Aprender a ser porco

Os cães não têm culpa. A culpa é de quem sabe perfeitamente o que deve fazer - mas decide não fazer.

Vou dizer isto de maneira a não magoar ninguém. Ao longo dos últimos anos tenho metido conversa com pessoas que levam os cães para defecar na praia e depois vêm-se embora sem apanhar os cocós.

Há que dizer que a situação tem melhorado: hoje há mais pessoas que apanham os cocós do que os que não apanham. Há também uma nova gentinha: aquela que finge não ver o que o cão está a fazer. Se chamarmos a atenção lá rapam dum saquinho e cumprem o dever. Senão o saquinho fica para a próxima encenação.

Os que mais me encanitam são os estrangeiros que nasceram em países onde quase toda a gente apanha os cocós mas aqui em Portugal não se dão a esse trabalho. Há uns que até conhecem as leis e que as citam: antes e depois das não sei quantas horas não é ilegal que um dono dum cão não apanhe os cocós. E por isso não apanham.

Pergunto como é que é no país deles. Alguns reconhecem que se comportam de maneira diferente. Esta semana um deles teve a lata de elogiar a cultura portuguesa por ser mais despreocupada e mais livre. Ou seja: nós os portugueses tínhamos ensinado este estudioso a marimbar-se mais para as leis, para os outros ...e para a higiene.

Os portugueses fazem o mesmo quando estão em países mais despreocupados e livres (leia-se: mais pobres). É uma hipocrisia humana. Mas para quem vive em Portugal, português ou estrangeiro, interessa quem é que nos está a largar cagalhões na praia.

Os cães não têm culpa. A culpa é de quem sabe perfeitamente o que deve fazer - mas decide não fazer.

 

 

 

 

 

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