Quem faz tratamento para o VIH ajuda a travar cadeia de transmissão do vírus

Não há risco de as pessoas que têm carga vírica indetectável transmitirem sexualmente o vírus. Esta é a chamada de atenção da nova campanha da Abraço, lançada no 26.º aniversário da associação.

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As pessoas com VIH podem ser o centro do controlo da epidemia, uma vez que a cadeia de transmissão do vírus é interrompida se todos os infectados fizerem o tratamento da infecção. Na passada terça-feira, dia em que celebrou 26 anos, a Abraço - associação de apoio a pessoas infectadas e afectadas pelo vírus da imunodeficiência humana - lançou uma campanha contra o estigma ainda associado à doença, chamando a ciência para o combater: não há risco de as pessoas que têm carga vírica indetectável transmitirem sexualmente o vírus.

A campanha com o slogan “i=i – Indetectável é igual a intransmissível” é o veículo encontrado para divulgar um facto consensual, mas ainda desconhecido por daqueles que contactam com a infecção, afirma o presidente da Abraço, Gonçalo Lobo. O de que as pessoas que fazem o tratamento para reduzir a carga vírica no organismo, ao ponto deste ser indetectável, não transmitem sexualmente o vírus. “Pode ter relações sexuais, inclusivamente desprotegidas”, completa.

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Em Portugal, o acesso ao tratamento da infecção por VIH “está garantido”, ainda que a Abraço reconheça que “há algumas nuances a serem trabalhadas”. O que se impõe agora é garantir que as pessoas acedem aos cuidados de saúde e permanecem em tratamento. “Precisamos que as pessoas façam o rastreio, sejam colocadas em tratamento e que esse tratamento seja eficaz – que já o é – para reduzir a carga vírica no organismo ao ponto de ser indetectável”, diz Gonçalo Lobo. Trata-se, sublinha, de “colocar a pessoa com infecção por VIH no centro do controlo da epidemia”.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, Portugal registou, em 2016, 1030 novos casos de infecção por VIH. Na associação é frequente ouvirem-se relatos de pessoas que têm dificuldade em estabelecer relações afectivas e de proximidade, "exactamente por estarem infectadas com VIH”, e que sentem que há profissionais de saúde que reforçam o estigma associado à infecção. “Esta campanha vem-lhes retirar essa culpabilização e pôr um ponto final” nas dúvidas e preconceitos sobre a forma como o vírus é transmitido, reforça Gonçalo Lobo.

A Abraço tem utentes com carga vírica indetectável “há vários anos”. Fazem o tratamento para cuidar de si e dos outros, nota o presidente. “Por um lado a pessoa está a cuidar da própria saúde – tendo um sistema imunitário forte e estabelecido, o que faz com que muito dificilmente fique doente por outras razões. Por outro, não constitui forma de transmissão para os seus parceiros”, sublinha.

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O i=i é já um movimento internacional, com campanhas em 70 países, a que a Abraço se associou para trazer a mensagem para Portugal. Lançado no início de 2016, é reconhecido pela agência dos EUA que reúne os vários Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês).

Em Portugal, a campanha foi lançada na terça-feira nas redes sociais e, é intenção da Abraço, que os cartazes cheguem em breve a todas as consultas de infecciologia dos hospitais e centros de saúde.

No seu 26.º ano enquanto associação, a Abraço – que nasceu em Dezembro de 1991 pelas mãos de um grupo de voluntários do Hospital Egas Moniz, em Lisboa – quer perceber como se pode melhorar o envelhecimento de alguém com uma doença crónica como o HIV e desenvolver a relação a saúde com as novas tecnologias.

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