António: postos de atendimento vazios

Em Vila Real de Santo António, os utentes do Centro de Saúde tinham de manhã sortes distintas, se pertencessem à Unidade Saúde Familiar (USF) Esteva ou à Levante, as duas que integram o centro.

Na USF Esteva, os postos de atendimento administrativos estavam vazios e as salas de espera sem pessoas e apenas estavam a ser feitas algumas consultas já programadas, mas com limitações ao nível de marcações e de actos administrativos, como explicou à agência Lusa uma doente que viu o seu atendimento ser adiado. "Eu vinha à consulta do dia, por causa de uma dor na garganta, mas disseram-me que não podia fazer nada por causa da greve e pediram-me para vir na terça-feira", disse António Castro.

Se na USF Esteva apenas era visíveis corredores com poucas pessoas e praticamente vazios, na USF Levante o ambiente era já diferente e nas salas de espera podiam-se ver utentes a aguardar pelo atendimento e a sua consulta. "A funcionária administrativa que assiste a médica veio trabalhar e tudo correu normalmente, mas sei de pessoas que tiveram dificuldades hoje aqui no centro de saúde", afirmou Carla Fragoso, que se deslocou a Vila Real de Santo António de uma localidade a cerca de cinco quilómetros para acompanhar um familiar à consulta.

Centro: adesão de 90%

Nos centros de saúde e hospitais da região Centro há registo de "grandes perturbações", afirmou um dirigente sindical, sublinhando que a adesão nesta zona do país é superior a 90%. "Em todos os locais se sentem grandes perturbações, quer nos centros de saúde, quer nos hospitais", disse à agência Lusa o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas (STFP) do Centro, José Dias.

Segundo o dirigente sindical, durante o turno da noite, apenas foram cumpridos os serviços mínimos nas principais unidades hospitalares da região Centro, seja em Coimbra, Figueira da Foz, Leiria, Aveiro, Viseu ou Guarda.

Depois de uma adesão "praticamente total" durante a noite, nos turnos da manhã sentem-se perturbações muito elevadas nos diferentes hospitais, nomeadamente nas "cirurgias programadas, urgências e internamentos".

Já nas consultas externas, regista-se também uma grande adesão, com várias consultas a não funcionarem, acrescentou.

"A adesão é transversal e enorme porque os trabalhadores estão cansados. A falta de pessoal é imensa", sublinhou José Dias.

Os trabalhadores reivindicam a aplicação do horário de trabalho de 35 horas semanais, progressão de carreira, dignificação das carreiras da área da saúde, reforço de recursos humanos, pagamento de horas de trabalho extraordinário, e a aplicação do subsistema de saúde ADSE (para funcionários públicos) a todos os trabalhadores.

No pré-aviso de greve estão abrangidos os trabalhadores, excepto médicos e enfermeiros, que trabalham nos serviços tutelados pelo Ministério da Saúde, como os hospitais, que "sentem forte indignação pela degradação crescente das suas condições de trabalho".

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