Cidadãos temem que parque subterrâneo faça “afundar” o Rossio

Petição contesta projecto equacionado pela autarquia. Alberto Souto, ex-presidente da câmara, também já se manifestou contra. Ribau Esteves diz que nada está decidido

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ADRIANO MIRANDA

Mais de 1080 cidadãos já assinaram a petição pública contra a construção de um parque de estacionamento subterrâneo na zona do Rossio, em Aveiro. Os signatários deste documento temem que o projecto equacionado pela câmara municipal venha aumentar o trânsito “já de por si caótico nesta zona”. Receiam, ainda, “gravíssimos impactos do ponto de vista patrimonial e ambiental, descaracterizando a mais emblemática zona verde do centro histórico da cidade”, bem como a possibilidade de a obra “provocar danos estruturais significativos nos edifícios envolventes”, lê-se no documento. Reparos aos quais se juntaram os do ex-presidente da autarquia, Alberto Souto. O socialista considera que o projecto não faz sentido e aconselha prudência face à tipologia dos terrenos daquela zona da cidade.

“Sabendo-se que era uma antiga marinha e que tudo é lodo e água por baixo, os deslizamentos podem provocar sequelas irreparáveis no casario do Rossio”, adverte o antigo presidente da câmara municipal. Alberto Souto alerta que este pode ser mais um desses casos com “surpresas”, em que não se aplica esse princípio de que “a engenharia tudo resolve”, evocando o que “sucedeu há uns anos noutro Rossio, em Lisboa, e nas obras do canal dos Santos Mártires em Aveiro, em que o risco de as moradias colapsarem teve de ser atacado de urgência”.

Na sua tomada de posição em relação à intenção de construir um parque subterrâneo no Rossio, publicada na sua página de Facebook, Alberto Souto sugere que a opção passe por “olhar para 250 metros ao lado e perceber que a nova dinâmica da economia pode permitir retornar o projecto dos terrenos da antiga Lota, para onde ficou previsto um estacionamento”. “Com a Lota a dinamizar-se, alarga-se a frente urbana turística dos canais e liberta-se o Rossio da pressão”, sugere o antigo autarca.

Decisão depois dos estudos 

Ribau Esteves faz questão de vincar que o processo para a requalificação do Largo do Rossio ainda está “no tiro de partida” e que nada está ainda definido em absoluto. Depois de ter escolhido uma entre as oito propostas que se candidataram ao concurso de ideias, a autarquia terá agora de “fazer todos os estudos para tomar decisões”, realça. “O estudo geotécnico, para saber se o solo aguenta; o estudo de tráfego, do acesso ao parque e envolvente; e o estudo financeiro, para saber qual o custo”, enquadra o autarca. Ou seja, “a ideia base está tomada mas só mais lá para a frente é que se decidirá se irá haver parque subterrâneo ou não”.

Para já, a proposta que está em cima da mesa — e que vai ser apresentada publicamente esta quarta-feira— prevê a construção de um parque subterrâneo com 300 lugares e a eliminação dos 90 lugares que actualmente existem à superfície, mas não se limita a essa obra em concreto. “Também prevê a criação de uma grande praça urbana, com qualidade, limpa, um verdadeiro hall de entrada na cidade”, nota o autarca, acrescentando: “O Rossio já teve essas funções. Até já foi palco da Feira de Marco”.

Em declarações ao PÚBLICO, Ribau Esteves mostra-se preparado para ter “dezenas de reflexões com os projectistas e com as pessoas em geral” e “respeitando quem tem uma posição contra”. Confrontado com as críticas do antigo presidente da câmara, o autarca social-democrata classifica o acto como “uma deselegância”, “uma incorrecção institucional grave”. “Como ex-presidente da câmara de Ílhavo que sou, nunca emitirei nenhuma opinião sobre as decisões do meu sucessor”, exemplifica.

Entretanto, está marcada para esta quarta-feira — 18h00, no pequeno auditório do Centro de Congressos de Aveiro — a sessão pública de apresentação das ideias candidatas ao concurso público para a concepção da requalificação do Largo do Rossio. Em destaque vai estar ideia vencedora, que será apresentada pelos responsáveis da companhia que a apresentou a concurso.

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