Volta à Europa em dez parques naturais

O critério é pessoal, muitos outros parques nacionais e naturais poderiam integrar esta lista. Viajamos por estes, da Arrábida a Doñana, por alguns no Norte da Europa, por outros no Sul. Todos eles de uma beleza singular, destacando-se por este ou por aquele motivo, pelos seus animais, pela sua paisagem única.

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Nuno Oliveira

Arrábida, Portugal

O Parque Natural da Arrábida, fundado em 1976, estende-se por uma área de 10.800 hectares, abrangendo os concelhos de Palmela, Setúbal e Sesimbra — neste último está situado um dos lugares de religiosidade popular, o Santuário de Nossa Senhora do Cabo (Espichel), também conhecido como Santuário da Nossa Senhora da Pedra Mua.

Do alto de um miradouro, antes de iniciar a descida até ao Portinho da Arrábida, avista-se o Convento de Nossa Senhora da Arrábida, de uma brancura capaz de ofuscar, um perfeito contraste com o verde e o azul, de onde não chega sequer um murmúrio.

No mar da Arrábida, com as suas profundezas, como o Estuário do Sado, a fossa abissal do Cabo Espichel e as suas múltiplas baías, estão presentes 1300 diferentes espécies, números que impressionam tanto a nível nacional como europeu. 

Já as matas da Arrábida albergam diversas espécies de aves, com especial destaque para a toutinegra. Mas, especialmente nas zonas de planície, abundam as cotovias, os pintassilgos e os verdilhões, bem como estorninhos, pombos e tordos, ao passo que no Inverno é possível avistar aribes e tarambolas numa busca incessante de alimentos nos terrenos lavrados. Com efeito, é elevado o índice de biodiversidade de aves, répteis, anfíbios e mamíferos, destacando-se duas espécies de morcegos em vias de extinção nas grutas da Arrábida — o morcego-rato-grande e morcego-de-ferradura-mourisco.

A Arrábida é paisagem mas é também um exemplo de património que se vai transmitindo de geração em geração — logo, vinho e queijo são elementos indissociáveis da dimensão natural e cultural desta região.

Doñana, Espanha

O estuário do rio Guadalquivir, no Sul do país, formou uma zona pantanosa bordejada de dunas móveis, algumas com mais de 40 metros de altura — é o parque de Doñana, um paraíso que integra a lista de Património Mundial da Humanidade, um vasto território que acolhe grandes mamíferos e um apreciável número de aves. Parque nacional desde 1969 (completa 50 anos em 2019), deve o seu nome a Doña Ana, a duquesa que se retirou para este lugar mágico protegido pelos reis de Castela (foi incorporado na coroa por Afonso X em 1262 depois de ser explorado por fenícios, gregos e árabes).

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Pedro Cunha

De acordo com a lenda, foram as lágrimas que Doña Ana deixou tombar que formaram as célebres terras pantanosas, um mosaico com 30 quilómetros de praias virgens (apenas algumas barracas de pescadores, habilitados a residir na zona pelas autoridades do parque) entre Matalascañas e Sanlúcar de Barrameda, mais de 700 espécies vegetais, duas dezenas de espécies de peixes de água doce, outras tantas de reptéis e quase 40 de mamíferos, entre eles o famoso lince-ibérico, em vias de extinção. 

Les Ecrins, França

Se há lugares onde pode desfrutar da magia dos grandes espaços selvagens, o Parque Nacional Les Ecrins, nos Alpes franceses, é um deles, abrangendo uma área de 270 mil hectares, assim uma espécie de triângulo formado pelas cidades de Gap, Grenoble e Briançon.

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Emmanuel Foudrot/Reuters

O ponto mais alto deste balcão natural, belo e perigoso, está situado a 4102 metros mas há mais de uma centena de picos que ultrapassam os 3000 metros de altitude. Criado em 1973, o parque tem recenseadas mais de 1800 espécies vegetais (o vale de Foumel é particularmente atractivo na época dos cardos azuis), mas destaca-se mais ainda pela presença de mamíferos (camurças e marmotas) e de pássaros (mais de 200 espécies).

La Maddelena, Itália

O arquipélago de La Maddelena, acessível de barco desde Palau, no Nordeste da Sardenha, é um admirável exemplo de natureza selvagem, com cerca de 180 quilómetros de costa, granito rosado, areia branca e águas turquesa. Baptizadas Cuniculariae (ilhas do coelho) pelos romanos, estendem-se ao longo de 12 mil hectares, proporcionando caminhadas que partem desde La Maddelena, a aldeia aninhada na ilha homónima – uma delas, pitoresca, permite dar mesmo a volta à ilha, serpenteando por entre tapetes de mirtilos e de rosmaninho e pelo meio de florestas de pinheiros e de carvalhos.

Entre múltiplas possibilidades de passeio, justifica-se a ascensão ao monte Guardia Vecchia, onde está abrigado o forte de San Vittorio, mandado erguer pelos soberanos da Casa de Saboia. A panorâmica sobre as falésias e as lagoas do arquipélago é de cortar a respiração, rivalizando em beleza com o Passo della Moneta, uma ponte com 600 metros de comprimento que liga La Maddelena à vizinha Caprera. Foi neste paraíso natural, dominado pelo monte Teialone, com os seus pouco mais de 200 metros, que morreu Giuseppe Garibaldi — é possível ainda visitar a casa onde viveu o herói da independência italiana.

Finalmente, outro passeio incontornável conduz o viandante de barco pelas ilhas virgens de Spargi, Razzoli ou Santa Maria ou à soberba praia rosada do ilhote de Budelli.

Hautes Fagnes, Bélgica

É na Valónia, não muito distante da fronteira alemã, que se descobre o Parque Natural das Hautes Fagnes, um palco xistoso que é verdadeiramente encantador nos meses de Inverno, quando as águas pantanosas se transformam em neve. É no Signal de Botrange, o ponto mais alto (694 metros) deste país plano e onde se situa o centro de acolhimento de visitantes, que se iniciam muitos dos percursos a pé, bem como as visitas guiadas e temáticas, entre Março e Dezembro (uma oportunidade para pousar um olhar na reserva natural, interdita ao público de forma independente). Sozinho, pode optar por caminhar por outros trilhos para se aperceber da singularidade e da riqueza de uma paisagem que também seduz mais de centena e meia de pássaros. 

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Doug Pearson/GettyImages

Burren, Irlanda

Invocando toda a magia das fábulas celtas, o parque nacional de Burren (do gaélico Bhoireann, que significa rochoso ou pedregoso), no condado de Clare, no Oeste do país, é um lugar encantador onde as plantas árcticas, mediterrânicas e alpinas raras se insinuam pelo meio de um cenário cárstico. Na Primavera e no Verão, múltiplas variedades de orquídeas fazem a sua aparição, bem como os gerânios-sanguíneos e outras flores de montanha que provocam um turbilhão de cor tão do agrado de quase três dezenas de espécies de papagaios.

Burren encanta também pelos seus estratos calcários, modelados pelos glaciares, pelos ventos e pelas chuvas, escondendo um número indeterminado de grutas e fendas, bem como de um admirável conjunto de monumentos megalíticos celtas, entre eles o famoso dólmen de Poulnabrone. Entre os muitos percursos possíveis, certamente que não ficará desiludido se seguir o aclamado Burren Way, partindo da pequena aldeia de pescadores de Ballyvaughan até chegar aos desfiladeiros de Moher (aproximadamente 30 quilómetros), essas imponentes muralhas que se atiram sobre o Atlântico de uma altura superior a 200 metros.

Akamas, Chipre

Localizado na península homónima, no Noroeste da ilha, o Parque Nacional Akamas (deve o nome a um dos heróis da guerra de Tróia) é um lugar que convida à tranquilidade, com as suas falésias que inspiram vertigens e os seus rochedos que se debruçam como varandas sobre o mar. Desde Polis, construída sobre as ruínas de uma antiga cidade, segue-se a rota costeira que conduz aos Banhos de Afrodite, de onde partem dois trilhos (chamados Afrodite e Adonis) que permitem conhecer a riqueza da flora da região, com 600 variedades de plantas, entre elas 35 endémicas — procure também ver alguma das 16 espécies de papagaios e, caso visite a península no Verão, é provável que se cruze com alguma tartaruga numa das suas praias.

Gotska Sandön, Suécia

A Sul do país, na ilha de Gotland, encontra-se um dos tesouros naturais suecos, o ilhote de Gotska Sandön, interdito ao público até 1996 (nos meses de Verão é possível a travessia de barco desde Farö, situada no extremo norte desta ilha que é considerada a jóia do Báltico). Verdadeiro santuário de areia, Gotska Sandön oferece quilómetros de praias douradas e visões de dunas que chegam a atingir os 40 metros de altura. Uma flora rica (cerca de 400 variedades, entre elas diferentes orquídeas) abriga-se nas florestas de pinheiros onde a todo o momento, rompendo o silêncio, se pode escutar o chilrear de alguma das 50 espécies de pássaros que habitam este ilhote deserto (o campismo é permitido).

Oulanka, Finlândia

O Parque Nacional de Oulanka, no Nordeste do país dos mil lagos, oferece sensações únicas aos amantes da natureza. Uma região de uma beleza única, decorada por florestas de pinheiros, salpicada de pântanos e cruzada por rios turbulentos que deslizam pelo meio de gargantas profundas – imperdível a travessia de canoa deste verdadeiro labirinto de correntes.

Entre as diferentes alternativas que se oferecem ao visitante, talvez não deva hipotecar a oportunidade de ver, a apenas um quilómetro do centro de acolhimento do parque, os kiutaköngäs, uma incrível sucessão de rápidos de algumas centenas de metros, o tumulto da água enfurecida sobre rochedos de granito vermelho.

Emcionante, da mesma forma, um safari de um ou três dias, organizados para a descida do Oulankajoki, um rio cheio de impetuosidade que corre no coração do parque que se estende até à fronteira com a Rússia.

Os adeptos dos percuros pedonais sentem-se, igualmente, atraídos pelas paisagens de Oulanka, optando, por norma, pelo Karhunkierros (observação de ursos), um circuito ao longo de 80 quilómetros de trilhos sinalizados e de pontes de cordas sobre os rápidos.     

Bialowieza, Polónia

Situado próximo da fronteira com a Bielorrússia, o parque nacional de Bialowieza permite o encontro com os últimos bisontes selvagens da Europa (os machos adultos pesam cerca de 800 quilos e são os maiores mamíferos do Velho Continente), salvos de extinção — em 1832 eram 770, um pouco mais do dobro face aos dias de hoje — neste santuário florestal que contempla, com um pouco de sorte, a observação de lobos, linces e alces. Criado já em 1921, o parque preserva o bosque que em tempos cobria toda a Europa Central, com árvores de idade indefinida e com uma altura que chega a ultrapassar os 50 metros. A reserva forma parte do grande bosque de Bialowieza, com uma entensão de 125 mil hectares (58 mil pertencem à Polónia e os restantes ao parque nacional de Belovezhskaya, na vizinha Bielorrússia). 

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