Neste Bacchanal o vinho também se quer o senhor da festa

Uma drogaria transformada numa espécie de barra espanhola, no centro da movida da capital. Bebe-se vinho e petisca-se à portuguesa, com embalo jazz e blues.

Centro Comercial, Café
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Na Roma Antiga, era um ritual de adoração a Baco, deus do vinho, por ocasião das vindimas. Do latim bacchanalia, o bacanal arrancava com uma cerimónia séria e contida, que se transformava numa comemoração pública e festiva. Essa “celebração do vinho” cola perfeitamente no Bacchanal, um dos mais recentes bares do Cais do Sodré, que, apesar de estar em pleno centro da movida da capital, se quer mais recatado. Assim, o nome até parece nem assentar, mas garante quem o criou que ali o vinho é mesmo o senhor da festa.

Já que estamos para viagens no tempo, recuemos agora apenas 100 anos, quando uma drogaria foi ocupar o número 28 da Rua do Corpo Santo. Um século mais tarde, e depois de fechado há mais de duas décadas, Victor Cordeiro escolheu-o para casa do Bacchanal.

Depois de dois meses de obras, o bar abriu em Abril, como um espaço “intimista”, pensado a partir da traça da velha drogaria. As empoeiradas e gastas madeiras dos armários foram restauradas e foi-lhes devolvida a cor verde original. O extenso balcão de pedra, assim como o chão de mosaico, que mistura o verde, o amarelo e o vermelho, já gastos pelo tempo, foram mantidos.

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É o segundo espaço que Victor abre com a mulher, Catarina, depois de ter lançado o Loucos de Lisboa no Príncipe Real, no ano passado. E depois de terem regressado há dois anos de Maputo, em Moçambique, onde estiveram perto de cinco anos.

E é também a segunda vez que “assaltam” o baú dos avós para ir buscar um ou outro armário, caixinhas antigas. “Posso abrir mais dez bares que tenho coisas para pôr nos dez”, brinca Victor. Ali, privilegia-se o pormenor. Da torre de cerveja antiga que Victor pediu à Central de Cervejas, “para que não destoasse do ambiente do espaço”, à colecção de miniaturas de garrafas — que já vai nas cinco mil — e que o empresário vai distribuindo pelos seus dois espaços.

No lugar outrora ocupado por frascos de químicos, Victor encheu as vitrinas de vinhos, divididos por regiões: Trás-os- Montes, Dão, Beiras, Douro, Bairrada, Lisboa e Tejo, Setúbal e Palmela, Alentejo e Algarve. Todos portugueses. E, ali, não há vinhos de grandes quintas. “É tudo de pequenos produtores”, assinala o empresário de 42 anos.

“O que eu queria aqui era criar um género de uma barra espanhola”, conta. Para que as pessoas se sentem ao balcão, experimentem “um bom vinho, um bom cocktail, um belo petisco português”. Pode pedir um copo de vinho (entre os 5 e os 8 euros) ou logo uma garrafa por sugestão — ou não — do enólogo que ali está para ajudar na escolha.

Mas nem só de bebida se faz a carta do Bacchanal. Há petiscos – portugueses, com certeza — para acompanhar. Há chouriço assado na canoa, tábuas de queijos (14€) e enchidos portugueses (12€), bruschetta (a partir de 4€), sandes de queijo da Serra, de presunto, mista ou de leitão (entre os 5 e os 6€).

A carta das bebidas não se fica pelos vinhos. Há também whisky e gin. E “cocktails de autor”, que privilegiam a fruta portuguesa, como o Tiro-Liro, preparado com gin, Campari, licor Beirão, hortelã e gengibre (10€), o Maria Faia, com moscatel, vodka, espumante, pêssego e canela (8€), ou o Adamastor, com aguardente, frangélico e ginjinha (8€).

O espaço não é muito grande, mas esse nunca foi um problema, nota Victor. “Gostamos de falar com o cliente, de lhes perguntar o que gostam, o que não gostam. De dar a provar. É por isso que eu também não gosto de grandes euforias”, afirma, apesar de ter aberto o bar no epicentro da noite lisboeta, entre vizinhos como o Viking, o Sabotage ou o Copenhagen.

À essência vintage do espaço, junta-se a banda sonora, que prima pelo jazz, pelo foxtrot e pelo blues. “Viemos dar uma oferta a quem procura uma coisa mais calma.”

O Bacchanal abre ao final da tarde, às 18h, e encerra às 2h00. Para o Verão, o horário poderá ser alargado, diz Victor, que gostaria de, no futuro, abrir mais espaços em Lisboa. Com Baco ou sem Baco, terão de ser locais com “algum valor”, garante o proprietário. E sempre com “história” dentro.

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