"Batida" é kuduro electrónico de intervenção

Não há data — nem esperança de que venha a haver — prevista para concertos em Angola. Batida está numa "lista negra" no país, porque reúne "rappers" que têm marcado presença nas manifestações civis

MCK vendeu, em quatro horas, no dia do lançamento, dez mil discos de “Proibido ouvir isto” em Luana Pedro Cunha
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MCK vendeu, em quatro horas, no dia do lançamento, dez mil discos de “Proibido ouvir isto” em Luana Pedro Cunha
“Há sempre um lado de mensagem”, o que “acaba por ser intervenção quando as pessoas não gostam de ser retratadas” DR
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“Há sempre um lado de mensagem”, o que “acaba por ser intervenção quando as pessoas não gostam de ser retratadas” DR

O projecto artístico Batida, que reúne músicos angolanos e portugueses, alguns dos quais têm marcado presença nas manifestações populares contra o regime de José Eduardo dos Santos, lança um novo álbum na segunda-feira. “Batida” é o nome do disco, editado pela londrina Soundway Records, que reúne músicas novas e antigas de alguns dos chamados músicos de intervenção angolanos.

O projecto combina música angolana dos anos 70 com a eletrónica moderna do "kuduro" e o primeiro concerto acontecerá em Londres em 20 de Abril. Não há data — nem esperança de que venha a haver — prevista para Angola, disse à Lusa o artista Pedro Coquenão, autor do projecto. Pedro, porém, acredita que “o disco vai lá chegar, vai circular na pirataria, vai ser posto nalgumas lojas”. O Batida está numa “espécie de lista negra” em Angola, porque reúne num só projecto "rappers" como Ikonoklasta e MCK, que têm marcado presença nas manifestações civis no país, no último ano.

Batida é “um projecto de música complexo”, que tem um lado documental e de divulgação de outros artistas, descreve o luso-angolano Pedro Coquenão, de 37 anos. “Há sempre um lado de mensagem”, o que “acaba por ser intervenção quando as pessoas não gostam de ser retratadas”, assinala. O projecto remete para um certo ambiente musical de Angola, onde “a palavra é a coisa mais importante”, onde há uma “celebração da mensagem”, onde o público “não suporta tangas”, que não existe em Portugal, compara.

Os artistas e a realidade "bruta" de Angola 

“Os artistas têm um papel muito importante. Devem mantê-lo. Precisam de protecção, de divulgação, de promoção, de ter o seu espaço. Se não for em Angola, fora dela, para depois voltarem para lá, num blogue, jornal”, diz, reconhecendo que a sua “visão é o mais confortável possível”, porque vai a Angola “de vez em quando e não chega “a levar pauladas na cabeça”. Em Angola, a realidade é “mais bruta” e “os artistas acabam por estar mais expostos”.

Apesar disso, a música de intervenção “já tem um lugar no mercado, já faz parte da cultura” angolana. E exemplifica: o "rapper" MCK vendeu, em quatro horas, dez mil discos do seu mais recente trabalho, “Proibido ouvir isto”, no dia de lançamento, em Luanda e nas províncias de Cabinda, Malanje e Benguela.

Claro que às manifestações aparecem “infinitamente menos” jovens, mas “ir ao concerto já é, por si só, um acto de coragem”, afirma. Para esta nova geração, que trabalha dentro de Angola (casos de MCK e Ikonoklasta), “tomar uma posição” significa estar sujeito a uma “ressaca física ou social imediata”, que passa por ficar sem emprego e sem amigos, realça. Portugal constará da digressão de Batida, mas ainda não há uma data certa.

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