A subsidiação ao arranque das vinhas velhas “é uma acção contra a natureza e contra o interesse permanente da vitivinicultura”

Antero Martins não é um homem directamente ligado ao vinho, mas poucos têm feito tanto pelo desenvolvimento do sector como ele. O seu vasto trabalho em torno da selecção e conservação do património de castas nacionais tem sido decisivo para o aumento da qualidade e da competitividade dos vinhos portugueses.

Videira comum, folhas de uva
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Daniel Rocha
Colheita, uva comum
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Presidente da Porvid- Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira e professor jubilado do Instituto Superior de Agronomia, Antero Martins é uma referência nacional e internacional na selecção genética da videira. Nesta entrevista, explica por que razão considera que muitas das nossas castas têm origem local e não no Oriente e critica o arranque das vinhas velhas feito sem critério, defendendo apoios para a sua conservação. E confessa que uma das suas maiores surpresas foi constatar que grande parte das castas autóctones são filhas umas das outras, por cruzamento natural casual.

Defende a tese que Portugal pode ser a Meca da viticultura e que muitas das variedades de uva existentes no mundo podem ter partido daqui, a partir da domesticação de videiras selvagens. Essa tese não é um pouco revolucionária?

R-Seria revolucionária, mas o que temos argumentado quanto à domesticação da videira não vai tão longe. O que notamos é que o pensamento corrente de que a domesticação da videira terá acontecido no Cáucaso é muito redutor e poderá ser uma extrapolação ilegítima da origem da vinificação a Oriente (arqueologicamente comprovada) para a origem de todas as castas também a Oriente.

As videiras silvestres ancestrais das castas existem também a Ocidente e em grande número em Portugal, particularmente nas bacias do Sado e do Guadiana, não se encontrando razões para que o fenómeno da domesticação não possa ter aqui acontecido. As castas portuguesas são em muito grande número e muitas exclusivamente cultivadas em Portugal, pelo que seria muito difícil explicar como teriam viajado directamente entre os extremos do Mediterrâneo sem deixarem rasto pelo caminho.

No plano molecular também se encontram argumentos a favor da provável domesticação múltipla, não exclusivamente a Oriente. Por exemplo, existe maior proximidade genética entre as videiras silvestres e cultivadas de cada um dos extremos do Mediterrâneo do que entre as silvestres de um extremo e as cultivadas do outro e isto suporta a hipótese de terem existido domesticações em ambos os lados.

Finalmente, a realidade de muitas castas portuguesas terem relações de parentesco de 1º grau permite-nos imaginar que elas terão sido cultivadas localmente em grupos num passado remoto (provavelmente reproduzidas por semente) e não importadas em momentos e de lugares distintos do Oriente.

Afinal, quantas castas mesmo nossas é que temos? Andamos sempre a dizer que somos o país com maior diversidade de castas, mas os gregos e os italianos dizem o mesmo….

Na verdade, não existe nenhum critério definitivo para se dizer que determinada casta antiga é de um ou de outro país, de uma ou outra região, no sentido de ter tido origem nesse país ou região. Em geral, não existe informação histórica sobre os eventos de domesticação ocorridos num passado remoto, pelo que é frequente incorrer-se no facilitismo de tomar o padrão de distribuição da casta no presente como imagem do passado, mas que poderá não o representar.

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Em Portugal fazemos uma abordagem original e razoavelmente objectiva do problema, que consiste em quantificar a diversidade genética intravarietal da casta nas diversas regiões onde é cultivada e aceitar como região de origem aquela que contém mais diversidade. Porque a diversidade aumenta com o número de ciclos anuais de crescimento vegetativo, por isso, ela pode ser tomada como uma medida aproximada da idade comparada da casta. 

Segundo esta abordagem, a Tempranilho (Aragonez, Tinta Roriz) terá nascido na região de Valdepeñas em Espanha, não na Rioja. Do mesmo modo, a Grenache terá nascido na Sardenha e não, como correntemente suposto, em Aragão ou em Mentrida (Toledo, Espanha) e muito menos no Rhone (França). Mas já noutros casos estas análises vêm confirmar o pensamento popular sobre a origem da variedade, como acontece com a Arinto, nascida na região de Bucelas e depois expandida para a Bairrada, Vinho Verde e Lafões.

Infelizmente, esta abordagem experimental tem custos elevados pelo que só se justifica quando associada a um processo de selecção, pelo que até ao momento ainda só foi aplicada a algumas dezenas de castas

Mas, voltando ao princípio, apesar de alguma imprecisão na contabilização do número de castas autóctones, pode dizer-se que o número de Portugal andará à volta de 250, os de Espanha e França serão próximos e o de Itália talvez um pouco superior. Mas, confrontando os números com a área dos países, conclui-se que a densidade em Portugal é muito superior. E esta visão da realidade poderá ainda mudar para melhor com a possível descoberta de bastantes mais castas em Portugal em anos próximos.

Temos sabido tirar partido dessa diversidade? Não andamos a plantar num número cada vez mais pequeno de variedades?

É verdade que têm sido dados passos incoerentes com o valioso parque de castas autóctones e com as fortes tradições portuguesas da cultura multivarietal.

As modas e as influências do estrangeiro têm influenciado os viticultores e os enólogos no sentido do estreitamento do número de castas usadas. Também a dificuldade da caracterização cultural e enológica e da selecção de um grande universo de variedades levanta problemas de exequibilidade em prazo curto. E há outros diversos factores que jogam a favor do estreitamento do número de castas plantadas, como são as regulamentações das designações de origem e a dificuldade de a actividade viveirista fragmentar o seu moderado volume de vendas por grandes números de castas e de clones.

Apesar destas contrariedades, é hoje visível uma tendência de reaproximação dos produtores à matriz histórica da cultura multivarietal , bem como acções administrativas de entidades oficiais de apoio a esse movimento: iniciativas INIAV/DGAV para a facilitação da instalação de parcelas de material standard de “castas minoritárias” e do IVV para implantação de ensaios e estudo cultural e enológico de “castas raras”. Por sua vez, a PORVID dispõe dos materiais ideais para essas iniciativas - conjuntos  multiclonais de cada casta “minoritária”, ou “rara”- porque são mais representativos das castas e mais estáveis do que seria o clone único geralmente existente nas colecções ampelográficas.

Em contraponto com a sub-utilização da diversidade intervarietal, no quadro da Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira (PORVID) temos vindo a tirar partido da elevada diversidade intravarietal com que a natureza nos dotou e que constitui a matéria-prima para a realização da selecção genética. Com efeito, usando os instrumentos teóricos adequados (Estatística e Genética Quantitativa) temos conseguido fazer a selecção de várias dezenas das principais castas com ganhos invulgarmente elevados, que chegam a mais de 40% de rendimento e a mais de 10% dos teores de açucar e de acidez e de antocianas, nos casos de castas mais heterogéneas. Materiais (policlonais) com ganhos desta ordem de grandeza têm sido distribuídos e plantados, desde meados da década de 80, em mais de 30.000 hectares de vinhas novas, que se pode estimar que geram mais-valias económicas superiores a 10 milhões de euros por ano.

Acha que a reestruturação e plantio de vinha em Portugal têm sido feitas com critério? Faz sentido o Estado financiar o arranque de vinhas velhas sem cuidar de as estudar primeiro?

Não faz sentido e constitui mesmo uma acção contra a natureza e contra o interesse permanente da vitivinicultura, ainda que a responsabilidade original seja da própria EU. Porque as vinhas velhas contêm uma riqueza criada naturalmente ao longo de milhares de anos – a diversidade intravarietal – que serve para adaptar as castas às mudanças do mundo (da tecnologia vitícola, do mercado do vinho, das doenças e pragas, do clima) e que assim é destruída num instante e nunca mais é recriada.

As castas foram ao tempo da domesticação populações geneticamente homogéneas mas tornaram-se, gradualmente, ao longo de séculos e milénios, altamente heterogéneas no respeitante às mais importantes características (quantitativas) culturais e enológicas.

Não são diferenças despiciendas. Dentro de uma casta tipo podem existir genótipos com potenciais de rendimento diferindo do simples para o décuplo e com potenciais de açúcar do simples para o dobro e algo de semelhante se passa com numerosas outras características. Foram estas diferenças que garantiram à casta ao longo dos tempos plasticidade adaptativa e estabilidade em distintos ambientes e complexidade aos vinhos e que constituem hoje a matéria prima para realização da selecção com elevados ganhos genéticos.

No passado (até aos anos 80), as vinhas novas eram enxertadas com a diversidade das vinhas velhas, esta não se perdia e crescia todos os anos. É óbvio que hoje as vinhas novas devem ser enxertadas com materiais selecionados de alta eficiência, mas é igualmente óbvio que a diversidade existente nas vinhas arrancadas nunca deverá ser perdida para sempre, isto é, deve ser conservada em colecções dedicadas, fora da cultura. De contrário, as castas ficariam daqui para a frente geneticamente congeladas e homogéneas, iguais aos poucos clones hoje selecionados e não admitindo jamais a selecção para objectivos do futuro, diferentes dos de hoje. A PORVID está a fazer essa conservação, mas com meios insuficientes face ao ritmo do arranque. No entanto, uma solução simples e inteligente para o problema está à mão: dedicar uma parte ínfima dos apoios à replantação para a prospecção da diversidade existente nas vinhas a arrancar!

Não devia ser feito um levantamento nacional das nossas vinhas mais velhas? Afinal de contas, estamos a falar de património cultural…

De facto, é esse o procedimento da PORVID, com a colaboração do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e de outras fontes, para a preparação de acções de prospecção e conservação da diversidade. Mas estas acções são intermitentes (dependem da captação de meios financeiros) e as vinhas velhas continuam a ser arrancadas em períodos sem prospecção. Como já disse há pouco, a conservação é um objectivo estratégico de salvação da diversidade criada durante milhares de anos, que está agora a ser destruída e que deixou de se recriar no contexto tecnológico da viticultura do presente, pelo que seria inteiramente lógico que fosse estreitamente articulada e financeiramente apoiada em paralelo com a replantação.

Mas a questão das vinhas velhas tem outra face mais directamente relacionada com o vinho. Verifica-se que cada vez mais vitivinicultores reconhecem às vinhas velhas um grande potencial para produzirem vinhos de qualidade superior. Nestas circunstâncias, justificar-se-ia que a sua recuperação e prolongamento de vida beneficiasse de alguns apoios, à semelhança dos concedidos para a plantação de vinhas novas homogéneas.

A Porvid acaba de publicar o Catálogo de clones selecionado 2018, um estudo sobre o comportamento de 24 castas e de sete clones de cada uma. O que trás de novo este catálogo?

Sobre o comportamento médio da casta, nas direcções cultural e enológica, não poderíamos acrescentar grande coisa relativamente ao que os vitivinicultores geralmente já conhecem. Mas podemos, isso sim, extrair de dentro da casta clones com valores de certas características diferentes, para melhor, dos valores médios da população inteira.

O Catálogo é inovador na medida em que descreve os rigorosos processos experimentais (estatísticos e genéticos) utilizados para a selecção, realizados ao longo de décadas por numerosos técnicos do país inteiro (Rede de Selecção e PORVID) em centenas de ensaios alojados nas empresas, e os invulgares resultados obtidos. Resultados apresentados de maneira objectiva e quantificada, ao contrário do correntemente observado em publicações congéneres. Particularmente inovadora é também a determinação da instabilidade ambiental dos clones (interacção genótipo versus ambiente) e a selecção dos menos instáveis, bem como a selecção do número ideal de 7 clones por casta, de modo a autorizar a cultura de conjuntos plurais, que é outra via para  contornar a instabilidade do clone individual.

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Em que nível de conhecimento já estamos sobre o nosso património ampelográfico?

É um problema com muitas faces. Do ponto de vista ampelográfico existe um conhecimento bastante satisfatório, sobretudo desenvolvido desde os anos 80 do século passado, bem como uma Colecção Ampelográfica Nacional, com praticamente todas as castas conhecidas, e cerca de uma quinzena de colecções regionais. Gostaria de acentuar que há uma lacuna grave nesta área que é a falta de “classificadores” aptos para a identificação visual directa das castas. Este conhecimento é indispensável para complementar as abordagens mais finas da ampelografia, da selecção e da análise molecular, que não pode descurar-se num país com tanta diversidade!

Deparamo-nos ainda com uma notória carência de conhecimento do potencial cultural e enológico de grande parte das castas autóctones. Existem ideias orientadoras para a instalação de um grande ensaio comparativo de todas as castas, em um ou dois locais, para avaliação de umas 12  características culturais e tecnológicas básicas, mas aguarda-se ainda pela disponibilidade de alguns meios indispensáveis.

No plano molecular, já vem do princípio do século a primeira caracterização de quase todas as castas por microssatélites, por parte de um consórcio de cinco universidades e centros de investigação, depois repetida e aprofundada por diversos grupos nacionais. Avizinha-se agora o avanço para a sequenciação do genoma das castas, uma abordagem com previsíveis grandes efeitos multiplicadores do conhecimento sobre as variedades autóctones.

Inesperadamente, é numa área clássica que mais se tem avançado no conhecimento das castas em anos recentes, isto é, na análise e utilização da diversidade das características quantitativas dentro de cada casta. É uma análise focada na acção dos genes (não na sua natureza química/física), suportada pelas teorias estatística/matemática e genética e que autoriza o conhecimento da origem das castas, a selecção com ganhos genéticos/económicos de grande significado e a conservação estatisticamente fundamentada. Nestas duas direcções, Portugal ocupa hoje uma posição dianteira: é o único país a fazer uma verdadeira selecção genética e vai destacadamente à frente na conservação da diversidade intravarietal (30.000 genótipos já conservados face a uma meta de 50.000). Estas abordagens são conduzidas por numerosos grupos do país integrantes da informal Rede Nacional de Selecção e pela Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira, assentes em bases teóricas principalmente desenvolvidas no Instituto Superior de Agronomia.

Em todos estes anos que leva a estudar a genética da videira, qual foi a sua maior surpresa?

Talvez a constatação de que grande parte das castas autóctones são filhas umas das outras, por cruzamento natural casual. Isto parece dizer-nos que as castas não foram domesticadas a partir de plantas da flora silvestre não relacionadas entre si, mas sim provavelmente a partir de populações heterogéneas de videiras instaladas e reproduzidas por semente. Constitui um alerta que nos poderá levar a uma nova compreensão do fenómeno da domesticação da videira e à descoberta de novas castas ainda confundidas com as já conhecidas, porque poderão ser filhas e muito parecidas com essas.

O que já se sabe sobre a origem das nossas principais castas? A Touriga Nacional, por exemplo: é do Douro ou do Dão? E a Baga, é do Dão ou da Bairrada? E o Arinto, é mesmo de Bucelas?

A quantificação da diversidade intravarietal permite conhecer a idade comparada da casta em diversas regiões, mas a Touriga é pouco adaptável a esta análise. As diversidades no Douro e no Dão são pouco distintas, o que pode ter duas explicações: ou a casta foi muitas vezes transportada de uma para outra região (homogeneizando a diversidade), ou é muito antiga e então ambas as regiões, ainda que com idades diferentes, poderiam ter acumulado alta diversidade. Mas esta explicação não colhe, porque se a diversidade da casta é pouco mais que média, pelo contrário a hipótese da intensa comunicação entre as regiões no passado tem toda a credibilidade.

A análise da Baga diz-nos claramente que a casta é do Dão. Esta conclusão conflitua com o pensamento corrente muito radicado de ela ser originária da Bairrada. Porém, na histórica escrita encontram-se também algumas indicações da possível não origem na Bairrada.

O caso do Arinto é mais pacífico, pois a opinião muito generalizada é de a origem estar em Bucelas e os nossos resultados também o confirmam. Mais, a casta deve ter ido primeiro para a Bairrada e daí para o Vinho Verde e só mais tarde para Lafões.

Dispomos já de informação interessante deste tipo sobre largas dezenas de castas, mas que poderá ser excessivo avançar neste momento.

Do que já conhece, que castas, brancas e tintas, pouco faladas actualmente podem vir a ter importância no futuro?

Esta é uma questão para a qual nós próprios, selecionadores, procuramos a resposta, de modo a podermos orientar a selecção para castas que venham a ter interesse no futuro próximo. Para esse efeito, procuramos recolher informação ocasionais do sector e é o que estamos a preparar para breve, agora de forma mais organizada.

Ao criarem, através de selecção natural, centenas de clones da mesma casta, uns muito mais produtivos do que outros, não estão a abrir uma espécie de caixa de Pandora, incentivando os viveiristas a vender os mais produtivos, com claro prejuízo para a qualidade final dos vinhos?

No passado recente temos dado alguma prioridade à selecção a favor do rendimento, porque notamos que essa é a apetência dominante dos viticultores (não dos viveiristas, que pensamos que também devem alinhar com o interesses dos viticultores). Por outro lado, temos feito numerosas análises da relação do rendimento com variáveis da qualidade (açúcar, acidez, antocianas) e não encontramos relações negativas notórias para valores do rendimento até cerca de 4kg/planta. Afinal, talvez as causas de alguma regressão da qualidade observada em vinhas novas deva ser primeiro procurada nas mudanças da tecnologia cultural, com destaque para a rega…

Mas estamos atentos a esta questão e, em alguma medida, até estamos a responder-lhe, colocando no mercado clones diferentes em rendimento, açucar, acidez e antocianas. No caso da casta Aragonez, na qual o problema é particularmente sensível, até encetámos uma nova selecção direccionada para a qualidade, que virá desembocar em novos clones de rendimento moderado e com elevado teor de antocianas dentro de poucos anos. De qualquer modo, com a selecção num ou noutro sentido, nunca corremos o risco de mudar forte e irreversivelmente a casta, porque simultaneamente guardamos toda a sua diversidade para efeito de qualquer futura selecção em sentido diferente do actual.

Não acha que os viveiristas estão um bocadinho fora de controlo e a contribuir para uma degradação da qualidade das nossas vinhas? Vendem o mesmo material para todas as regiões, independentemente de as plantas estarem ou não adaptadas ao lugar…

No respeitante à própria casta, o problema da adaptação regional é mais ou menos entendido pelos viticultores. Por exemplo, é do conhecimento geral que a Trincadeira, ou a Tinta Miúda, não vão bem em zonas ou em anos de elevada humidade e que castas com baixa acidez não são indicadas para climas quentes. Um problema da mesma família mas mais difícil de entender é a adaptação diferencial dos clones de uma casta aos diferentes ambientes (em linguagem genética, interacção genótipo versus ambiente). Existem na bibliografia métodos para a abordagem do problema, mas que, no caso da videira, exigiriam a montagem de dezenas de ensaios de adaptação  dos clones da casta candidatos a selecção, o que não é de todo exequível na prática. Por isso, não deixamos de abordar o problema no decurso da selecção, mas limitamo-nos a determinar se os clones são mais ou menos instáveis entre uns 6-12 diferentes ambientes e selecionamos os que se revelam menos instáveis (esta abordagem mínima já é um avanço em relação à selecção no mundo).

Em síntese, o problema é complexo e creio que a existência de diferentes clones no mercado (e de materiais policlonais) e a opção dos viticultores por misturas já será um passo importante para o resolver. O contributo dos viveiristas deverá ser o de multiplicarem vários clones para viabilizarem o uso dessas misturas.

Os franceses têm apostado mais na selecção sanitária e nós na selecção genética da videira e, no entanto, há regiões francesas com muitas doenças na vinha. Em Portugal, também há cada vez mais videiras infectadas. Como explica o que está a acontecer?

De facto, apostamos mais na selecção genética, mas também fazemos a selecção sanitária segundo o normativo da União Europeia e com rigor metodológico inquestionável. São normas referentes a vírus, com as quais nem sempre concordamos mas que, obviamente, têm que ser cumpridas. O problema do equilíbrio entre selecção genética e diagnóstico sanitário continua a ser, contudo, um problema real não resolvido, que merece ser retomado no futuro. Quanto aos fungos do lenho, reconhecemos a sua enorme importância, mas é um problema fora da nossa área de competência. Só esperamos que surjam métodos de diagnóstico e de prevenção exequíveis e fiáveis que possam ser incluídos nos procedimentos da selecção.

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