Crowdfunding quer travar doenças renais em São Tomé e Príncipe

Os nefrologistas da associação Kidney Care 4 All voltaram a São Tomé e Príncipe para continuarem o projecto que começaram em Fevereiro. Querem angariar 5200 euros através de "crowdfunding"

Em Fevereiro, na primeira missão, os dois médicos da associação rastrearam 853 pessoas em dez dias DR
Fotogaleria
Em Fevereiro, na primeira missão, os dois médicos da associação rastrearam 853 pessoas em dez dias DR
  DR
Fotogaleria
DR

Na primeira missão em São Tomé e Príncipe, em Fevereiro, os médicos nefrologistas portugueses da associação Kidney Care 4 All rastrearam 853 pessoas em quatro dias. “Foi um começo, quase 0,5% da população do país”, relembra Teresa Santos, 35 anos, uma das médicas da associação que este mês está de volta à cidade de São Tomé para “sensibilizar a população e os profissionais de saúde para estratégias de prevenção e diagnóstico de doenças renais”. E qualquer pessoa pode ajudar através da campanha de crowdfunding  — mas já lá vamos. 

A segunda fase do projecto está agora a decorrer e envolve cinco médicos especialistas em doença renal dos hospitais de Braga e de Matosinhos. O objectivo é seguir os 120 pacientes que, no rastreio anterior, apresentaram factores de risco de doença renal crónica. “Desta vez vamos levar meios laboratoriais porque vimos que um grande défice é não termos análises. Vamos continuar a formação nos hospitais e alargá-la a todos os cuidados de saúde primários, a todos os distritos, mantendo o rastreio para identificar mais doentes, principalmente em distritos que não rastreamos da primeira vez”, explica.

No local têm uma médica parceira do Hospital Ayres Menezes que fomentou a cooperação entre o Ministério da Saúde de São Tomé e Príncipe e a associação portuguesa. “É um projecto em desenvolvimento e esperemos que continue daqui para a frente. A Sociedade Internacional de Nefrologia tem muito mais contacto com países anglo-saxónicos e pouco contacto com os países de língua portuguesa e, por isso, não tem desenvolvido projectos lá", relata. É para colmatar esta situação que a equipa está de regresso. “O país não tem técnicas de substituição da função do rim (como a hemodiálise). O que é que isto quer dizer? Quando o rim pára, os doentes morrem”, diz ao P3 a médica, um dia antes da partida.

Foto
Os dois médicos portugueses com médicos são-tomenses, na primeira missão DR

Na primeira vez, os dois voluntários cobriram os custos de viagem, estadia e deslocações, mas, para continuarem a iniciativa de “forma sustentável”, além do material médico e laboratorial já cedido por alguns parceiros, estão à procura de apoios para a segunda intervenção. Para isso, criaram uma campanha de crowdfunding que pretende angariar 5200 euros até 15 de Dezembro. A dez dias do final, já conseguiram 71% do valor pedido. Caso a campanha supere os 75%, a missão pode estender-se também à ilha do Príncipe.

Um problema de saúde pública

No primeiro rastreio realizado pelos nefrologistas portugueses foi identificado “um importante problema de saúde pública: a hipertensão arterial, uma das maiores causas de insuficiência renal no mundo”, alerta Teresa Santos.“Na África subsariana as doenças renais são a terceira causa de morte que mais cresceu nos últimos 20 anos”, diz, “ficando só atrás da infecção VIH e da Diabetes Mellitus”.

Não só os preocupam "os doentes jovens que têm de abandonar o país para serem tratados", como os "doentes com insuficiência renal aguda, que só precisam da técnica como ponte até recuperarem a função renal e que, muitas vezes, morrem por desidratação, quando chega ao ponto em que já não é reversível”, avisa a médica.

O principal objectivo da associação de saúde renal, ainda distante, é “iniciar a hemodiálise ou a diálise peritoneal no país, nomeadamente para acabar com as mortes por insuficiência renal aguda que acontecem essencialmente em pessoas jovens”, diz. Aquando a primeira missão, os médicos destacaram o caso de uma mulher de 23 anos com insuficiência renal terminal que teve de vir viver para Portugal de modo a ter acesso à diálise. "Até o país ter a técnica implementada, ela não pode voltar. E isso vai ter de mudar."

Sugerir correcção
Comentar