Há um novo espaço cultural envolto pela natureza e pela comunidade

O Fauna vai funcionar numa quinta antes desactivada, na vila de Joane, e apresentar propostas culturais que estejam vinculadas ao meio natural envolvente. Com programação definida até Julho, o projecto do Teatro da Didascália quer cultivar uma ligação estreita com o público.

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Câmara Municipal de Famalicão

O novo pólo cultural de Famalicão ganha vida com a criação artística, com os espectáculos, mas também com o próprio lugar que o acolhe – a Quinta da Bemposta. Entre os plátanos, os castanheiros e os carvalhos que ladeiam o Rio Pele, ouve-se o grasnar dos patos e o coaxar das rãs. Também eles são actores na mistura de biodiversidade, paisagem e arte que alimenta o Fauna, projecto concebido pelo Teatro da Didascália, apresentado nesta sexta-feira.

Instalada há dez anos naquela vila, um dos núcleos mais populosos do concelho – 8.089 habitantes, em 2011 -, já encostado a Guimarães, a companhia vai organizar espectáculos tanto em espaço exterior, como em espaço interior, graças à transformação de um antigo salão para casamentos numa “black box”.

Para o director artístico, Bruno Martins, o espaço é uma oportunidade de diálogo mais íntimo com aquela comunidade do Vale do Ave, até pelo contexto informal da sua criação. “Queremos que este local se torne num espaço de criação artística pessoal, que possa ser apropriado pelo público e não seja simplesmente um espaço de passagem institucional”, realça ao PÚBLICO.

Apoiado pelo município de Famalicão e pela Direcção-Geral das Artes, o Fauna já traçou o seu programa até Julho. O diálogo entre arte e natureza será notório em Mater, um ciclo de seis concertos no campo da música experimental, que decorre de Junho até Dezembro, com alusão aos cinco elementos do naturalista chinês Tsou Yen – terra, madeira, água, fogo e metal. “É um ciclo pensado para dialogar com o espaço natural do espaço Fauna e que terá apresentações não só no espaço físico da sala, como no espaço exterior”, diz Bruno Martins.

A outra iniciativa de raiz, “Música da Época”, arranca também em Junho e funde a cozinha e a música num só momento cultural, agendado para o primeiro domingo de cada mês. “Os músicos farão a música em função do que está a ser cozinhado, mas também a cozinha vai funcionar segundo os estímulos musicais”, explica o director do Teatro da Didascália, realçando a intenção de promover alimentos produzidos localmente.

O Fauna entra, porém, em actividade já na próxima semana com uma ideia que a companhia estreou no ano passado: os Territórios Dramáticos. De 18 a 25 de Maio, a quinta vai ser “uma espécie de observatório da dramaturgia nacional”, segundo dois eixos: “o Reescrita da História, ligado à memória colectiva e às experiências de vida, e o Teatro Fora do Formato, com propostas difíceis de catalogar”, descreve Bruno Martins.

Criado há uma década, o Teatro da Didascália continua a apresentar as suas encenações por todo o país, mas já alargou a sua presença a outros territórios como o novo circo, graças ao Vaudeville Rendez-Vous – a quinta edição decorre no mês de Julho, em Famalicão, Braga e Guimarães -, e à tradição oral, com os Contos d’Avó, iniciados em 2013.

Presente na cerimónia de apresentação, o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha, enalteceu a qualidade do projecto, por garantir o apoio da Direção-Geral das Artes num “contexto de contracção”, e ainda a capacidade do Teatro da Didascália para manter a ligação às raízes, apesar do seu trabalho chegar já a todo o país. “Os projectos culturais não têm de estar sediados nas capitais de distrito ou na capital do país. É possível ir-se longe a partir de uma vila em Famalicão, resistindo às tentações de se mudarem”, disse.

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