Regling aconselha Portugal a “aproveitar os bons tempos” para reduzir a dívida

Presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade diz que é "inevitável" um abrandamento da economia.

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Klaus Regling, presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade, durante a conferência organizada pelo PÚBLICO em Lisboa Daniel Rocha

Portugal precisa de aproveitar os bons tempos que está a atravessar actualmente para reduzir as suas fragilidades e preparar-se para um abrandamento da economia que é “inevitável”, defendeu nesta segunda-feira em Lisboa o presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), Klaus Regling.

Na sua intervenção na conferência O Futuro do Mecanismo Europeu de Estabilidade, organizada pelo PÚBLICO, Regling apresentou Portugal como um dos “bons exemplos” da estratégia seguida na zona euro para combater a crise.

O presidente do MEE – a entidade criada durante a crise para garantir o financiamento para os empréstimos concedidos aos países que assinaram programas de ajustamento com a troika de credores internacionais – destacou o ambiente positivo que se vive na economia portuguesa, onde “as pessoas sorriem mais agora do que há três anos”.

Regling assinalou desenvolvimentos como a descida do desemprego, o facto de as exportações estarem agora a contribuir para o crescimento e a maior resiliência do sector bancário. Ainda assim, fez questão de afirmar o presidente do MEE, “há muito desafios pela frente”. Em particular, Regling avisou que o ritmo de crescimento da economia vai nos próximos anos caminhar para o seu nível potencial, que é mais baixo do que o actual. Tal, afirmou, é “inevitável”.

Para Regling, isto significa que “Portugal precisa de aproveitar os bons tempos para reduzir as suas fragilidades”, como a dívida pública “ainda muito elevada. “Quando o crescimento for mais baixo, isso será mais difícil”, disse.

O FMI europeu

Depois dos elogios e avisos a Portugal, Klaus Regling centrou-se no papel que o MEE poderá ter no cenário que sair do processo de reforma da zona euro. O presidente da instituição assinalou que o MEE emprestou 280 mil milhões de euros para os países que executaram programas e que, graças aos prazos longos e taxas de juro baixas que pratica, permite que Portugal poupe anualmente 1300 milhões de euros em encargos com a dívida (na Grécia calcula que a poupança seja de 10.000 milhões).

Para o futuro, Regling assume que, com o Fundo Monetário Internacional a reduzir o seu papel na zona euro, futuros resgates e programas de ajustamento poderão vir a ser realizados pela Comissão Europeia e pelo MEE. No entanto, garantiu, não quer tirar qualquer competência à Comissão. “Isso só seria possível com uma alteração de tratado, o que demorará algum tempo”. 

Aquilo em que o MEE poderá ajudar, defendeu Regling, é sobretudo nas questões relacionadas com a sustentabilidade financeira dos países e o acesso aos mercados, ajudando a estabilizar países da zona euro, “antes que pequenos problemas se tornem em grandes”. O trabalho das duas instituições “poderá ser feito de forma muito produtiva”, defendeu, recusando a ideia de que possa haver problemas na divisão de trabalho que irá ser realizada entre uma entidade com perfil mais técnico (MEE) e uma com um perfil mais político (Comissão Europeia).

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