Uma associação de mulheres está a inovar nas respostas à população LGBTI

Associação Plano I ainda não tem três anos e já lançou diversos projectos de apoio a pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e intersexo.

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A socióloga Sílvia Gomes faz parte do grupo que criou a organização Dato Daraselia

Chama-se Associação Plano I. Que organização é esta que foi fundada por cinco mulheres e, em menos de três anos, criou o primeiro centro de respostas à população lésbica, gay, bissexual, transgénero e intersexo (LGBTI) do Norte, a primeira unidade móvel LGBTI e o primeiro centro de acolhimento de emergência LGBTI do país e um Observatório da Violência no Namoro?

Há anos que Sofia Neves – professora auxiliar no Instituto Universitário da Maia e investigadara do Centro Interdisciplinar de Estudos de Género do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa – desejava formar uma organização sem fins lucrativos que pudesse contribuir para a promoção dos direitos humanos. Em 2015, achou que tinha, por fim, “o conhecimento teórico, a experiência empírica, o compromisso político e a vontade apaixonada e cúmplice de pessoas que estavam dispostas a mover-se pelas causas em que acreditam”.

Desafiou quatro mulheres que admira: a socióloga Sílvia Gomes e as psicólogas Paula Allen, Ariana Pinto Correia, Márcia Machado. Tudo mulheres com quem tinha “relações de aliança e cumplicidades ideológicas que sabia poderem ser a base do que queria construir: uma associação voltada para as pessoas e para os grupos mais vulneráveis, ancorada no empowerment”.

Outras seis mulheres juntaram-se àquelas cinco. O que motivava cada uma delas, para lá da ligação à ideóloga? “O grupo que foi constituído desde a formação é interdisciplinar", responde, por exemplo, Sílvia Gomes. A associação seria uma "plataforma importante para poder aplicar os conhecimentos [teóricos e científicos] a partir de projectos de intervenção na comunidade”.

Cada uma ao seu modo, conhecia as dores dos grupos sociais mais vulneráveis. E idealizavam uma intervenção destinada a prevenir e combater a discriminação e a violência baseadas no género, na orientação sexual e na pertença étnica.

Não foi por acaso que se fixaram no apoio à população LGBTI e no combate à violência no namoro. “Quando solicitamos apoio à Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade foi-nos proposto que desenvolvêssemos projectos nestes dois campos”, torna Sofia Neves. Avançaram, no final de 2016, para um Programa de Prevenção da Violência no Namoro em Contexto Universitário. E, no início de 2017, para o Centro Gis. 

“O percurso tem sido meteórico”

Sofia Neves nem imaginava o que ia acontecer. “Queríamos apenas existir e sobreviver, tornando algumas acções possíveis, não antecipando este crescimento”, admite. “O percurso da Plano I tem sido meteórico, no melhor dos sentidos.”

O que explica um crescimento tão rápido? Para lá da preparação técnica, a ideóloga da Plano I destaca as sinergias que foram sendo capazes de estabeler.  “Somos uma equipa que é uma família na verdadeira acepção do termo - estruturada, sólida e apoiante”, diz. “Vivemos um clima de confiança e de entreajuda com os nossos parceiros”, prossegue. “Temos o apoio e o carinho das pessoas para as quais existimos. Beneficiamos de financiamentos públicos e, pontualmente, de outras entidades e pessoas que acreditam em nós”, remata.

A associação tomou conta das vidas de duas fundadoras. Paula Allen assumiu a coordenação geral dos projectos da área LGBTI. E Ariana Correia Pinto a do Programa de Prevenção da Violência no Namoro em contexto universitário, actividade que deixou em Fevereiro deste ano para se dedicar a tempo inteiro à investigação.

“Não é fácil o trabalho das associações sem fins lucrativos em Portugal”, sublinha Ariana Pinto Correia. “Estar no terreno permite-nos ver as necessidades prementes de forma amplificada e sabemos que há sempre mais e mais por fazer.” 

Não têm parado. “Demos formação a mais de um milhar de pessoas, entre estudantes, assistentes operacionais e docentes, com graus muito diversos de informação sobre a temática, publicamos o estudo nacional, estando já com nova recolha de dados em acção para divulgação no próximo e o Observatório da Violência no Namoro continua a receber denúncias”, enuncia. "E claro, o Gis – Centro de Respostas LGBT tem superado todas as expectativas."

Texto corrigido às 12h desta sexta-feira: Ariana Correia Pinto deixou em Fevereiro a coordenação do Programa de Prevenção da Violência no Namoro em contexto universitário.

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