Portugal e a Eurovisão vistos por três jornalistas estrangeiros

Quem são e o que pensam desta edição do Festival Eurovisão da Canção os jornalistas estrangeiros? Falámos com um australiano, uma lituana e uma francesa que vive em Portugal, três das 1400 pessoas acreditadas para cobrir o evento.

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O ambiente nos bastidores: Eleni Foureira do Chipre e o designer Jean-Paul Gaultier REUTERS/Pedro Nunes

É fácil perceber que Blair Martin vem da Austrália. Na zona de imprensa do Festival Eurovisão da Canção 2018, atrás do radialista de farta barba branca e carrapito, está, nesta tarde de sábado, uma enorme bandeira australiana, pendurada por cima de um poster gigante do Turismo de Portugal. Mesmo que não se veja essa bandeira, em cima do ecrã do seu portátil há mais três bandeiras: duas do seu país e uma com as cores do arco-íris, simbolo do orgulho LGBT. "Trouxe um saco inteiro, é bom dá-las às pessoas", comenta ao PÚBLICO.

Martin, um dos 1400 jornalistas acreditados para o evento, é seguidor assíduo da competição da Eurovisão há 30 anos, pouco depois de esta ter começado a ser transmitida na Austrália – onde passa nas televisões às cinco da manhã –, mas já ouvia falar dela antes, por pertencer à geração que fez dos suecos ABBA superestrelas. É a quarta vez que o radialista, que apresenta um programa chamado Queer Radio na 4ZZZ, uma estação comunitária de Brisbane, cobre uma edição do festival. Está em Lisboa há quase duas semanas. A primeira vez que cobriu este festival foi em Düsseldorf, na Alemanha, em 2011, época em que ainda não sabia bem o que estava a fazer. Hoje sabe de cor as letras de todas as canções a concurso e não se coíbe de o mostrar. 

O que é que está achar da primeira organização da primeira Eurovisão em Portugal? "Tem melhorado com o tempo. Na primeira semana estava um pouco 'verde', mas era expectável. Passei muito tempo a tentar arranjar entrevistas, o que tem sido difícil. Talvez a organização possa ver como é que se coordena melhor isto, houve muito tempo de espera", confessa o radialista que espera conseguir ver um bocadinho mais da cidade de Lisboa antes de se ir embora. Ainda assim, garante: "Adoro a comida e o café. Os homens portugueses são muito atraentes e como é bom quando estamos num lugar em que o clima é quente...", remata.

No dia anterior, numa mesa de trabalho do lado oposto da área de imprensa, a escassos metros de onde antes estava um homem vestido da cabeça aos pés com uma vestimenta tradicional da Escócia e um pin com a bandeira dos Estados Unidos, estava a lituana Elena Janciukaite que nos contava ser a primeira vez que está em Portugal e na Eurovisão. 

Veio sozinha cobrir o festival para o site do canal de televisão TV3. Está a lamentar que o seu pau de selfies não pôde entrar no recinto e como lhe foi difícil recuperá-lo, quando é interrompida por uma mulher que anda, com um saco, a distribuir CD de O Jardim, o tema de Cláudia Pascoal e de Isaura. "Adoro esta canção!", exclama a jornalista. "Venho da Lituânia e a nossa actuação [When we're old, de Ieva Zasimauskaite] é muito emocionante, não estamos a apostar num espectáculo super-excitante, só queremos partilhar os nossos sentimentos e as nossas emoções. A canção delas também é assim. Não precisa de fogo-de-artifício..."

Apesar do imbróglio com o pau de selfies, acha que a organização "está a correr bastante bem". "É tudo rápido, tenho questões, pergunto e respondem-me logo". Sobre a cidade e o país, confessa que a sua primeira impressão não foi a melhor. "Estou a dormir perto do aeroporto, não é uma zona muito boa. Mas ontem fui ao centro da cidade e ao Bairro Alto, a todos esses sítios famosos, com ruelas pequenas, e foi incrível."

Marie-Line Darcy, que é francesa mas vive em Portugal há 26 anos, quando a auto-estrada que liga Lisboa ao Porto ainda nem estava acabada, trabalha para vários órgãos de comunicação social do seu país de origem, incluindo a Radio France Internationale. Nunca tinha ido à Eurovisão até este ano, nem é "muito aficionada".

Acompanhou ao longo dos anos, afirma, "polémicas ligadas ao festival: com a Ucrânia, a Rússia, Conchita Wurst e por aí fora, do ponto de vista geopolítico", só não está muito por dentro do festival musicalmente. "Não gosto muito daquele tipo de música. Este ano temos uma variedade bastante interessante de estilos musicais, mas acho que na cabeça das pessoas o que fica muito é aquele som MTV, electrónico, muito globalizado", admite. "No ano passado, o Salvador Sobral foi um espectáculo. Fiquei encantada e foi a primeira vez que me interessei pelo festival."

"Estou muito feliz por ser em Portugal, apesar de não ter muito trabalho com isto", comenta. Os meios para os quais trabalha decidiram ou fazer a cobertura a partir de França ou enviar alguém para cá. Isso não a impede de acompanhar, porém. Este ano, interessou-se por Mercy, de Madame Monsieur, a candidata do seu país. Nem se lembra de quem cantava no ano passado. Desta vez é diferente. "Gosto da canção, da postura e do conteúdo. Também gosto da italiana", continua, referindo Non mi avete fatto niente, de Ermal Meta e Fabrizio Moro. "É mais perto do estilo de canção de que gosto", afiança.

São ambas sobre temas da actualidade. "Dizem que não são políticas, porque oficialmente não o podem ser, dizem que são temas sociais ou humanistas, mas para mim são canções políticas, dado que tocam no verdadeiro sentido da palavra", continua. Marie-Line Darcy aprecia também a canção portuguesa, porque "tem um je ne sais quoi bastante agradável", mas aposta, "é a França que vai ganhar."

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