O grande gozão

Tom Wolfe era hilariante, cruel, impiedoso e valente. Escrevia como se fosse movido por um Santo Ofício pessoal e particular, por ser contra todos.

Tom Wolfe foi um grande jornalista que se tornou num mau romancista. Juntou à observação de modas e pretensões uma capacidade maravilhosa para imitar e satirizar os manientos da época.

Como jornalista Wolfe escrevia bem e livremente, mostrando um jeito endiabrado para juntar pedaços de diálogo imaginado a pormenores factuais e comentários gozões.

No fim dos anos 60, princípios dos anos 70 Tom Wolfe personificava o New Journalism. Só foi ultrapassado em 1971 pela obra-prima de Hunter S.Thompson, Fear and Loathing in Las Vegas, inexcedível como puro divertimento.

Nessa altura a maioria das pessoas achava que o que faziam Wolfe e Thompson podia ser divertido mas não era jornalismo. É uma discussão epicamente infrutífera.

Wolfe e Thompson eram escritores satíricos. Sentido de humor têm muitos escritores. Mas quantos é que fazem rir em voz alta enquanto dizem o que parece ser verdade acerca de pessoas e de movimentos muito respeitáveis ou chiques?

Tom Wolfe era hilariante, cruel, impiedoso e valente. Era como se tivesse ciúmes do que estivesse na moda e não descansasse enquanto não destruisse tudo. Foi o maior inimigo do que é pretensioso e altivo. Escrevia como se fosse movido por um Santo Ofício pessoal e particular, por ser contra todos.

A obra-prima dele, Radical Chic: That Party at Lenny's está online. Foi também o primeiro a detectar (em 1976) e a gozar com o narcissismo endémico que ainda está a piorar de ano para ano: The Me Decade and The Third Great Awakening.

É um prazer lê-lo.

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