Vamos ao cinema? Não, vamos ao cineclube

São espaços de convívio, reflexão e memória. Os dez cineclubes nesta lista estão fora do Porto e Lisboa, têm uma programação regular e oferecem uma alternativa (mais barata) aos cinemas comerciais. Afinal, ainda há muito por onde escolher — envia-nos mais sugestões

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Noom Peerapong/ Unsplash

Cineclube Locus Cinemae, em Caminha (Viana do Castelo)
Sérgio Cadilha é sócio fundador do Locus Cinemae. Isto significa que está por lá desde 2012, juntamente com um “grupo de associados muito fiel e heterogéneo”, que não tira o olho da programação do cineclube em Caminha. Por mês, os sócios pagam um euro e meio — um valor simbólico, já que todas as sessões no auditório do Museu Municipal de Caminha são gratuitas para toda a gente. Surgiu para dar resposta “à total ausência de cinema no concelho de Caminha” (entretanto colmatada também por um outro cinema em Vila Praia de Âncora) e, antes de cada sessão, costumam falar com o público sobre o processo de realização e produção do filme. Em cada sessão, à sexta-feira, comparecem uma média de 25 pessoas, número que aumenta para as exibições de "cinema concerto" no Verão. A programação apoia-se nos “clássicos e nas grandes referências”: em Abril, por exemplo, há um ciclo de quatro para ver, em francês, a começar por Toni (1935), de Jean Renoir, dia 6.

Cineclube de Guimarães
As terças servem para recordar os clássicos, as quintas para explorar o cinema europeu e outras cinematografias e os domingos são para trazer toda a gente ao cinema. É esta a fórmula de um dos cineclubes que reúne mais espectadores no país. Carlos Mesquita, director do Cineclube de Guimarães, fundado em 1958, explica que ainda hoje apostam numa “estratégia associativa” (contam com cerca de 850 sócios com quotas em dia) e vê como “um erro desvalorizar este lado dos clubes”. “Isto tem um lado cinéfilo mas também cultiva o convívio”, diz, explicando, por exemplo, que as exibições têm um intervalo onde se sorteia um DVD. “As nossas sessões têm rostos, familiaridade e isto é uma maneira forte de chamar pessoas ao cinema.” A próxima sessão é já a 3 de Abril, com um filme tirado “do baú do cineclube”: O Dia da Vergonha (1968). Se preferes algo mais actual volta dois dias depois para Ramiro (2017) ou a 8 de Abril, para veres o Call Me By Your Name (2017).

Cineclube de Joane, em Vila Nova de Famalicão
As terças servem para recordar os clássicos, as quintas para explorar o cinema europeu e outras cinematografias e os domingos são para trazer toda a gente ao cinema. É esta a fórmula de um dos cineclubes que reúne mais espectadores no país. Carlos Mesquita, director do Cineclube de Guimarães, fundado em 1958, explica que ainda hoje apostam numa “estratégia associativa” (contam com cerca de 850 sócios com quotas em dia) e vê como “um erro desvalorizar este lado dos clubes”. “Isto tem um lado cinéfilo mas também cultiva o convívio”, diz, explicando, por exemplo, que as exibições têm um intervalo onde se sorteia um DVD. “As nossas sessões têm rostos, familiaridade e isto é uma maneira forte de chamar pessoas ao cinema.” A próxima sessão é já a 3 de Abril, com um filme tirado “do baú do cineclube”: O Dia da Vergonha (1968). Se preferes algo mais actual volta dois dias depois para Ramiro (2017) ou a 8 de Abril, para veres o Call Me By Your Name (2017).

Cineclube de Avanca, Estarreja
Avanca – Encontros Internacionais, o festival de cinema, televisão, vídeo e multimédia que o Cineclube de Avanca organiza todos os anos vai para a 22.ª edição em Julho. Mas eles já estão por cá há mais tempo: a actividade começou em 1975, oficialmente desde 1982. Não têm instalações próprias, exibem no cineteatro de Estarreja, por norma duas a três vezes por mês, sempre em dose dupla com uma longa-metragem e uma curta, explica Júlia Rocha, ao P3. Por sessão, o bilhete custa 3,5 euros e comparecem cerca de 20 a 30 pessoas para assistirem a um filme de autor, normalmente português, europeu, ou produzido pelo próprio cineclube.

Cineclube de Viseu
Cineclube de 1955, “em bom estado”: “O que é engraçado porque é contra tudo o que se pode esperar”, reconhece, entre risos, Rodrigo Francisco, membro da direcção do Cineclube de Viseu. Querem “manter o prazer de ver filmes em sala escura” (não estivessem também eles na Rua Escura, no centro de Viseu) e assumem uma programação “essencial” — “não alternativa”. Orgulham-se de ter um “papel que está longe de se esgotar na esfera da cultura” e que sai fora da sala: integram o projecto cultural Rede Cultural Viseu Dão Lafões, editam quatro vezes por ano a Argumento, uma revista de cinema, organizam oficinas e ateliers. No total destas actividades, em 2017, tiveram nove mil participantes. O ano é normalmente organizado em ciclos temáticos, com sessões semanais (pelo menos) e o preço normal dos bilhetes é de quatro euros, 1,5 euros para associados. O próximo é Rodin (2017), de Jacques Doillon, a 3 de Abril.

Cineclube da Guarda
Começaram como uma associação juvenil com uma missão: desviar os jovens do cinema comercial e da televisão e oferecer-lhes uma alternativa estruturada — e descobriram que é “difícil trazer jovens às sessões”, conta Ana Couto, do Cineclube da Guarda. Fundado em 2014, o cineclube costuma exibir dois filmes por mês, no pequeno auditório do Teatro Municipal, e aposta numa “vertente forte de serviço educativo”. Para isso, além das sessões normais, levam filmes às escolas e em Março apresentaram pela terceira vez uma extensão do Festival de Cinema Ambiental Cine Eco. Se um cineclube faz sentido em 2018? “Com cada vez mais informação disponível, cada vez mais temos de estar alerta e cada vez mais os cineclubes fazem sentido. Fazem com que haja um propósito para ir ao cinema”, acredita Ana Couto.

Cineclube de Tomar
“Há quem lhe chame Plano Extraordinário – Clube de Cinema": os habitantes pediram, a câmara apoiou e o Cineclube de Tomar surgiu em 2009 (com uma pausa em Dezembro de 2010 para regressar de vez a Maio de 2011). Actualmente, são a “única sala de cinema na cidade” e Ana Margarida não teme o aparecimento de um novo exibidor. “O público que vem às nossas sessões está sedento de mais cinema, e não de uma proposta que substitua o que já existe”, acredita.

Têm “sessões especiais” às 19h de cada terça-feira no Cineteatro Paraíso (o bilhete normal custa 3,5 euros, um euro para sócios) e ao terceiro sábado de cada mês há “filminhos à solta” para os mais pequenos (a entrada é gratuita). Das 30 pessoas que assistem, em média, aos filmes, “há um grupo fiel que já tem como hábito ir ao cinema à terça-feira”. Os outros vão aparecendo, sem compromisso, com mais afluência quando são exibidos filmes recentes ou portugueses que têm direito a encontro e conversa no final entre público e realizador. A 3 de Abril não haverá conversa, mas antes a exibição do Uma Mulher Não Chora (2017), de Fatih Akin, que ganhou o Globo de Ouro para Melhor Filme Estrangeiro.

Cineclube de Santarém
Nos anos que não recebem apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual, sobrevivem das quotas mensais dos sócios e das receitas de bilheteira. E, olhando para o “panorama nacional”, os números são “bons”: uma média de 42 pessoas por cada sessão regular, às quartas-feiras, no Teatro Sá da Bandeira, com bilhetes a cinco euros, metade para sócios. Não que a motivação deles “dependa do número de pessoas na sala”, assegura Rita Correia, presidente de uma direcção de cinco voluntários “que fazem as coisas acontecer”.

Todos eles acreditam que fazem “serviço público” num distrito onde “a oferta cultural é quase nula”. “Se deixássemos de existir acredito que as pessoas iriam notar”, assegura a presidente do cineclube fundado em 1956. Pelo menos, a população entre os 35 e 60 anos, uma vez que, apesar de Santarém ter instituições de ensino superior, os estudantes “nunca aparecem nas sessões”. Rita Correia não sabe se os jovens preferem antes “os cinemas comerciais”, mas deixa um aviso: a maior parte dos filmes que passa no cineclube “não se encontra na Internet”. É o caso do Rosas de Ermera (2017), um documentário de Luís Filipe Rocha, que vai ser exibido a 4 de Abril, às 21h30. “Como de costume”, ri-se Rita Correia.

Cineclube de Tavira
Quando o filme é francês, aparecem mais franceses, quando é espanhol, mais espanhóis: o público do Cineclube de Tavira, a funcionar há 18 anos, faz-se muito dos residentes estrangeiros nesta cidade do Algarve (e por isso, quando conseguem, os filmes têm dupla legendagem). A câmara municipal atribui-lhes um apoio anual e cede-lhes o cineteatro António Pinheiro; eles tentam ter filmes actuais, “que estejam a passar em concursos em festivais internacionais”, mas que não sejam “muito indie”. “Não temos público para isso”, confessa a presidente, Candela Varas. No último ano e meio, desde que a direcção mudou e houve uma mudança de imagem, “os números médios das sessões subiram das 28 para as 44 pessoas por sessão” — os bilhetes custam quatro euros, metade para os 70 sócios activos do cineclube.

Ainda assim, é difícil atrair jovens para as sessões regulares. “Nas de quinta-feira é tarde porque têm escola no dia a seguir e nas de sábado preferem ir sair à noite”, brinca. Por isso é que estão a considerar, no próximo Inverno, começar a organizar sessões ao domingo à tarde que consigam competir com os “hambúrgueres e pipocas dos cinemas comerciais”. A 12 de Abril exibem o Neste Canto do Mundo (2016), inserido numa extensão do festival de animação Monstra, de Lisboa.

Cineclube da Ilha Terceira
Aqui, os jovens com menos de 18 anos entram gratuitamente em todas as sessões. É uma “forma de investir na comunidade jovem” e “apostar na criação de novos públicos”, explica Jorge Bruno, presidente da direcção do Cineclube da Ilha Terceira. Para todos os outros, é possível ir ao cinema com uma moeda no bolso: o bilhete normal custa dois euros e o dos sócios um. Cada sessão agarra geralmente 30 a 40 pessoas; algumas menos, como no caso das extensões de festivais como o FACA, o MUVI e o InShadow. Se é fácil? “Não é fácil nem difícil. É uma questão de entusiasmo e do gosto pela sétima arte por pessoas que se empenham de forma voluntária”, diz Jorge Bruno. Foram pessoas assim que, em 2013, reactivaram a sala do Recreio dos Artistas, em Angra do Heroísmo, e retomaram a actividade do cineclube. O Cinema da Minha Vida, como chamam a um dos programas, traz um filme por mês. Abril é do Comboio de Sal e Açúcar (2016), de Lícino Azevedo, dia 21, às 18h.

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