Rose McGowan e a detenção de Weinstein: “É uma chapada no poder abusivo”

A actriz foi uma das primeiras que acusaram o produtor. Para ela, este é um "dia maravilhoso para quem sobreviveu" às agressões.

Foto
A actriz terá sido sexualmente agredida pelo produtor em 1997 Reuters/Rebecca Cook

Rose McGowan, uma das primeiras mulheres a acusarem Harvey Weinstein de abuso sexual, afirmou estar a viver “um momento muito importante”. O ex-produtor de Hollywood entregou-se na manhã desta sexta-feira à polícia nova-iorquina, foi ouvido em tribunal e acusado de violação e assédio sexual. Depois de pagar uma fiança de um milhão de dólares, saiu em liberdade com pulseira electrónica. Para a actriz Rose McGowan as acusações judiciais contra o produtor representa “uma chapada no poder abusivo”.

“Será um dia maravilhoso para quem sobreviveu [às suas agressões]. Se conseguirmos levar isto até ao fim, espero que consigamos emergir vitoriosos”, disse a actriz, em declarações à BBC, à luz dos acontecimentos da manhã desta sexta-feira.

Harvey Weinstein entregou-se às autoridades e foi formalmente acusado de violação, abuso sexual, má-conduta sexual e acto sexual de relevo, naquele que foi o primeiro processo criminal a visá-lo na sequência das investigações iniciadas em Outubro de 2017. Para além da fiança, foi obrigado a entregar o passaporte e está impedido de sair dos estados de Nova Iorque e do Connecticut. 

Paralelamente, o co-fundador dos estúdios Miramax está ainda a ser investigado noutras cidades norte-americanas e a nível federal pelo FBI.

Rose McGowan foi uma das primeiras mulheres a acusá-lo de abuso sexual. De acordo com a sua versão dos acontecimentos, a agressão sexual de que foi vítima remonta a 1997 e apenas foi calada durante duas décadas porque Weinstein chegou a acordo com a queixosa e lhe pagou 100 mil dólares.

McGowan, então com 23 anos, terá sido convencida a reunir-se com o produtor no seu quarto. Tal como relatou no livro que escreveu sobre a experiência, intitulado Brave, conversaram durante cerca de meia hora sobre a sua carreira e a promoção do filme Going All the Way, com Ben Affleck. Pouco depois terá sido agarrada,despida e violada.

Desde que os primeiros relatos de abuso sexual em Hollywood começaram a surgir, em 2017, Rose McGowan tornou-se um dos rostos do combate judicial contra o abuso sexual nos meandros de Hollywood e, especificamente, contra o produtor agora caído em desgraça.

A actriz foi, também, das primeiras a reagirem às notícias desta sexta-feira: “Eu e tantas outras vítimas já tínhamos perdido a esperança de que o nosso violador viesse a ser responsabilizado pela lei”, escreveu num comunicado citado pela Reuters.

As acusações contra o co-fundador do estúdio Miramax ajudaram a criar o movimento #MeToo, que serviu de plataforma à partilha de histórias de abuso sexual. A sua criadora, Taran Burke, disse à revista Variety na quinta-feira, que esperava que as acusações contra Weinstein representassem uma mudança na forma como a violência sexual é tratada. “Isto representa uma mudança do tribunal da opinião pública para um tribunal a sério”, disse Burke. “É muito catártico para uma data de sobreviventes, até para sobreviventes que não se sentem necessariamente vitimizadas por ele.”

Harvey Weinstein – que continua a negar a existência de relações sexuais não consentidas – foi expulso da Academia norte-americana de Cinema na sequência das dezenas de denúncias que surgiram. O caso assumiu proporções de escândalo, com ramificações a outras áreas da cultura, da política e da economia, depois de oito mulheres terem tornado públicas as histórias de assédio sexual e contacto não solicitado que envolviam o produtor de Hollywood. Actualmente, mais de seis dezenas de mulheres vieram a público denunciar o comportamento de Weinstein.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários