Em Havana, as portas estão sempre abertas

Se em Havana as portas estão sempre abertas, não é por culpa do calor, mas das pessoas que vivem para a rua, na rua, pela rua, para os outros, com os outros

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Alexander Kunze/Unsplash

E não, não é apenas do calor, do muito calor desde a chegada, um olá quente à saída do avião num convite imediato para ficar, para não partir de regresso aonde chove, e chove, e chove, e não sei se já o disse, e chove sem parar. 

 

Mas não, se em Havana as portas estão sempre abertas, não é por culpa do calor, mas das pessoas que vivem para a rua, na rua, pela rua, para os outros, com os outros, pelos outros, nós, acabados de chegar, ainda a arranhar o chão e o espanhol, e o resto da cidade, num clima de liberdade e alegria.

 

Desde logo a alegria das crianças, vestidas a preceito e de uniforme, todas ao molho e fé em Deus aos pulos no meio da rua enquanto a música latina bomba por entre portas e janelas e as pessoas se juntam à multidão, este que vos escreve incluído, canção após canção até que todos, juntos e em uníssono, gritamos por “más una, más una”, mas já não há mais uma e as professoras arrumam os alunos de volta às salas de aula de janelas e portas abertas para quem lá fora passa.

 

E depois a liberdade de andar na rua, de manhã à noite, estranhos numa terra estranha e nova mas onde todos somos cubanos, onde todos somos bem-vindos depois das guerras e depois do sangue, depois da independência e do garante de todo um povo à gerência de uma terra, a sua, mas também a de todos, como se estivéssemos de volta a casa sem nunca atravessar o oceano.

 

E talvez seja este o maior problema, o maior desafio para quem visita Cuba, porque a começar pelo calor, passando pelas ruas de todas as cores, as varandas coloniais, as varandas tropicais, os Chevrolets e Cadillacs dos anos 50 em trânsito contínuo pelas grandes avenidas, os pátios ao sol entre dois cafés, a beira-mar sempre presente, os músicos cubanos em cada café, os músicos cubanos em cada esquina, a música cubana em cada esquina, os fortes e os museus, as praças ladeadas por catedrais, cafés, restaurantes e bares em terraços, o marisco ao preço da chuva e as bebidas também, os batidos de frutas, a fruta-bomba, sem esquecer as praias de azul-marinho e acabando no rum, é muito difícil não gostar de Cuba.

 

E sim, se em Cuba não há excedentes, a verdade é que os excedentes, o consumismo, o excesso não são necessários. A educação, a saúde e a habitação estão garantidas, já em Portugal é o que se vê, sem falar em tantos outros países ocidentais quando se morre de frio nas ruas de Inverno. 

 

E nenhum cubano inveja a nossa sorte, afinal esta é a terra deles, reconquistada a ferro e fogo, para si e para que as gerações futuras possam continuar a viver a liberdade, com muito calor e ainda mais rum à mistura.

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