Cortes salariais dos gestores do BCP compensados com pensões extras de cinco milhões

O BCP vai destinar 4,9 milhões de euros para complementar as pensões dos oito administradores executivos cujo mandato agora terminou, e que os receberão, assim que se reformarem, a título de compensação pelos cortes salariais aplicados no período em que o banco recebeu ajuda pública.

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LUSA/NUNO FOX

Na convocatória da assembleia geral, agendada para 30 de Maio, o BCP informa que o conselho de remunerações e previdência irá propor aos accionistas que aprovem o pagamento de uma contribuição extraordinária para os fundos de pensões dos administradores executivos que desempenharam funções no mandato 2015/2017. Essa compensação será no montante total, e único, de 4,920 milhões de euros.

Entre os beneficiários estão o ainda presidente executivo Nuno Amado, o vice-presidente Miguel Maya, o CFO Miguel de Bragança e os vogais João Nuno Palma, Rui Teixeira e José Miguel Pessanha, José Iglésias Soares e Maria da Conceição Callé Lucas (os dois últimos não são reconduzidos na comissão executiva). Caso a proposta seja aprovada, será o conselho de remunerações a decidir que parte irá receber cada gestor, consoante o tempo de mandato e o salário fixo que auferiu.

A contribuição extraordinária, que se somará às pensões normais dos executivos do BCP, será paga assim que estes se reformarem, o que podem fazer, actualmente, a partir dos 66 anos e quatro meses.

A decisão de atribuir uma quantia extra a este grupo de executivos visa compensá-los dos cortes salariais a que estiveram sujeitos durante o período em que o BCP recebeu ajudas do Estado que limitavam a política de remuneração. Com o auxílio público os vencimentos sofreram um corte médio de 22%.

Em 2017, a equipa de gestão chefiada por Nuno Amado recebeu uma remuneração total (em termos brutos) de 3,779 milhões de euros, o que traduz um acréscimo acentuado de 81,7% face ao auferido em 2016.

Uma fonte do BCP fez questão de esclarecer ao PÚBLICO que os 4,9 milhões de euros são “uma contribuição única”, que visa apenas o  reforço do complemento da pensão que cada gestor executivo irá receber, quando se reformar, correspondendo a um valor médio mensal estimado de cerca 1812 euros, ou seja, a pensão extra não será igual para todos, na medida em há executivos que assumiram o cargo a meio do mandato.

O mesmo responsável esclareceu ainda que a medida não tem por objectivo compensar os actuais executivos pela “situação de desvantagem em que possam estar” face aos gestores de grupos concorrentes.

A convocatória da assembleia accionista avança com os nomes indicados para ocuparem os órgãos sociais do BCP, no próximo mandato, e que são propostos pelo grupo chinês Fosun, com uma posição de 27,06%, pela petrolífera angolana Sonangol, que possui 19,49 % do capital, e pelo Fundo de Pensões do Grupo EdP, com 2,11%.

Da anterior gestão executiva saem José Iglésias Soares e Maria da Conceição Callé Lucas e entra Maria José Campos (quadro do BCP, ligada ao banco Millennium na Polónia). Já Nuno Amado é proposto para liderar o conselho de administração e Miguel Maya é quem o irá substituir à frente da comissão executiva.

Na lista para a administração não executiva do BCP a ausência mais notada é a de António Mexia, que esteve a representar o Fundo de Pensões dos trabalhadores da EDP ao longo de 12 anos. O excesso de mandatos cumpridos no banco, desde 2006, e o aparecimento do seu nome em processos judiciais abertos pelo Ministério Público levaram o BdP e o BCE a levantar obstáculos à sua continuidade.

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