O movimento de 12 de Março foi a oportunidade perdida?

É certo que a rua não governa, mas dela poderiam sair ideias, propostas que ganhassem apoiantes para serem impostas ao poder por vias democráticas – nada disso aconteceu

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alatryste/Flickr

No ano passado, a 13 de Março, Portugal acordava de um dia de protesto social, algo diferente das habituais manifestações organizadas pelos sindicatos ou partidos políticos. Apesar dos receios do sucesso deste novo movimento que floresceu através das redes sociais, talvez tenha acreditado no surgimento de uma nova era fracturante, voltada para uma nova consciência de sociedade e desenvolvimento.

Tanto no 12/03 como no 15/10 tive oportunidade de testemunhar, na minha cidade, uma revolta organizada por uma massa jovem, como eu, que passa por uma fase difícil, num país com oportunidades cada vez mais escassas e sem esperança na retoma para o crescimento. Fiquei admirado com a maciça adesão de centenas de milhares de pessoas, jovens e não só, que em comum partilham o mesmo sentimento de desilusão e aperto em relação ao custo de vida. Senti que não pertencia a uma geração rasca, mas uma geração “à rasca” - muito diferente.


No dia seguinte, assaltaram-me várias vezes dúvidas em relação à viabilidade deste movimento e aos objectivos destas manifestações espontâneas. O que mudou desde esse momento?

O meu receio inicial mantém-se, que tudo não tenha passado de uma necessidade colectiva de exteriorizar desagrado ou desespero. A 13/03 tudo continuava como antes. Estarei errado em desejar que algo estivesse diferente?

É certo que a rua não governa e não deva governar, mas dela poderiam sair ideias, propostas que ganhassem apoiantes para serem impostas ao poder por vias democráticas – nada disso aconteceu. Nos meus receios sempre achei que algo não estaria muito correcto - eu posso sentir-me enganado por muita gente responsável pelo estado do país, da sociedade, da economia, mas não me basta protestar, sair à rua com o meu cartaz – havia a necessidade de fazer mais para que o protesto fosse fundamentado.

Convocar uma "manif" só para dizer mal é fácil de vingar e o povo mobiliza-se com facilidade – neste ponto, será errado pensar que o povo se acomoda porque existe o receio de se expressar. Seria desejável algo como nas manifestações de Madrid, na Praça do Sol, que tiveram uma dimensão muito diferente porque envolveu o povo em discussões, criação de massa crítica, reflexões sobre o que é necessário mudar na sociedade.

Muitas vezes é dito que vivemos numa panela em ebulição – uma verdade porque só ocasionalmente é que exteriorizamos o que nos aflige e cada vez que é feito com mais raiva e agressividade.


Estarei errado em acreditar que estes movimentos foram uma oportunidade perdida? Ou esses movimentos continuam por aí?

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