Caravanas de Chico esgotam seis coliseus num ansiado reencontro

Doze anos depois dos seus últimos concertos em Portugal, o cantor e compositor brasileiro estaciona sábado e domingo no Porto, e dias 7, 8, 9 e 10 em Lisboa, sempre às 21h30.

Chico Buarque
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Chico Buarque numa das apresentações de Caravanas no Brasil LEO AVERSA
Caravanas, Brasil
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Chico Buarque numa das apresentações de Caravanas no Brasil LEO AVERSA

Finalmente, Chico Buarque volta a cantar em Portugal. Doze anos após uma verdadeira maratona de concertos com Carioca, em 2006 (um no Casino de Espinho, três no Coliseu do Porto e seis no Coliseu de Lisboa, dos quais dois extra), e de uma tentativa gorada para o trazer em 2012, para apresentar o álbum Chico, lançado no ano anterior, eis que ele enfim regressa com um novo disco, Caravanas, e com uma resposta entusiástica do público: seis coliseus esgotados. Quem já conseguiu arranjar bilhete poderá vê-lo no Porto sábado ou domingo, ou em Lisboa nos dias 7, 8, 9 e 10, sempre às 21h30.

Eleito pela crítica brasileira disco do ano em 2017, Caravanas é um trabalho sólido e brilhante, que, como à data do seu lançamento se escreveu no PÚBLICO, “mantém elevado o padrão a que o autor nos habituou”. Neste momento, é provável que muitos portugueses já tenham colada ao ouvido a melodia, mescla de lundu e Bach, que alimenta Tua cantiga, tema que valeu a Chico infundadas acusações de machismo (a letra da canção, onde Chico cita deliberadamente Shakespeare, vai até em sentido contrário). E é provável também que As caravanas ou Blues para Bia façam já parte do cancioneiro, tão vasto e tão rico, mais reconhecível do compositor. Mas importa reter a ideia de que, na obra de Chico Buarque, Caravanas não tem um “discurso” isolado, antes explora temas que lhe são caros, como o das geografias urbanas e o dos territórios e das cicatrizes do amor.

Arranjos contemporâneos

Nos espectáculos desta digressão, que já percorreu várias cidades brasileiras, as nove canções do novo disco (além das já citadas há ainda Casualmente, A moça do sonho, Desaforos, Dueto, Jogo de bola e Massarandupió) juntam-se a outras do seu repertório, do mais clássico ao mais recente. Abrindo e fechando com Minha embaixada chegou (“Minha embaixada chegou/ Deixa meu povo passar/ Meu povo pede licença/ Pra na batucada desacatar”), o concerto inclui ainda clássicos do fim dos anos 60 (como Sabiá ou Retrato em branco e preto), dos anos 70 (Mambembe, Partido alto, Gota d’água, Homenagem ao malandro), dos anos 80 (As vitrines, Iolanda, A volta do malandro, A história de Lily Braun, Palavra de mulher, A bela e a fera, Todo o sentimento, Estação derradeira) ou até de anos mais recentes, como Outros sonhos, de 2006, Injuriado, de 1998, ou Grande hotel, de 1997. Esta última é uma parceria com Wilson das Neves, baterista que morreu em Agosto de 2017 e ao qual Chico (por décadas de trabalho conjunto) dedica o disco.

O alinhamento pode ser algo diferente em Portugal (canções como Geni e o zepelin ou Futuros amantes também já integraram outras apresentações), mas no essencial o que foi escolhido teve por propósito criar um todo coerente com os temas do novo disco. O maestro, arranjador e violonista Luiz Cláudio Ramos, responsável pela direcção musical, que trabalha com Chico Buarque desde 1994 (ano da digressão de Paratodos), disse à Folha de São Paulo: “Muitas pessoas acham que é uma coisa puramente técnica, mas há um lado criativo mesmo, de conceber frases que complementem a música.” Por isso fez arranjos diferentes dos originais, dando às canções vestimentas mais contemporâneas.

Como num romance

Os ecos na imprensa brasileira têm sido positivos. “Trata-se de uma apresentação bem costurada, executada por músicos que esbanjam sinergia”, escreveu Amanda Nogueira na Folha Ilustrada. Carlos Marcelo, no Correio Braziliense, anotou por sua vez: “O script é meticulosamente arquitectado pelo autor, como se fossem capítulos de um romance. A iluminação se adapta às sequências de canções: os blues, os sambas, os amores, as catarses.” E Mauro Ferreira, n’O Globo, terminou assim a sua crítica à noite de estreia: “Fiel à ideologia da obra e do cidadão, o artista brada no show Caravanas pela batucada do povo dessa nação encoberta por noites de fogueiras desvairadas. É esse grito solto no palco e no ar que engrandece Caravanas e torna irrelevantes as reiterações e falhas em cena do artista, voz resistente da civilização encruzilhada.” Nota do crítico? Cinco estrelas.

Com Chico Buarque estarão, nos palcos dos coliseus, Luiz Cláudio Ramos (violão), João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e coro), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (contrabaixo), Marcelo Bernardes (flauta e sopros) e Jurim Moreira (bateria).

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