Há mais tabaco no mercado apesar das imagens chocantes

Entre Janeiro e Abril de 2018 foram colocados à venda 2,36 mil milhões de cigarros, um aumento de 7,66% em relação ao número de cigarros colocados no mercado em 2017.

Foto
Imagens choque foram introduzidas em 2016 guilherme marques

Os portugueses continuam a comprar cigarros apesar das imagens choque e do aumento progressivos dos impostos sobre o tabaco. Entre Janeiro e Abril deste ano registou-se um aumento de 7,66% do número de unidades colocadas no mercado em relação ao período homólogo. Os números são da Autoridade Tributária e foram divulgados pelo Jornal de Notícias (JN) na edição desta sexta-feira.

Dos 2,19 mil milhões de cigarros colocados no mercado entre Janeiro e Abril de 2017 passou-se para 2,36 mil milhões de cigarros postos à venda no mesmo período de 2018. Estes números representam um aumento de 7,66% no número de cigarros disponibilizados e contrariam a tendência que se verificou em 2017, ano em que registou uma diminuição. Em 2017 colocaram-se à venda 10,09 milhões de cigarros; este ano, esse número deve ser ultrapassado. 

Em 2016, ano da introdução das imagens-choque nos maços de tabaco, o consumo aumentou 12% em relação a 2015 e venderam-se 10,48 mil milhões de cigarros. Desde 2011 que se registava uma tendência para a diminuição do consumo, que nesse ano foi invertida, escreve o JN. 

As imagens choque são obrigatórias desde Maio de 2016, respeitando a directiva europeia, mas o seu efeito em Portugal tem sido limitado. Por exemplo: entre Maio e Dezembro de 2016 verificou-se um aumento de 3,5% nas vendas de cigarros, em relação ao mesmo período de 2015.

Para o pneumologista Pedro Boléo-Tomé, coordenador da Comissão de Trabalho de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), entrevistado pelo JN, os números das vendas e da disponibilização de cigarros não confirmam os resultados dos inquéritos: “Os dados da prevalência do tabagismo indicam que temos vindo a diminuir na população global”. Mas, para o especialista, “a diminuição foi relativamente pequena” na última década.

Pedro Boléo-Tomé considera que as medidas tomadas em Portugal são “suavizadas” e as imagens-choque, em particular, “não tiveram impacto suficiente”. Noutros países, a par com as imagens, introduziram-se embalagens com cores pouco apelativas e sem logotipos – o chamado “plain packaging”. Para o especialista, o factor determinante para alterar o consumo é o aumento do preço e a taxação mais alta.

A Associação Portuguesa da Luta Contra o Cancro do Pulmão, ouvida pelo JN, tem uma posição semelhante: “Quando [o aumento do preço] é muito substancial, verifica-se uma diminuição do consumo”. As imagens, por seu turno, “não são um factor que se tenha mostrado com resultados positivos”. 

O imposto sobre o tabaco traduziu-se, no primeiro trimestre de 2018, em 275,6 milhões de euros para os cofres do Estado. Um aumento de 25,3% em comparação ao período homólogo.

A presidente da Associação Portuguesa de Armazenistas de Tabaco, Helena Batista, diz ao JN, no entanto, que com a taxação mais elevada, os consumidores podem alterar os hábitos, mas nunca deixam de comprar. A presidente da associação refere, a título de exemplo, o aumento do consumo de tabaco de enrolar durante a crise: “Durante os anos da crise, os portugueses voltaram-se para o tabaco de enrolar para poupar”, diz. “Como o Governo aumentou o imposto sobre o tabaco de enrolar, deixou de compensar e os consumidores regressaram aos cigarros”, avalia.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários