Faculdade de Medicina do Porto "preocupada" com pediatria do São João

Entidade vai enviar ao Governo uma carta na qual é descrita como "inaceitável a condição de ensinar, aprender e investigar num centro universitário depauperado numa área clínica nuclear, a pediatria".

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ADRIANO MIRANDA

A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e a respectiva Associação de Estudantes (AEFMUP) manifestaram nesta terça-feira "preocupação" face ao estado do serviço de pediatria do Hospital de São João.

Paralelamente vai ser enviada ao Governo uma carta na qual é descrita como "inaceitável a condição de ensinar, aprender e investigar num centro universitário depauperado numa área clínica nuclear, a pediatria".

"As notícias recentes sobre as hesitações da tutela quanto à resposta assistencial à população pediátrica na zona norte do país provocam, no mínimo, surpresa e inquietação a uma instituição de referência no ensino superior em Portugal", lê-se na carta que resulta de uma tomada de posição da FMUP, bem como de docentes doutorados do Departamento de Ginecologia, Obstetrícia e Pediatria que acumulam funções médicas no Centro Hospitalar de São João.

O documento vai ser remetido ao ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, ao qual querem manifestar "preocupação com a forma como está a ser gerida a situação por parte do Governo".

Já numa nota remetida à agência Lusa, a directora da FMUP, Maria Amélia Ferreira, considera ser "contraproducente estar a ser feito investimento na criação dos centros académicos clínicos enquanto, por outro lado, se limita a actuação dos hospitais universitários".

"Acreditamos que a capacidade de pensamento crítico dos governantes prevalecerá sobre qualquer interesse que não o que valorize a melhor formação e o cuidado dos utentes e, enquanto instituição que tem como missões o Ensino, a Investigação e a Assistência, não podemos pactuar com qualquer situação contrária", acrescenta a responsável.

Para a FMUP e para a AEFMUP "a aprendizagem integrada, algo que é possibilitado pelos centros académicos clínicos, não poderá ser posta em causa por flutuações de perspectivas políticas dos governantes".

"Até ao momento temos conseguido assegurar a qualidade da prestação dos nossos serviços, mas apenas a custo de um esforço de docentes e estudantes. É necessário resolver esta situação o mais depressa possível", anota Maria Amélia Ferreira.

Situação denunciada pelos pais

Estas entidades enumeram que na vertente de produção de conhecimento, o manifesto alerta para o impacto que a investigação desenvolvida na FMUP (48 artigos científicos publicados durante 2017) tem na saúde das crianças, sublinhando o facto de as sinergias entre a FMUP/Pediatria terem permitido desenvolver inúmeros progressos na área da saúde deste grupo populacional.

Esta tomada de posição surge depois de há cerca de um mês alguns pais terem denunciado que há crianças a fazer quimioterapia nos corredores do hospital São João, perante a falta de verbas do Ministério da Saúde para fazer obras no serviço de pediatria.

Esta situação já gerou intervenções de vários partidos, bem como de associações, bem como a audição no Parlamento de vários responsáveis da tutela.

Na carta que está a ser preparada para enviar ao Governo constam dez perguntas sobre o futuro do ensino nesta instituição.

A direcção da FMUP e a AEFMUP dizem acreditar que o conhecimento acerca da formação médica, bem como a capacidade de pensamento crítico dos governantes prevalecerão sobre qualquer interesse que não o que valorize a melhor formação médica.

Ambas acrescentam acreditar que "a aprendizagem integrada, algo que é possibilitado pelos centros académicos clínicos, não poderá ser posta em causa por flutuações de perspectivas políticas dos governantes".

"Por tudo isto e como Instituição de Ensino Superior, não podemos pactuar com a intenção por parte da tutela, de fragmentar o ensino, avaliação e investigação da Pediatria", termina a carta.

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