A EDP precisa de uma luz

Talvez esta OPA seja, em si, o anúncio de uma oportunidade para a EDP. Pelo menos de uma clarificação.

A EDP já não é do Estado, o seu capital já nem está por cá. Mas a EDP ainda está entre as maiores empresas portuguesas: é valiosa, tem boa parte da sua operação fora do país, está num mercado determinante para o presente e o futuro da economia.

Mas a EDP tem vivido num autêntico turbilhão. Como agora se torna evidente, a guerra accionista na empresa não foi estancada com a recente reeleição de António Mexia, por mais esmagadora que tenha sido a votação. Tão-pouco poderia ser resolvida com a entrada de um eminente socialista na sua estrutura de topo.

A verdade é que esta guerra é indissociável de um outro problema: a investigação judicial em curso a António Mexia (a que se juntam entretanto novos cruzamentos com o caso de Manuel Pinho). Sobre estes casos sabe-se pouco para tirar conclusões. Mas é evidente que eles não permitem à EDP ter o sossego de que uma multinacional precisa (e todos sabemos como tem sido difícil que as investigações judiciais em Portugal tenham desfechos rápidos, como sublinhava o presidente Marcelo na entrevista desta semana ao PÚBLICO e à Renascença).

Na frente política, o ambiente não é mais pacífico. O primeiro-ministro tem criticado recorrentemente as “manhas” da empresa; os parceiros deste Governo não perdem uma oportunidade para pôr pressão para um corte sobre as ditas “rendas excessivas”; e, agora, com a mudanças no PSD, até à direita o discurso mudou, tornando bem mais duradouro o risco de uma grande empresa de costas voltadas para o poder político. E a verdade é que, num país tão pequeno como Portugal, nenhuma grande empresa tem conseguido viver assim — mesmo sem ter capital público.

Veja um sinal disso: por coincidência, o anúncio de uma OPA surge precisamente no dia em que os deputados aprovaram um inquérito parlamentar às “rendas” no sector da energia. E, registe, aprovaram-no por uma raríssima unanimidade.

É neste contexto, portanto, que aparece o anúncio desta OPA chinesa sobre a maioria do capital da EDP. Neste contexto e, já agora, no de um provável movimento de concentração no sector, que tanto tem agitado a Europa política e o mundo financeiro. 

Por tudo isto, talvez esta OPA seja, em si, o anúncio de uma oportunidade para a EDP. Pelo menos de uma clarificação. Porque no meio de tantos problemas, o pior que a empresa portuguesa pode ter é um equívoco interno. Com isso o país também não ganha nada.

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