Depois do diagnóstico crítico, o Facebook tenta vários remédios

Da privacidade à política, foram postas em prática várias medidas para melhorar uma plataforma que é usada por mais de um quarto da humanidade.

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LUSA/STEPHANIE LECOCQ

O Facebook tem sido criticado por permitir a disseminação de desinformação e notícias falsas, por não conseguir lidar com o discurso de ódio, por estar a sugar o tempo e a atenção das pessoas, e por não lidar de forma segura com os dados e a privacidade dos utilizadores. Em Janeiro, Zuckerberg tinha anunciado como decisão de ano novo “resolver os problemas” da rede social – mas o escândalo Cambridge Analytica revelado em Março mostrou o muito que está por fazer. Nos últimos meses, o Facebook tem vindo a experimentar vários remédios que tentam melhorar uma rede social que se transformou numa gigantesca plataforma de informação global e que tem potencial para influenciar referendos e eleições.

Anúncios mais transparentes

Em Abril, a rede social avançou com um novo conjunto de regras para estes anúncios políticos, que se aplicam não apenas aos anúncios comprados por uma campanha, mas também aos anúncios sobre temas políticos (por exemplo, políticas de emigração). Nos EUA, quem quiser pagar para exibir este tipo de anúncios terá a sua identidade verificada pelo Facebook, de forma a garantir que se trata de uma pessoa ou organização do país em causa. Por ora, esta medida está em vigor apenas nos EUA, mas deverá alargar-se ao resto do mundo. Estes anúncios também serão assinalados como sendo políticos e indicarão aos utilizadores quem pagou por eles, de forma semelhante ao que acontece, por exemplo, nos anúncios televisivos. Para além disto, o Facebook está a testar uma funcionalidade que permite aos utilizadores verem todos os anúncios que uma determinada página está a fazer e criar um arquivo pesquisável de anúncios políticos.

Privacidade simplificada

O Facebook adoptou as medidas impostas pelo Regulamento Geral para a Protecção de Dados, que entra esta semana em vigor. Teve de pedir novos consentimentos aos utilizadores e explicar melhor os termos de uso. Também simplificou a página onde são geridas as definições de privacidade. Estas medidas, no entanto, aplicam-se apenas a utilizadores na União Europeia. Quando foi ouvido no Congresso dos EUA, Zuckerberg não pôs de lado a hipótese de adoptar nos outros países algumas das regras europeias – mas não é claro se, quando e até que ponto isso vai acontecer. A empresa já transferiu a sua relação legal com os utilizadores não europeus para a sede nos EUA. Até recentemente, a maioria destes utilizadores estava vinculada às regras da sede europeia, na Irlanda.

Limpeza do historial

No início de Maio, foi anunciada uma funcionalidade que permitirá aos utilizadores apagar o registo de alguma da actividade que o utilizador fez com a conta do Facebook. Isto inclui os sites que visitou e sites com que interagiu recorrendo a ferramentas do Facebook (por exemplo, o botão “gosto”, que muitos sites mostram. Esta é uma funcionalidade inspirada na limpeza do historial que existe em navegadores da Web. A rede social avisou que serão precisos meses de desenvolvimento para a disponibilizar.

Aplicações investigadas

Na sequência do caso da consultora política Cambridge Analytica, que através de um académico acedeu indevidamente aos dados de 87 milhões de utilizadores, o Facebook lançou uma investigação interna à forma como as aplicações  (que podem ser jogos ou questionários, por exemplo) usam os dados dos utilizadores. Acabou a suspender cerca de 200 aplicações (que não identificou) enquanto averigua se de facto houve acesso ilícito a informação.

Corte nos intermediários

O Facebook está a eliminar todas as parcerias com empresas de consultoria de dados, num processo que deverá estar concluído até Setembro. Isto quer dizer que quem faz publicidade na rede social vai deixar de poder recorrer àquele género de empresas para cruzar a informação disponível no Facebook (por exemplo, o número de telemóvel dos utilizadores) com dados recolhidos por empresas especializadas sobre o comportamento das pessoas fora da Internet, como o histórico de compras em lojas ou a propriedade de habitação.

Reestruturação

Ao contrário de outras empresas de tecnologia, como a Apple, o Google e o Twitter, o Facebook tem o mesmo presidente executivo desde que foi fundado. Mas os últimos acontecimentos levaram a uma reestruturação da empresa e a mexidas em alguns cargos de topo. A empresa vai ser dividida em três grandes estruturas: uma responsável pelo desenvolvimento dos grandes produtos (como o Facebook, o Instagram e o WhatsApp), outra dedicada a tecnologias emergentes (como realidade virtual e inteligência artificial) e uma terceira dedicada a operações de negócio e questões como segurança informática. Cada uma destas estruturas está sob a alçada de um executivo. No topo da pirâmide continuam Mark Zuckerberg e a directora de operações, Sheryl Sandberg.

Reflexão académica

A empresa vai abrir as suas bases de dados para académicos que queiram investigar o impacto das redes sociais em eleições. A iniciativa é financiada por várias fundações dos EUA e passa por criar um comité independente de académicos que será responsável por solicitar e avaliar propostas de investigação. Os resultados serão publicados após um processo de peer review e sem que seja necessária qualquer aprovação do Facebook. “Olhando para trás, é claro que fomos demasiado lentos a identificar interferências nas eleições de 2016, e temos de fazer melhor em futuras eleições”, afirmou Zuckerberg quando anunciou esta medida.

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